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Ucranianos celebram o Natal, mas rejeitam tradições ortodoxas em protesto contra a Rússia

Apesar da guerra, famílias ucranianas se reúnem neste fim de ano para passar o Natal juntas. No entanto, as tradições do cristianismo ortodoxo estão sendo deixadas de lado, em uma tentativa dos cidadãos traumatizados com a guerra de se afastar ainda mais da cultura russa. 

Uma árvore de Natal com as cores da bandeira da Ucrânia foi inaugurada em 19 de dezembro na praça Santa Sofia, centro de Kiev.
Uma árvore de Natal com as cores da bandeira da Ucrânia foi inaugurada em 19 de dezembro na praça Santa Sofia, centro de Kiev. AP - Felipe Dana
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O mais belo presente de Dimitro chega de trem. Na plataforma da estação de Kiev, o ucraniano beija a esposa, Svetlana, que volta ao país após seis meses de exílio na Suécia. O marido lhe entrega um buquê de flores. "Ele é formidável!", diz a jovem, em entrevista à rádio France Info. Svetlana não esconde a felicidade de poder passar as festas de fim de ano com a família. 

Os bombardeios russos continuam, mas os ucranianos estão decididos a não deixar que a guerra atrapalhe o Natal. Caminhando pelas calçadas de Kiev, Valeria admira os pinheiros iluminados. "Quero que a gente continue vivendo. Temos que aproveitar as pequenas coisas boas da vida enquanto for possível", afirma à France Info. 

Neste ano, sua família fez questão de mudar o calendário das comemorações. "Meus parentes são ortodoxos, então sempre celebramos o Natal em 7 de janeiro. Mas como estamos cada vez mais adotando as tradições ocidentais, vamos nos reunir e festejar em 25 de dezembro neste ano", explica Valeria. 

Muitos ucranianos fazem questão de se afastar de tudo o que possa lembrar a Rússia. Segundo uma pesquisa da agência Interfax, em 2021, apenas 26% da população da Ucrânia apoiava a mudança das datas das festas de fim de ano, uma porcentagem que passou para 44% em 2022. 

"O espírito de Natal mudou", ressalta Ksenia, mais uma ucraniana a deixar de lado as tradições ortodoxas. "As festas de fim de ano que seguem o calendário russo têm agora um gosto amargo", ressalta. 

O ucraniano Igor confirma esse sentimento. Ele diz que se viu obrigado a trocar a tradicional roupa do Papai Noel da Rússia - o Ded Moroz - por uma fantasia de urso. "As pessoas estão se revoltando contra símbolos de Natal russos", explica. Mas, para ele, a reação é um pouco exagerada: "são apenas roupas, não fazem mal a ninguém!". 

Um pinheiro de Natal azul e amarelo

Iluminado nas cores da bandeira da Ucrânia, um pinheiro de 12 metros foi inaugurado na praça Santa Sofia, no centro de Kiev, na última segunda-feira (19). Em um primeiro momento, a prefeitura da capital hesitou em instalar a árvore, devido aos cortes de energia elétrica que ocorrem após os frequentes bombardeios russos

Mas a cidade resolveu se adaptar. As luzes do pinheiro são alimentadas por um gerador a diesel. Para evitar os gastos extras em um momento de escassez de recursos, decorações de anos anteriores estão sendo utilizadas. 

"Nós a apelidamos de 'árvore de Natal da invencibilidade ucraniana'", declarou o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko. Segundo ele, o principal objetivo é "permitir que as crianças possam celebrar essa época do ano, apesar dos momentos difíceis". 

O pinheiro também foi enfeitado com miniaturas de pombas da paz e bandeiras de países que apoiam a Ucrânia. A estratégia deu certo: todas as noites, centenas de moradores de Kiev enfrentam o frio glacial para admirar a árvore e fazer selfies diante dela. 

Entre eles, está a turismóloga Natalya, para quem "o pinheiro de Natal de Kiev suscita um clima festivo em um período difícil". "É um elemento emblemático das nossas festas de fim de ano", completa.  

Mas nem todos os ucranianos estão conseguindo encarnar facilemente no espírito natalino. É o caso da analista contábil Tetyana Prykhodko, que deixou recentemente Kherson, cidade que durante meses foi ocupada pelas tropas russas no sul da Ucrânia. 

Para ela, o melhor presente de Natal seria o fim da guerra. "Espero que, em breve, tudo isso vá terminar e que a paz possa chegar. É o que todos nós queremos", conclui. 

(Com informações da France Info e da AFP

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