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Para se distanciar de tradições russas, Ucrânia celebra Natal em 25 de dezembro pela primeira vez

A dois meses de entrar no terceiro ano de guerra, a Ucrânia celebrará o Natal em 25 de dezembro pela primeira vez. O objetivo é se distanciar das tradições da igreja ortodoxa russa, que comemora o nascimento de Jesus Cristo em 7 de janeiro. 

Uma árvore de Natal decorada com as cores da Ucrânia em Kiev, em 20 de dezembro de 2023.
Uma árvore de Natal decorada com as cores da Ucrânia em Kiev, em 20 de dezembro de 2023. REUTERS - GLEB GARANICH
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Com informações do correspondente da RFI em Kiev, Stéphane Siohan, e agências

A lei determinando a nova data da celebração cristã, em função do calendário gregoriano, foi aprovada pelo Parlamento ucraniano em julho e promulgada pelo presidente Volodymyr Zelensky. Desde então, as autoridades encorajam a população a comemorar o Natal em 25 de dezembro.

"O povo ucraniano está submetido há muito tempos à ideologia russa em quase todas as esferas da vida, inclusive com o calendário juliano e na celebração do Natal em 7 de janeiro", afirmava o projeto de lei. "Mas o poderoso renascimento da nação ucraniana prossegue e a luta contínua e frutífera por sua identidade contribui para a tomada de consciência e o desejo de cada ucraniano de viver sua própria vida, com suas próprias tradições, suas próprias festas", acrescenta.

No entanto, num contexto de guerra e com bombardeios russos se multiplicando nas últimas semanas, nem todos estão no espírito de comemorações na Ucrânia. É o caso de Kira, que se esforça para celebrar a data para agradar a família.

"Não consigo sentir o espírito de Natal, como tínhamos antes do início da guerra. Mas tenho um filho pequeno e me sinto obrigada a manter um clima de festa", diz à RFI.

Ucranianos ainda divididos

Na Kids School, uma escola particular na periferia de Kiev, famílias, alunos e professores participam de um concerto de Natal antes do recesso. A psicóloga Iryna, que trabalha no estabelecimento, explica porque o corpo docente resolveu festejar o Natal em 25 de dezembro.

"Decidimos adotar o novo calendário", diz. No entanto, segundo ela, a mudança de data ainda não convenceu toda a população. "Eu diria que a metade dos ucranianos manteve as tradições do 7 de janeiro. A outra metade escolheu o 25 de dezembro", observa. 

De fato, de acordo com um estudo realizado em novembro de 2022 pela agência Interfax, 44% dos ucranianos aprovavam a ideia de festejar o Natal como os católicos.

No entanto, o 7 de janeiro continua sendo a principal celebração para muitas famílias ucranianas. Durante o regime soviético (1917-1991), que defendia o ateísmo, as festas de Natal sofreram uma fusão com as comemorações de Ano Novo.

Originária de Lugansk, no Donbass, região anexada pela Rússia em 2022, Iryna conta que seus familiares preferem manter as tradições ortodoxas. "Então eu acabo celebrando duas datas, fazemos duas festas de Natal", diz.

Separação das igrejas

A decisão de alterar a data em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus Cristo é parte de uma série de medidas adotadas por Kiev para se diferenciar da Rússia. Nos últimos anos, cidades e ruas mudaram de nome para virar a página de uma época em que a Ucrânia, que se tornou independente em 1991, integrava a então União Soviética.

A Igreja Ortodoxa ucraniana, que passou vários séculos sob tutela religiosa da Rússia, se declarou independente do Patriarcado de Moscou em 2019. Uma parte da instituição, que havia permanecido fiel a Moscou até o início da guerra, anunciou sua separação em maio de 2022, em repúdio ao apoio do patriarca russo Kirill à invasão da Ucrânia.

Em uma ousada manifestação, os sinos das igrejas de Kiev soaram em 25 de dezembro de 2022. Na capital ucraniana, as árvores de Natal são decoradas em azul e amarelo, cores da bandeira da Ucrânia.

Além da Rússia, outros países de tradição cristã ortodoxa do leste europeu, como a Sérvia, continuam utilizado o calendário juliano para suas celebrações religiosas e não o gregoriano, concebido no fim do século XVI. 

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