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Macron perde maioria absoluta no Parlamento francês

O partido da maioria no poder, A República em Marcha (LREM, na sigla em francês) se recusa a falar em cataclismo, mas o símbolo é forte: partidários ou ex-partidários do presidente Emmanuel Macron lançaram nesta terça-feira (19) um novo grupo parlamentar na Assembleia Nacional, a Câmara dos Deputados francesa. Batizado de Ecologia, Democracia, Solidariedade, o movimento dissidente priva o partido governista de sua maioria absoluta na casa a dois anos do fim do mandato de Macron.


A Assembleia Nacional francesa em 3 de março de 2020.
A Assembleia Nacional francesa em 3 de março de 2020. REUTERS/Benoit Tessier
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O Ecologia, Democracia, Solidariedade se define como "independente" e é composto por 17 deputados. A maioria deles foi eleita pelo LREM, partido fundado por Emmanuel Macron em abril de 2016, quando ele lançou sua candidatura à presidência francesa. Mas o novo grupo conta também com o apoio de uma ex-ministra socialista da Ecologia, Delphine Batho. Entre seus integrantes mais populares está o ex-candidato dissidente do LREM à prefeitura de Paris, Cédric Villani.

O partido de Macron tinha 314 membros após as eleições de 2017, mas vinha perdendo parlamentares, especialmente de centro esquerda, devido à corrosão da popularidade governamental com as polêmicas reformas econômicas e sociais. Com a criação do novo grupo, a bancada governista passa a ter 288 deputados, um a menos que a maioria absoluta de 289.

Apesar do simbolismo, na prática o LREM continua contando com o apoio de deputados de outros partidos de centro e não terá problemas para aprovar os projetos governamentais. Também pode recuperar rapidamente a maioria perdida com a chegada de um suplente para a vaga de um deputado que renunciou recentemente.

Transformação social e ecológica

O Ecologia, Democracia, Solidariedade deseja, de acordo com sua declaração política, contribuir para a realização de uma "forte transformação social e ecológica". Para os fundadores da nova bancada parlamentar, "após a Covid-19, nada deve ser como antes". 

O grupo será codirigido por Matthieu Orphelin, discípulo do ex-ministro da Transição Ecológica de Macron, Nicolas Hulot — que pediu demissão do governo em 2018 —, e por Paula Forteza, próxima de Villani.

O presidente da Assembleia Nacional, e um dos líderes do LREM, Richard Ferrand, ironizou essa "tribulação da vida parlamentar". Segundo ele, "a maioria continua sendo maioria", principalmente graças aos 46 deputados do partido centrista MoDem.

Dissidência é “traição”

Mas nem todos mantêm a mesma serenidade. Um deputado do partido governista, que pediu anonimato, considerou em entrevista à agência Reuters, a dissidência uma "traição" e um ato "perigoso" neste momento em que a França atravessa um período de grande turbulência econômica e social provocada pela epidemia de coronavírus.

Outro político da legenda de Macron disse "compreender o desejo deles de abandonar o partido em função de suas regras de funcionamento", mas julga "essa iniciativa isolada contraprodutiva neste momento". O LREM é criticado por seu funcionamento vertical, que deixa pouco espaço para debates.

A formação do Ecologia, Democracia, Solidariedade era pensada há um ano. O grupo informou o presidente Emmanuel Macron em março de sua intenção e formalizou a criação da bancada nos últimos dias, apesar das pressões exercidas pelo Executivo para que abandonassem o projeto, relataram seus fundadores.

"Não há neste grupo ressentidos ou decepcionados, mas deputados que querem trabalhar para superar uma oposição estéril ", esclareceu Hubert-Julien Laferrière durante uma coletiva de imprensa. "Nenhum de nós aqui traiu as promessas de 2017. Foi a maioria no poder que se distanciou desses compromissos eleitorais", apontou o deputado.

Outro dissidente, Aurélien Taché, considera urgente acelerar as medidas para atender os anseios da população para não favorecer o partido de extrema direita, União Nacional, nas presidenciais de 2022.

Em 2017, a candidata e líder da sigla, Marine Le Pen, ficou em segundo lugar. A líder já lançou sua candidatura para as próximas eleições.

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