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"Contra tudo e contra todos": Oposição contesta passaporte sanitário em debate parlamentar na França

Governistas e oposição travam uma batalha feroz há 48 horas para aprovar na Assembleia Nacional francesa, em regime de urgência, o projeto de lei que institui a apresentação de passaporte sanitário em locais de afluência de público e torna obrigatória a vacinação contra a Covid-19 para profissionais de saúde, cuidadores de idosos e bombeiros. O ministro da Saúde, Olivier Verán, disse que "o vírus tomaria uma cervejinha" se assistisse ao debate dos parlamentares.

O ministro da Saúde, Olivier Verán, defende no plenário da Assembleia Nacional o projeto de lei que instaura o passaporte sanitário e outras medidas para frear a quarta onda da pandemia de coronavírus na França.
O ministro da Saúde, Olivier Verán, defende no plenário da Assembleia Nacional o projeto de lei que instaura o passaporte sanitário e outras medidas para frear a quarta onda da pandemia de coronavírus na França. REUTERS - PASCAL ROSSIGNOL
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Partidos de oposição apresentaram 1.100 emendas ao projeto do Executivo. Com isso, o debate se eterniza na Assembleia, enquanto as contaminações pela variante Delta aumentam a uma velocidade galopante. A França tem registrado diariamente mais de 20 mil novos casos de Covid-19. O número de infectados foi multiplicado por dez em uma semana. 

Desde quarta-feira (21), a apresentação do passaporte sanitário (documento que comprova o teste de Covid negativo com 48 horas de validade ou o atestado de vacinação completa) entrou em vigor para a entrada em cinemas, museus, teatros, shoppings, academias de ginástica, parques de diversão, zoológicos e outras atrações. Dia 1° de agosto, o passe sanitário será exigido em restaurantes, nos transportes aéreo, ferroviário e rodoviário.

A exigência do documento digital ou impresso em locais abertos é considerada exagerada por alguns deputados. Muitos não concordam com os valores das multas fixadas pelo governo em caso de infração dos comerciantes no controle dos clientes na entrada dos estabelecimentos.

O ministro da Saúde, Olivier Verán, contra-argumentou que “com a variante Delta, quando se está infectado, a pessoa cospe o vírus o tempo todo”. Verán citou um estudo recém-publicado pela revista científica Nature, que atesta uma contagiosidade extremamente elevada com a variante identificada na Índia em todas as circunstâncias: "uma carga viral dez vezes maior e à potência 3", enfatizou.

Verán acusou a oposição de "frear" a tramitação do projeto destinado a proteger a população e evitar um novo fechamento da economia devido à quarta onda da pandemia. "Governar implica escolher", destacou o ministro diante dos deputados, antes de acrescentar em tom irônico: "Se o vírus pudesse nos ver, ele tomaria uma cervejinha". 

Segundo uma pesquisa recente do instituto Odoxa, a maioria dos franceses (58%) é a favor da imunização obrigatória contra a Covid-19. O governo acreditava que ante a chegada da quarta onda e o apoio da opinião pública, a votação no Parlamento seria consensual. Mas o que se vê na Assembleia Legislativa é uma batalha política a nove meses da eleição presidencial de 2022. Tanto o presidente Emmanuel Macron, quanto o primeiro-ministro Jean Castex e o ministro da Saúde são acusados de tomarem decisões sem negociar com a oposição. 

Socialistas defendem vacinação obrigatória para todos os adultos

No plenário da Assembleia, deputados de direita, socialistas, comunistas e da esquerda radical apontam incoerências no projeto de lei. Os socialistas rejeitam o passaporte sanitário e defendem que a imunização contra o coronavírus se torne obrigatória para todos os adultos até 1° de outubro. 

A direita republicana quer flexibilizar algumas medidas, propondo emendas que enfraquecem o dispositivo sanitário. Deputados do partido conservador Os Republicanos defendem que apenas uma dose da vacina seja suficiente para a entrada em locais fechados. Mas estudos científicos já comprovaram que a proteção imunológica contra a variante Delta exige as duas doses da vacina. 

Deputados comunistas e da sigla de esquerda radical A França Insubmissa caminham para uma rejeição total do projeto, por considerar que as propostas "violam as liberdades individuais" dos franceses. 

Na quarta-feira, após 10 horas de debate e análise de 300 emendas, apenas uma modificação foi validada. A exigência do passaporte sanitário para a faixa etária de 12 a 17 anos foi adiada para o fim de setembro. O governo havia proposto a data de 30 de agosto.

Por enquanto, o número de internações permanece em queda. O ministro da Saúde advertiu, no entanto, que se trata de um efeito temporário, já que 5 milhões de franceses com comorbidades ainda não se vacinaram e a variante Delta é extremamente contagiosa. Nos últimos sete dias, 1.550 pessoas com a Covid-19 foram hospitalizadas em todo o país, entre elas 300 em UTIs, contra respectivamente 750 e 150 há duas semanas. 

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