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Começa na França julgamento de mulher que matou ex-padrasto com quem se casou e que a prostituía

"Eu fazia o que ele dizia. Era melhor", contou Valérie Bacot sobre a difícil convivência com o ex-padrasto, um homem violento que acabou se tornando seu marido e cafetão. O depoimento aconteceu nesta segunda-feira (21), primeiro dia de seu julgamento no tribunal de Saône Et-Loire, região central da França, por tê-lo matado com um tiro na nuca.

O julgamento de Valérie Bacot começou nesta segunda-feira (21) na corte de Saône-et-Loire, no centro da França.
O julgamento de Valérie Bacot começou nesta segunda-feira (21) na corte de Saône-et-Loire, no centro da França. Jeff Pachoud AFP
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Estuprada aos 12 anos pelo padrasto, depois espancada e prostituída. Valérie Bacot é um novo símbolo das vítimas de violência doméstica no país. Aos 40 anos, ela é julgada por ter matado seu algoz.

“No início, fiquei feliz por ele ter voltado”, lembrou ela quando questionada sobre este surpreendente ano de 1997, quando o padrasto retornou à casa da família, após ter sido libertado da prisão por tê-la estuprado quando ela tinha 12 anos. “Ele disse à minha mãe que não faria mais nada”, acrescentou. "Mas começou de novo."

Por mais de duas horas, a mulher de aparência frágil, abalada por soluços e choro, relatou seu "inferno extremo".

Grávida aos 17 anos do padrasto, que tinha 42, ela acabou aceitando viver com o agressor. "Queria ficar com meu filho. Não tinha ninguém. Para onde eu poderia ir?", explica, ao contar por que, apesar de todo o sofrimento, decidiu se casar com o estuprador.

“Sempre quis ter filhos e que eles tivessem um pai”, disse Valérie Bacot, que também sofreu com a ausência do próprio pai. "Então tinha que ser assim," completa.

“Havia amor?” perguntou a presidente do tribunal, Céline Therme. “Sempre fiz o que ele me disse. Só posso responder isso", afirmou. "Ele sempre encontrava algum problema. Não suportava ouvir as crianças chorando. Eu fazia de tudo para acalmá-las, mas é complicado," explicou Bacot.

“No começo, eram bofetadas, depois chutes, socos e até sufocamento. Com o tempo, houve ameaças com uma arma” (uma pistola com a qual Valérie Bacot acabaria matando o marido, Daniel Polette).

Também foi para obedecer ao marido que ela concordou em se prostituir. Ele a chamava de "imprestável" e dizia que vender o corpo seria a única solução para "trazer dinheiro para casa". O homem usava a minivan da família para oferecer sexo com a esposa, por valores entre € 20 e € 50, ao longo de uma estrada.

Em um papelão que bloqueava a janela traseira do veículo, ele havia feito um orifício para  espiar e verificar se ela estava fazendo "a coisa certa". Caso contrário, ele passaria "instruções" para ela através dos fones de ouvido, que ela deveria manter.

Porém, no domingo 13 de março de 2016, ela estava “com dores e sangrava” quando o marido disse que ela deveria atender a um cliente especial, de quem ele mesmo tinha medo. “Tudo o que vivi veio à tona de repente", disse ela, explicando por que agarrou a pistola do marido, escondida no veículo, e disparou contra a nuca dele.

“Mas essa arma, você a trouxe?”, perguntou a presidente do júri. "Eu estava com medo do cliente", respondeu Bacot. “E possivelmente iria usá-la contra Daniel Polette?”, insistiu. A acusada então relata "o grande medo" que teve, naquele mesmo domingo, quando sua filha Karline, de 14 anos, lhe confessou que o pai havia lhe perguntado como ela estava "sexualmente".

“Queria salvá-la”, garante Valérie Bacot, muitas vezes apelidada de “a nova Jacqueline Sauvage”, uma sexagenária condenada por ter assassinado o marido e depois inocentada, em 2016, após relatar a vida de agressões. São as mesmas advogadas que agora defendem Bacot, Janine Bonaggiunta e Nathalie Tomasini.

"Não havia outra solução?", perguntou a presidente do tribunal. "Não sei. Ainda estou procurando a solução," respondeu a acusada.

O julgamento deve durar até sexta-feira (25).

Com informações da AFP

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