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“O princípio que nos guia se resume a três palavras: viver com o vírus”, diz premiê francês

Em uma coletiva de imprensa destinada a fazer um balanço da situação epidemiológica - num momento em que a França registra 5.429 casos em 24 horas - e preparar os franceses para a volta às aulas e aos escritórios, em 1º de setembro, o primeiro-ministro Jean Castex, o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, e o da Saúde, Olivier Véran, falaram à população em rede nacional na manhã desta quinta-feira (27).

O primeiro-ministro francês Jean Castex na coletiva de imprensa em Paris, em 27 de agosto de 2020.
O primeiro-ministro francês Jean Castex na coletiva de imprensa em Paris, em 27 de agosto de 2020. CHRISTOPHE ARCHAMBAULT / POOL / AFP
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O primeiro a falar foi Jean Castex, afirmando que o vírus está em fase de recrudescência na França, mas não só, e que o governo está em alerta. “Não estamos em situação grave como estávamos em março ou abril. Mas é preciso intervir agora, porque o crescimento pode ser exponencial”, diz ele, mostrando dados atuais sobre a evolução do vírus na Europa e em diferentes departamentos da França.

Regiões como Île-de-France, onde está situada a capital, Paris, e o Grande Leste têm agora, uma taxa de 50 contaminações por 100 mil habitantes e, portanto, são consideradas zonas vermelhas, ou zonas de circulação ativa do vírus. São 21 departamentos nesta situação atualmente. 

Castex lembrou que o vírus voltou a circular ativamente em praticamente toda a Europa e fez questão de citar os exemplos dos Estados Unidos e do Brasil para mostrar que a situação na França não é grave.

Diante dos números, o premiê disse  que o princípio, a lógica que guia o governo francês é “viver com vírus”. “Precisamos continuar ao máximo a viver, trabalhar, nos educar, nos cultivar”, afirmou, lembrando que a partir de agora o ministro da Saúde, Olivier Verán, fará uma avaliação semanal sobre a epidemia.

Para falar da volta às aulas - que na França tem uma amplitude muito maior que simplesmente voltar à escola, mas significa a volta ao trabalho e a reabertura de parte do comércio que fica fechado durante as férias de verão -, Castex voltou a bater na tecla da obrigatoriedade do uso de máscaras para crianças a partir de 11 anos e todos os adultos, no Ensino Médio, Superior e nos locais de trabalho. Apesar da pressão de partidos de esquerda e de direita, o governo se recusou a distribuir gratuitamente máscaras aos estudantes

O primeiro-ministro lembrou também da importância da lavagem constante das mãos e do respeito à distância física.

“Evitemos que vovó e vovô busquem as crianças na escola”

Castex pediu à população nesta volta às aulas: “Evitemos que vovó e vovô busquem as crianças na escola”, pedindo aos pais que deixem seus filhos na escola no horário extraescolar, para proteger os mais idosos, “que podem apresentar formas mais graves - e por vezes letais - da doença”. Pediu também que evitem festas familiares. “O essencial da contaminação se faz nos espaços privados.”

O primeiro-ministro falou que o governo “fará de tudo para evitar um novo confinamento” e que tem uma visão territorial, vendo a situação de cada departamento ou região da França, podendo aplicar medidas locais.

Ele assegurou que o governo francês vai continuar a tratar das consequências sociais e econômicas desta pandemia e falou sobre o plano de estímulo à economia (de € 100 bilhões) que será lançado oficialmente no dia 3 de setembro. “A crise deve ser tratada com solidariedade e escuta humana”, afirmou.

Castex afirmou também que as medidas de ajuda econômicas tomadas no início da epidemia até o fim deste ano serão prolongadas. 

“Sem a escola, as desigualdades aumentam”

Em seguida, o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, tomou a palavra para dizer que a volta às aulas acontecerá como previsto no dia 1º de setembro, apesar da recrudescência da circulação do vírus, e lembrou que “a escola é um elemento essencial para a nossa sociedade, para o nosso futuro e o de nossas crianças”.

“Sem a escola, as desigualdades aumentam”, disse o ministro, defendendo que a prevenção deve estar na base desta volta às aulas. Se casos aparecerem na escola, ele disse que o governo está pronto para testar, isolar a pessoa doente, fazer uma pesquisa para ver quem esteve em contato próximo e fornecer educação à distância para estes grupos.  

Por fim, o ministro da Saúde, Olivier Verán, falou sobre “o esforço sem precedentes” que a França tem feito diante desta pandemia de Covid-19 e que, nesta semana, o país ultrapassou a meta que o ministério havia instituído de realizar 700 mil testes por semana, tendo realizado 840 mil. “A meta agora é de 1 milhão de testes semanais”, afirmou, confirmando a importância de “caçar” o vírus.

Verán lembrou, mais uma vez, da responsabilidade individual e coletiva dos cidadãos e do fato que todos, incluindo o governo, devem proteger as pessoas vulneráveis ou em situação de precariedade.

O ministro da Saúde disse que a França está preparada para a segunda onda e que o país dispõe agora de 12 mil leitos de reanimação, o dobro do que dispunha no início da pandemia. Ele falou também da estratégia de pedido antecipado de vacinas junto aos diferentes laboratórios, enquanto elas ainda estão em fase de testes, para garantir que a população francesa tenha acesso à vacina quando ela estiver disponível, o que pode ocorrer no final deste ano ou início de 2021. “O tempo da pesquisa médica e científica não é o tempo da política”, disse ele, que é médico neurologista.

Por fim, Verán falou também da importância da inovação no ramo da saúde, que esta crise sanitária gerou, como no diagnóstico - os testes salivares, que podem vir a ser implantados -, na prevenção - as vacinas que estão em fase de desenvolvimento - e também no caso dos tratamentos, citando, em especial, a dexametasona, um corticosteroide usado para aliviar inflamações que tem dado bons resultados em tratamentos de casos graves da Covid-19 na França.

Em seguida, a entrevista foi aberta para perguntas do público, primeiro os internautas, via Facebook, e depois alguns dos jornalistas presentes, nesta coletiva que durou quase 2 horas. 

Ao mesmo tempo em que a coletiva de imprensa acontecia em Paris, direto do Matignon, sede do governo francês, uma outra coletiva acontecia em Marselha, com a presença da prefeita da cidade e do Professor Didier Raoult, médico polêmico e controverso que ficou famoso por promover a hidroxicloroquina durante o auge da pandemia, em abril.

 

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