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Intelectualidade francesa é posta em xeque com acusações de estupro e incesto; governo quer mudar lei

Abalada por uma onda de acusações de estupro, incesto e pedofilia, que levou o diretor do prestigioso Instituto de Estudos Políticos de Paris (IEP) a renunciar na noite desta terça-feira (9), a França ouve as palavras liberadas das vítimas. As autoridades francesas dizem que querem agir "rapidamente" para mudar a lei que pune crimes sexuais contra menores.

Frédéric Mion, ex-diretor da Sciences Po Paris, em 28 de maio de 2013.
Frédéric Mion, ex-diretor da Sciences Po Paris, em 28 de maio de 2013. AP - Charles Platiau
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Frédéric Mion, 51, diretor do Instituto de Estudos Políticos de Paris - conhecido como Sciences Po -, que apresentou sua renúncia na noite de terça-feira, está na berlinda desde o início do "caso Duhamel", no início de janeiro.

De forma mais ampla, o mundo intelectual e artístico francês está abalado por acusações em série contra seus protagonistas, seja por atos de pedofilia ou estupro, na esteira dos movimentos #metoo ou #metoogay.

O cientista político Olivier Duhamel, que renunciou ao cargo de presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas, que supervisiona a Sciences Po, é acusado pela enteada de ter estuprado seu irmão gêmeo quando ele era adolescente. Camille Kouchner, filha do ex-ministro da Saúde Bernard Kouchner, denunciou esses ataques no livro "La Familia Grande", publicado em 7 de janeiro.

Alunos do Instituto de Estudos Políticos criticaram seu diretor por negar ter conhecimento das ações de Duhamel. Depois de expressar seu espanto na época dessas revelações, Mion admitiu ter sido alertado em 2018 por um ex-ministro da Cultura de acusações de incesto contra o cientista político, o que levou a pedidos pela sua renúncia.

“Sinto um grande alívio após seis semanas de mobilização e descoberta de detalhes do caso Mion-Duhamel”, disse o estudante Luka, membro do coletivo “Renúncia Mion”.

Acusações se multiplicam

O livro de Camille Kouchner liberou a palavra sobre o incesto - um assunto tabu - e suscitou muitos testemunhos, especialmente nas redes sociais por meio da hashtag #Metooinceste.

E desde o início do ano, as acusações de estupro ou agressão sexual envolvendo personalidades se sucedem na França, levando à abertura de inquéritos judiciais.

Uma semana após a publicação de "La Familia Grande", a França soube que o artista Claude Lévêque foi acusado por outro artista de agressão sexual na mesma época, contra ele (quando tinha entre 10 e 17 anos) e seus dois irmãos. O artista plástico acusado contesta alegações que considera "difamatórias e caluniosas".

O ator Richard Berry foi alvo no final de janeiro de uma denúncia de sua filha, Coline, por "estupro e agressão sexual", também datada da década de 1980. O ator nega formalmente.

Uma investigação por "estupro de menores" e "cumplicidade em estupro de menores" foi aberta em 21 de janeiro contra o produtor de televisão Gérard Louvin e seu marido, após a apresentação de uma queixa pelo sobrinho do primeiro. O casal "nega veementemente as acusações oportunistas".

Nesta quarta-feira (10), Dominique Boutonnat, presidente do Centro Nacional de Cinema (CNC), foi preso após uma denúncia por agressão sexual e tentativa de estupro de seu afilhado, maior de idade.

Em janeiro de 2020, no livro "Le Consentement" (O Consentimento), a editora e escritora Vanessa Springora descreveu o domínio exercido pelo escritor pedófilo Gabriel Matzneff, com quem, na adolescência, se relacionou.

Este livro já havia provocado um debate social sobre a violência sexual contra menores e a complacência do meio literário parisiense por Matzneff, desde então alvo de uma investigação por estupro de menores.

"Nós acreditamos em você"

Nas últimas semanas, o presidente francês Emmanuel Macron disse que deseja "adaptar" a lei para proteger as crianças vítimas de violência sexual.

No final de janeiro, ele postou um vídeo nas redes sociais, seguido de tuítes direcionados às vítimas: “Vocês nunca mais ficarão só”, garantiu. "Estamos aqui. Estamos ouvindo você. Acreditamos em você", disse Macron. “O silêncio construído pelos criminosos e as sucessivas covardias, enfim, explode”, acrescentou.

O governo francês mostrou esta semana sua disposição para agir "rapidamente" para mudar a lei que pune crimes sexuais contra menores.

Na terça-feira (9), o governo disse ser "a favor" que qualquer ato de penetração sexual cometido por um adulto em um menor de 15 anos constitua automaticamente um crime, sem que seja possível questionar o consentimento da vítima.

É o "ponto de inflexão" da sociedade nessas questões que "nos leva a mudar a lei", disse o ministro da Justiça francês, Eric Dupond-Moretti, ao canal France 2 na terça-feira. “Estamos em vias de quebrar este tipo de cortina de chumbo, em particular ideológica, que proibia a libertação das palavras das vítimas”, frisou.

(Com informações da AFP)

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