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Igreja/ Escândalos sexuais

Abalada por escândalos, a Igreja Católica francesa busca credibilidade

« Annus Horribilis ». É assim que o jornal conservador francês Le Figaro desta quinta-feira (26) se refere a 2019, pelo menos no que concerne à Igreja Católica na França. O peso dos escândalos de abusos sexuais, marcado pelo processo do cardeal Barbarin, e a dor do incêndio da catedral Notre-Dame constituem um duro golpe para a Igreja, que, mais do que nunca, busca credibilidade.

O incêndio que destruiu a catedral Notre-Dame de Paris, em 15 de abril de 2019, seria um símbolo dos fracassos da Igreja?
O incêndio que destruiu a catedral Notre-Dame de Paris, em 15 de abril de 2019, seria um símbolo dos fracassos da Igreja? REUTERS/Benoit Tessier
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Ainda que a catástrofe da catedral parisiense tenha dado lugar a um fervor popular inesperado - mesmo quem não é católico se comoveu e doou para a reconstrução de Notre-Dame -, o professor de filosofia Thibaud Collin, em entrevista a Le Figaro, acredita que se trata mais de uma demonstração do “patrimonialismo” do catolicismo francês, que, segundo ele, é exatamente o contrário da “vitalidade” de que a Igreja tanto precisa.

“A descristianização da França continua inexoravelmente em razão, principalmente, da ruptura da transmissão”, avalia o professor de filosofia.

O sociólogo Yann Raison du Cleuziou, autor de “Uma contrarrevolução católica”, compartilha desta análise: “Paradoxalmente, o incêndio da Notre-Dame trouxe uma consolação aos católicos, porque eles tiveram a sensação de deixar o banco dos réus para reencontrar a sua centralidade no coração na nação”, explica.

“Por um curto momento, o seu horizonte minoritário se apagou diante da herança cristã que resta em todos os franceses. Mas o luto nacional em torno de Notre-Dame é um signo inequívoco de que o catolicismo é cada vez mais patrimonialista e ligado ao passado”, pontua o sociólogo, lembrando que o declínio do catolicismo na França é um fato estatístico. Atualmente, apenas 1,8% dos franceses têm uma prática semanal.

O demógrafo Hervé Le Bras vai além: “Eu me pergunto se o colapso da nave da Notre-Dame não foi a materialização simbólica das diversas derrotas espirituais da Igreja, ao invés de um símbolo de renovação”, afirma.

Purificação

Segundo o historiador Denis Pelletier, autor de “Os católicos na França, de 1789 aos dias de hoje”, mesmo tendo virado minoritário, o catolicismo continua a ser objeto de respeito no seio da sociedade francesa. “Mas, para suscitar respeito, a Igreja deve ser respeitável”, diz ele, referindo-se às revelações de violências sexuais no centro da instituição.

O jovem padre Jean-Baptiste Bienvenu, ordenado há três anos na diocese de Versailles, diz que a crise por que atravessa a Igreja na França é advinda de um sentimento de injustiça. “Como todo mundo, eu sinto raiva quando eu descubro que padres cometeram crimes ou que bispos preferiram proteger a instituição ao invés das vítimas”, diz o padre, sem citar casos específicos na França.

“É uma imensa injustiça; a Igreja deveria sempre estar do lado dos mais frágeis”, afirma o religioso, acrescentando que a revelação de abusos dentro da Igreja permitiu que se falasse mais sobre o assunto, e que fiéis se sentissem livres para lhe revelar abusos que sofreram ao longo da vida, principalmente em família. “Esta libertação do discurso, da palavra, me alegra profundamente.”

Para o padre da diocese de Versailles, “o trabalho de purificação do passado nos permite avançar em direção ao futuro”.

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