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Eleições na Sérvia: após denúncia de compra de votos, oposição pede nova votação em Belgrado

A “compra de votos” e outras falsificações, como pessoas de outras regiões votando na capital, foram algumas das irregularidades notadas por observadores internacionais durante as eleições parlamentares na Sérvia, das quais o campo presidencial saiu vitorioso. A oposição denuncia a fraude e convoca manifestações na noite desta segunda-feira (18) em Belgrado.

Miroslav Aleksic, um dos principais líderes da coalisão de oposição "Sérvia contra a violência", em 17 de dezembro em Belgrado.
Miroslav Aleksic, um dos principais líderes da coalisão de oposição "Sérvia contra a violência", em 17 de dezembro em Belgrado. AP - Marko Drobnjakovic
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Conforme os primeiros resultados, o SNS (partido de direita nacionalista) conquistou 127 dos 250 assentos no Parlamento.

A votação “decorreu, em sua grande maioria, sem problemas, mas foi marcada por casos isolados de violência, irregularidades processuais e frequentes alegações de organização e transporte de eleitores para apoiar o partido no poder”, afirmaram observadores internacionais em coletiva de imprensa na segunda-feira. “Outros casos de irregularidades graves, incluindo compra de votos e pessoas de outras regiões votando na capital” foram constatados.

Os observadores, enviados pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da Europa, sublinharam também que estas eleições foram tecnicamente "bem organizadas" e "de forma geral, respeitaram as liberdades fundamentais".

No entanto, a campanha foi marcada por uma “retórica violenta, meios de comunicação tendenciosos, pressão sobre os funcionários do setor público e utilização indevida de recursos públicos”, tudo num cenário de “envolvimento decisivo do presidente”, Aleksandar Vucic, oferecendo ao seu partido “uma vantagem injusta”, segundo os observadores.

“Meu trabalho era fazer tudo ao meu alcance para que vocês obtivessem a maioria absoluta no Parlamento”, declarou Vucic na noite de domingo, anunciando a vitória de seu partido.

A frequência das eleições - três em menos de quatro anos - também foi notada pelos observadores, segundo os quais o fato "deteriorou ainda mais a confiança do público no funcionamento das instituições democráticas".

"Fraude eleitoral" 

Este ano, as eleições legislativas foram acompanhadas de várias eleições locais, incluindo eleições municipais em Belgrado, onde vivem 1,5 milhão de pessoas, quase um quarto do país. O SNS obteve a maioria - com 38,5% dos votos, ou 23 mil a mais que a oposição. Contudo, é em Belgrado que se concentram as acusações de fraude.

Segundo a coligação de oposição “Sérvia Contra a Violência” (SPN), “mais de 40 mil pessoas” votaram na capital sem serem residentes, transportadas de ônibus da Republika Srpska, a entidade sérvia na vizinha Bósnia.

Vários vídeos publicados nas redes sociais no domingo (17) afirmavam mostrar a chegada de eleitores a um dos estádios da cidade, onde eram informados em que bairros deveriam ir votar.

“Tudo o que vimos não é realmente democrático”, disse Aleksandra Tomanic, do Fundo Europeu para os Balcãs. “É obviamente uma fraude para não perder a cidade.”

Em resposta, a oposição convidou “os cidadãos de Belgrado a se manifestarem contra a fraude eleitoral” às 18h, hora local. O SPN também pediu o cancelamento da votação na capital.

Nascida das manifestações massivas que abalaram o país em maio, após a morte de 19 pessoas em dois tiroteios, incluindo um numa escola primária, a coligação da oposição continuou a denunciar uma campanha tendenciosa, contaminada, segundo ela, por fraude e pressão.

A onipresença do presidente nos meios de comunicação “teve impacto na possibilidade de os eleitores fazerem uma escolha informada”, segundo a missão de observação.

A campanha eleitoral girou principalmente em torno da economia, num dos países mais pobres do continente europeu, que viu a inflação atingir os 16% na primavera, antes de diminuir para cerca de 8% em novembro.

Vucic prometeu um salário mínimo de € 1.400 até 2027, em comparação com os € 590 euros atuais, um aumento nas pensões de aposentados e a continuação dos investimentos estrangeiros na Sérvia.

Entre 2012 e 2022, os investimentos diretos estrangeiros na Sérvia aumentaram de € 1 bilhão para € 4,4 bilhões.

O seu sucesso em manter habilmente as ligações entre o Oriente e o Ocidente também é apreciado. O presidente sérvio é um mestre na arte de navegar entre o “grande irmão russo” e a União Europeia, à qual a Sérvia é candidata à adesão há muitos anos. O Kremlin também “parabenizou” a vitória do campo de Aleksandar Vucic.

“A verdadeira grande questão é o que acontecerá esta noite e nos próximos dias, como a comunidade internacional reagirá”, disse Aleksandra Tomanic.

Com informações da AFP

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