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Um pulo em Paris

Candidato de Macron à prefeitura de Paris é derrubado pelo novo site "Pornopolítica"

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O candidato do partido do presidente Emmanuel Macron à prefeitura de Paris, Benjamin Griveaux (A República em Marcha – LREM), renunciou à disputa nesta sexta-feira (14), depois da divulgação de vídeos de conteúdo sexual na internet. Imagens e prints de mensagens de celular revelam que ele mantinha uma relação extraconjugal. O material foi divulgado pelo site "Pornopolítica", criado por um ativista russo que recebeu asilo político em Paris, em 2017.

Benjamin Griveaux durante a coletiva em que renunciou concorrer à prefeitura de Paris, nesta sexta-feira (14°.
Benjamin Griveaux durante a coletiva em que renunciou concorrer à prefeitura de Paris, nesta sexta-feira (14°. LIONEL BONAVENTURE / AFP
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O escândalo abala a campanha municipal e levanta questionamentos sobre o papel das redes sociais no processo político. Griveaux, 42 anos, deputado da Assembleia Nacional, ex-ministro e ex-porta-voz do governo, teve divulgadas imagens em que aparece se masturbando e trocando mensagens de conteúdo sexual com uma amante. Casado, pai de três filhos, ele não negou a autoria dos vídeos e das conversas, preferindo renunciar para proteger sua família.

"Minha família não merece isso. Ninguém deveria ser alvo de tanta violência", afirmou Griveaux em coletiva de imprensa nesta sexta-feira. "Um novo limite foi ultrapassado. Sites realizaram ataques absurdos questionando minha vida privada", declarou o deputado, um dos principais aliados de Macron.

O que causa surpresa no caso é a descoberta do site “Pornopolítica”, fundado pelo artista russo Piotr Pavlenski, de 35 anos. Contestador, ele se declara um opositor do governo russo e, agora, do governo Macron.

Piotr Pavlenski, o artista, performer e ativista russo que criou o site "Pornopolítica".
Piotr Pavlenski, o artista, performer e ativista russo que criou o site "Pornopolítica". Anya Stroganova / RFI

O ativista ficou famoso ao praticar a automutilação como forma de expressão artística. Pavlenski já usou pregos para fixar os próprios testículos na calçada do Kremlin, em protesto ao Dia da Polícia na Rússia. Costurou os lábios em apoio ao grupo de rock Pussy Riot, perseguido pelo presidente Vladimir Putin. No ano em que recebeu asilo político na França, incendiou uma agência do banco central francês na praça da Bastilha, em Paris, na performance "Iluminação”. Na época, ele explicou que "os banqueiros tomaram o lugar dos monarcas" e solicitou uma “nova e grande revolução francesa”. Por este crime, Pavlenski foi condenado em janeiro de 2019 a três anos de prisão, com direito a surcis.

"Fonte pornográfica com participação de autoridades"

O site "Pornopolítica", hospedado no Canadá desde novembro do ano passado, é a nova empreitada do ativista russo. Na página de apresentação, Pavlenski descreve a plataforma como "a primeira fonte pornográfica com a participação de autoridades e representantes políticos". O texto menciona ainda que "apenas funcionários públicos e políticos que ‘mentem’ para seus eleitores ao impor o puritanismo à sociedade, enquanto eles o desprezam, interessam à pornopolítica".

Pavlenski disse ter obtido o material que derrubou Griveaux com uma 'fonte' que mantinha uma relação consentida com o deputado. O russo afirma ter feito isso para "denunciar a hipocrisia" de Griveaux, que posa para capas de revistas com a mulher e os filhos e se apresentou na campanha municipal como “o candidato das famílias”. “Mas faz o contrário de tudo isso", segundo Pavlenski. O ativista nega ter feito um julgamento moral; fala que só quis denunciar um político mentiroso.

"Não me incomoda que as pessoas tenham a sexualidade que queiram. Elas podem mesmo transar com animais, não tem problema para mim. Mas as pessoas têm que ser honestas", enfatiza o artista russo.

Nojento, odioso, ignóbil

Depois de o site divulgar as imagens, um deputado dissidente do partido de Macron, Joachim Son-Forget, republicou o vídeo no Twitter, o que analistas interpretaram como um acerto de contas. Ao mesmo tempo, a condenação dos partidos políticos ao golpe baixo foi unânime e imediata. Historicamente, os franceses têm aversão a misturar vida privada com vida pública. Porém, as redes sociais abalaram esse equilíbrio.

O caso gerou uma forte indignação: “ignóbil”, “imundo”, “nojento”, “odioso”, repetiram dezenas de parlamentares. Da extrema direita à extrema esquerda, líderes partidários repudiaram a divulgação dos vídeos.

Todos condenam a violência que representa essa invasão da esfera íntima de um homem público num contexto eleitoral. O porta-voz do partido de extrema direita de Marine Le Pen, deputado Sébastien Chenu, disse que “os parisienses vão às urnas em março para escolher um projeto político e não um padre”. O líder de extrema esquerda Jean-Luc Mélenchon tuitou que a publicação de imagens íntimas para destruir um adversário é odiosa. “Vamos rejeitar o naufrágio voyeurista da vida pública do país. Não, nem todas os golpes são permitidos”, destacou Mélenchon.

Outros falam em "americanização da política francesa", por causa da evocação do "puritanismo". Esse comportamento pode ter importância para os americanos, mas não tem lugar no debate político na França.

Há também quem desconfie de ingerência externa e tentativa de desestabilização da democracia francesa, lembrando que a campanha de Macron à presidência sofreu ataques de hackers russos.

Candidato vai processar autor do site

Griveaux vai prestar queixa na Justiça por violação da vida privada, o que pode resultar em condenação a um ano de prisão e multa de € 45.000. Desde outubro de 2016, a divulgação específica de imagens sexuais capturadas em locais públicos ou privados é punida com dois anos de prisão e multa de € 60.000. Esse artigo foi incorporado à Lei Digital para lidar com o crescente fenômeno da chamada “vingança pornográfica”, que se tornou frequente nas redes sociais após o fim de relacionamentos. Todas as pessoas que compartilharam os vídeos divulgados por Pavlenski nas redes sociais podem ser condenadas.

O ativista russo considerou a renúncia de Griveaux uma vitória, a primeira operação bem-sucedida de seu site, e promete criar constrangimentos a outros políticos franceses.

O partido A República em Marcha (LREM) deve indicar um substituto para Griveaux nos próximos dias. O prazo para registro de candidaturas às municipais, que vão acontecer em 15 e 22 março, vai até o final de fevereiro. O deputado da sigla LREM estava em terceiro lugar nas pesquisas, atrás da atual prefeita socialista, Anne Hidalgo, que lidera as sondagens, e da conservadora Rachida Dati, do partido Os Republicanos.

Hidalgo pediu o respeito da vida privada e das pessoas. "As parisienses e os parisienses merecem um debate digno", insistiu a socialista.

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