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A Semana na Imprensa

Revista alerta para movimento de censura nas universidades francesas

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A revista Le Point desta semana traz uma longa reportagem sobre a onda de protestos que toma conta das universidades na França. O texto relata inúmeros episódios nos quais os estudantes têm se comportado como membros de uma nova forma de censura, que fere a liberdade acadêmica.

Estudantes da Universidade de Lille rasgam livros de François Hollande, que teve conferência anulada por causa de protesto.
Estudantes da Universidade de Lille rasgam livros de François Hollande, que teve conferência anulada por causa de protesto. Reprodução / Le Point
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A reportagem começa contando uma cena na universidade Paris 1 - Panthéon Sorbonne, em março deste ano, quando um professor de história do direito convidou vários advogados de renome para participar de uma conferência sobre o tema da presunção de inocência na era do #metoo. “Uma dúzia de estudantes interrompeu a palestra, chamando os homens que estavam no palco de ‘estupradores potenciais’ e, ao serem expulsos, atacaram os palestrantes com uma garrafa cheia de urina”, relata a revista.

Le Point lembra que existe uma tradição francesa de contestações estudantis. “Conferências já foram boicotadas ou até anuladas porque os palestrantes eram acusados de racismo, islamofobia, homofobia ou machismo”. No entanto, esses episódios têm se multiplicado ao ponto que muitos se perguntam se a universidade não entrou em uma fase em que a confrontação de pontos de vista se tornou impossível, pontua a revista.

Liberdade de expressão para amigos, mas também para inimigos

Até mesmo os líderes estudantis do passado, como Daniel Cohn-Bendit, um dos ícones de Maio de 68, constatam uma radicalização dos alunos nas universidades. “A liberdade de expressão não é apenas para seus amigos, mas também para os inimigos”, comenta o ex-militante que se tornou deputado europeu ecologista. “Impedir alguém de falar e rasgar livros é uma estupidez”, se irrita. Ele faz alusão, entre outros episódios, a uma conferência do ex-presidente francês François Hollande, que deveria acontecer na Universidade de Lille este mês, mas que foi anulada após os estudantes invadirem o anfiteatro aos gritos, destruindo o mais recente livro do ex-chefe de Estado.

A revista fala de uma geração de estudantes disposta a tudo para “não ser confrontada a uma verdade que não corresponde à sua opinião”. No entanto, lembra o texto, além do risco de instrumentalização por movimentos radicais, esse fenômeno acaba impedindo a discussão sobre temas importantes.

Os estudantes que protagonizaram os protestos rejeitam a acusação de que, ao manifestarem de forma violenta, bloqueiam o debate. Segundo a representante de um sindicato de alunos ouvida pela reportagem, “a universidade deve ser o local de um saber crítico e emancipador”. E, para ela, isso seria incompatível com o fato de dar a palavra a um presidente, citando novamente a conferência de François Hollande.

Diante da situação, alguns professores se mobilizam. No início do mês, um outro texto, assinado por intelectuais de renome, pedindo que os reitores das universidades protejam a liberdade acadêmica, foi publicado nas páginas do jornal Le Monde. Segundo eles, as direções das instituições estariam “cedendo a ameaças militantes”.

Politicamente correto norte-americano

Mesmo tom em outro texto em defesa da liberdade de expressão, assinado por professores universitários, publicado na semana passada no jornal Le Figaro. Segundo os signatários, esse fenômeno de censura, fruto do modelo vindo dos Estados Unidos, tem se ampliado nos últimos anos na França.

O fantasma do politicamente correto norte-americano, onde os professores de algumas universidades são obrigados a anunciar que o conteúdo de uma aula pode chocar os alunos, os autorizando a sair da sala, assusta os universitários franceses, conta Le Point.

A revista finaliza se questionando se, ao boicotar qualquer tipo de conferência sobre temas sensíveis, os movimentos por trás dos protestos não estariam ofuscando a própria causa que defendem.

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