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Mais da metade dos franceses é a favor do restabelecimento da pena de morte, afirma estudo

A pena de morte - abolida na França há quase 40 anos - continua a dividir a opinião pública. Uma pesquisa mostra que 55% dos franceses é favorável ao restabelecimento da polêmica lei.

A pena de morte foi abolida em 1981 na França.
A pena de morte foi abolida em 1981 na França. AFP - STEPHANE DE SAKUTIN
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Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos para o jornal Le Monde, a Fundação Jean-Jaurès e o Instituto Montaigne mostra uma percentagem recorde de franceses favoráveis à pena capital, desde que o levantamento começou a ser realizado anualmente, em 2014. Em relação a 2019, houve um salto de 11%. A medida foi abolida em 1981 na França.

As respostas são guiadas pelo posicionamento político e mostram uma clara divisão entre o eleitorado conservador e progressista. Entre os simpatizantes do partido de extrema direita Reunião Nacional, a pena de morte é apoiada por 85% dos entrevistados. Eles são seguidos pelos eleitores do partido de direita Os Republicanos, entre os quais 71% são a favor do restabelecimento da medida. Neste grupo foi registrado um aumento de 23% em apenas um ano.

Já entre os simpatizantes dos partidos A República em Marcha (centro, do presidente Emmanuel Macron), do Partido Socialista (esquerda), do Europa Ecologia Os Verdes, além do partido França Insubmissa (extrema esquerda) e o Partido Comunista, 39% defendem a volta da pena de morte. Uma forte progressão (31%) foi registrada na ala mais radical da esquerda (França Insubmissa e Partido Comunista) em relação ao levantamento de 2019. 

Franceses querem um verdadeiro líder

A pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos também mostrou que 82% dos franceses acreditam que é preciso "um verdadeiro líder para restabelecer a ordem". O aumento em relação a 2019 foi de 3%. 

Entre os maiores defensores desta ideia estão os simpatizantes da extrema direita e direita (97%), mas também da esquerda radical e comunistas (80%). Entre os ecologistas, 71% são a favor da ideia, seguidos pela esquerda (69%) e o centro (67%).

No total, 88% dos entrevistados acreditam que "a autoridade é um valor muito criticado hoje", com um aumento de 5% em relação a 2019. As maiores percentagens estão entre os eleitores da direita (96%), centro (95%) e extrema direita (90%). Mas os resultados também são altos entre os eleitores progressistas: 81% entre os socialistas, 79% entre os ecologistas, e 75% entre os simpatizantes da extrema esquerda e comunistas. 

Um "endurecimento" da sociedade

Entrevistado pela RFI, o diretor de estudos da Fundação Jean-Jaurès, Jérémie Peltier, acredita que os resultados mostram um "endurecimento da sociedade francesa". "Há um elemento estrutural, relacionado à uma guinada à direita da sociedade e a um clima de ansiedade na França. Mas há também um elemento conjuntural, levando-se em consideração que essa pesquisa foi realizada em setembro, depois de um verão marcado por violências no país, como brigas de gangue, um motorista de ônibus agredido até a morte em Bayonne, traficantes de drogas de Grenoble exibindo armas nas redes sociais, etc", afirma.

O especialista também aponta a falta de confiança dos franceses no sistema judiciário. "Há o sentimento de que a Justiça é muito lenta e impotente. Em outras pesquisas que realizamos sobre essa questão, boa parte dos entrevistados expressa sua decepção com o fato de que as penas de prisão não são aplicadas sistematicamente como foram pronunciadas."

Peltier lembra que a pesquisa também mostrou o quanto os franceses são apegados à tradição: 74% afirmam viver com base em valores do passado e 68% pensam que o país era melhor antes. Por isso, o especialista acredita que o governo vai precisar levar em consideração essa angústia crescente entre a população. "Em algum momento, será preciso fazer algo para baixar a temperatura. Esses números devem alertar as autoridades sobre a necessidade de gerenciar a fragmentação e o separatismo que está se instalando na sociedade. Agora é preciso um discurso de unidade e conexão entre as pessoas", avalia. 

*** A pesquisa do Instituto Ipsos para o jornal Le Monde, a Fundação Jean-Jaurès e o Instituto Montaigne foi realizada de 1° a 3 de setembro com 1.030 pessoas com idades a partir de 18 anos.

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