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Após 2 anos de greves, camareiras do grupo Accor comemoram vitória trabalhista histórica em Paris

Após dois anos de greve intermitente em frente ao hotel Ibis Batignolles, no leste de Paris, as camareiras conseguiram, entre outras coisas, aumentos salariais significativos por meio de um acordo considerado histórico na França, firmado com a administração da rede hoteleria na segunda-feira (24). O documento deve ser assinado nesta terça-feira (25) e marca uma vitória sem precedentes contra uma das maiores gigantes do setor no país - o grupo Accor.

As camareiras conseguiram aumentos salariais por meio de um acordo com a administração do grupo hoteleiro francês Accor, em 24 de maio de 2021.
As camareiras conseguiram aumentos salariais por meio de um acordo com a administração do grupo hoteleiro francês Accor, em 24 de maio de 2021. AFP - STEPHANE DE SAKUTIN
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A luta das camareiras do hotel Ibis Batignolles, em Paris, vem sendo considerada "emblemática" por vários setores da sociedade civil na França. E um evento extremamente raro pela sua duração: foram 22 meses de luta, incluindo oito meses de greve total. As discussões permaneceram paralisadas por muito tempo, antes que os patrões dessas 20 mulheres cedessem à sua combatividade.

As camareiras denunciam, desde o início de julho de 2019, o tratamento desigual entre elas, empregadas por uma empresa terceirizada de limpeza - o Grupo STN, e os outros funcionários do hotel.

O Ibis Batignolles, o segundo maior hotel da rede na França, com mais de 700 quartos, se tornou, através desta luta, o palco da mais longa disputa já travada pelo sindicato CGT-HPE. A organização conseguiu chamar a atenção do país para as condições degradantes de trabalho das camareiras.

Claude Levy, representante do sindicato, destacou a "coragem" das camareiras em entrevista à RFI nesta terça-feira (25). "Elas retomaram sua dignidade. São mulheres de origem humilde, da África subsaariana, são verdadeiras leoas. Elas conseguiram, além do aumento salarial, uma diminuição do ritmo de trabalho da ordem de 20%, o que lhes possibilita condições de trabalho mais corretas, além da nomeação de duas delas como representantes do sindicato dentro da empresa, o que lhes permitirá um melhor diálogo social", destaca. 

Grupo Accor cedeu

As 20 profissionais obtiveram acréscimos salariais de € 250 a € 500 (R$ 1.625 a R$ 3.250), aumento de qualificações profissionais em contrato e passagem do regime autônomo para período integral remunerado. O ritmo de trabalho de três quartos e meio limpos por hora também foi reduzido para três quartos. A única desvantagem no acordo: quem trabalha para a empresa terceirizada não será integrado como carteira assinada pelos Ibis Batignolles, como as camareiras exigiam do grupo Accor.

Na semana passada, com os bolsos cheios de confete, eles invadiram o lobby do hotel Pullman Tour Eiffel, pertencente ao mesmo grupo. Em dezembro, elas foram à Justiça para exigir sua contratação pelo grupo Accor e denunciar "a subcontratação por discriminação".

Depois de dois anos, diante da multiplicação de greves, protestos e outras ações em frente ao Ibis des Batignolles, a gigante hoteleira resolveu ceder, uma vez que a retomada turística no verão do Hemisfério Norte promete ser crucial para todos os estabelecimentos do grupo.

"O Grupo Accor teve medo que sua imagem fosse definitivamente manchada na França", lembra Claude Levy. "O que nos alegra é constatar que o grupo finalmente entendeu que era impossível continuar com essa situação de trabalho semiescravo na terceirização da mão-de-obra das camareiras", comemorou.

Histórico da luta pelos direitos das camareiras

Desde julho de 2019, os hotéis na França foram marcados por diversos conflitos sociais. Para responder a esta mobilização, a Secretária de Estado para a Igualdade entre Mulheres e Homens da França, Marlène Schiappa, chegou a receber representantes de federações e entidades que empregam camareiras na França. Antes da reunião, os sindicatos se manifestaram, exigindo melhores condições de trabalho, e manifestaram o desejo de serem ouvidos pelo ministério.

Neste momento, as 20 camareiras conseguiram finalmente marcar uma reunião com o escritório de Marlène Schiappa. Entre elas, muitas sindicalistas, que denunciavam a terceirização para empresas de limpeza. Tiziri Kandy, sindicalista da CGT, explicou na ocasião que "as condições de trabalho das camareiras em empresas de limpeza ainda são mais deploráveis ​​do que aquelas que trabalham diretamente em hotéis".

"O dia a dia de uma faxineira que trabalha via terceirização segue um ritmo infernal, que pode ir de 4 a 5,6 quartos por hora. A subcontratação desempenha um papel importante no abismo social e na deterioração das condições de trabalho dos trabalhadores", destacou, em entrevista à RFI.

Na época, Marlène Schiappa afirmou que desejava defender as camareiras, sem apresentar, no entanto, nenhuma proposta concreta. 

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