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Quarta onda de Covid na França pode ter crianças e adolescentes como vetores, aponta estudo

O Instituto Pasteur divulgou nesta semana um relatório sobre a evolução da epidemia de Covid-19 no país a partir de setembro, em função da taxa de vacinação parcial e da flexibilização das medidas de proteção. A França iniciou, nessa quarta-feira (30), a última fase de reabertura após meses de lockdown.

Sem vacina, crianças podem ser vetores da transmissão da variante Delta na França em setembro; protocolos mais rígidos nas escolas podem ser necessários
Sem vacina, crianças podem ser vetores da transmissão da variante Delta na França em setembro; protocolos mais rígidos nas escolas podem ser necessários © REUTERS - GONZALO FUENTES
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Taíssa Stivanin, da RFI

A epidemiologia do SARS-Cov-2 deve mudar em relação ao período anterior à campanha de vacinação, revela o estudo. A análise se baseia em um cenário ainda hipotético, que considera que 30% da população entre 12 e 17 anos, 70% na faixa entre 18 e 59 anos e 90% entre os maiores de 60 anos, esteja completamente imunizada.

Uma das conclusões da pesquisa é que, sem medidas de controle, as crianças e adolescentes poderão ser responsáveis por metade das contaminações, apesar de representarem apenas 22% da população. Esta tendência seria observada a partir do início do ano letivo na França, em setembro, quando a Delta será dominante no território. 

O relatório destaca "que a situação de crianças e adolescentes deve ser considerada com atenção especial". Em caso de retomada epidêmica no outono europeu, medidas de controle nas escolas poderão ser necessárias para reduzir o risco de tensão hospitalar, diante do provável aumento de casos gerado pela expansão da cepa Delta, mais contagiosa.

O documento destaca que a cobertura vacinal insuficiente da população francesa, apenas cerca de 50% recebeu a primeira dose --o que não protege contra a Delta--, pode acarretar uma onda de contaminações nas crianças e adolescentes não-vacinados e gerar a necessidade da adoção de um protocolo sanitário mais rígido nos estabelecimentos escolares.

Por isso o relatório do instituto Pasteur mostra que é importante desenvolver protocolos de controle da circulação viral nas escolas, "que limitem, na medida do possível, o fechamento de salas de aula". Na França, a máscara é obrigatória a partir dos seis anos, mas não há limite para o número de alunos em uma classe ou espaçamento entre as carteiras.

"A vacinação das crianças e dos adolescentes deverá permitir um retorno à vida normal", destaca o documento.

Em março, a Moderna anunciou o lançamento de testes clínicos de seu imunizante em crianças. No total, 6.750 crianças entre 6 meses e 11 anos participarão dos estudos nos Estados Unidos e no Canadá. Uma semana depois, a Pfizer fez um anúncio similar. Os primeiros resultados devem ser divulgados no segundo semestre, e a expectativa é que um imunizante possa estar disponível até o início de 2022.

A vacina da Pfizer foi autorizada para adolescentes a partir de 12 anos em maio e está disponível na França desde o dia 15 de junho. Mas ainda há pouca adesão e muitos pais estão reticentes em imunizar os filhos. Um dos motivos é o fato de que as crianças desenvolvem poucas formas graves e correm menos risco de contaminação. A informação encontra principalmente embasamento em estudos sobre a cepa histórica, que apareceu em Wuhan, na China. Mas ainda faltam dados em relação a novas variantes, principalmente a Delta.

Restrições para não-vacinados

O documento conclui também que os adultos que não se vacinaram contribuirão para a pressão hospitalar em caso de retomada epidêmica. Na hipótese modelizada pelo instituto, as pessoas não vacinadas de mais de 60 anos representam 3% da população, mas representam 35% das hospitalizações. Além disso, as pessoas não-vacinadas contribuem para a transmissão de uma maneira desproporcional, diz o estudo. Elas têm 12 vezes mais risco de transmitir o SARS-Cov-2 que uma pessoa imunizada.

O epidemiologista francês Arnaud Fontanet, membro do Conselho Científico francês, grupo de especialistas criado para aconselhar o governo durante a epidemia, é um dos epidemiologistas que assina a pesquisa. Em entrevista ao canal de televisão francês BFMTV nesta quarta-feira (30), ele disse que a variante Delta deverá ser responsável por 80 a 90% das contaminações até o final de agosto, mas lembra que a eficácia da vacina da Pfizer, por exemplo, é estimada em 95% contra formas graves e hospitalizações, além de agir contra a transmissão. A aceleração da campanha, desta forma, é fundamental para lutar contra a epidemia, ressaltou.

O relatório do instituto Pasteur ainda conclui que o uso da máscara e o distanciamento social têm um impacto na evolução da epidemia apenas entre pessoas que ainda não foram vacinadas. “A adesão dos vacinados a essas medidas traz pouco benefícios extras”, diz o documento, que também faz alusão à adoção de medidas de controle, como o chamado “passe sanitário”, tendo como alvo a população não imunizada.

Isso permitiria, segundo o estudo, maximizar o controle da epidemia minimizando o impacto societal, apesar de “levantar questões éticas e sociais importantes, que devem ser discutidas". A conclusão, evidente, é que a imunização dos não-vacinados é a maneira mais eficaz de controlar a epidemia. A boa notícia, concluem os epidemiologistas do instituto francês, é que o esforço necessário para controlar uma eventual quarta onda será menor que em 2020, antes do início da campanha da vacinação.

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