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Países mediterrâneos da UE buscam consenso sobre imigração; mortes de migrantes na região triplicaram no verão

Dirigentes de nove países da União Europeia (UE) se reúnem nesta sexta-feira (29) em Malta para debater temas do interesse regional, principalmente imigração, um dia depois de um encontro crucial em Bruxelas sobre a questão. Na véspera, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) publicou um novo relatório apontando que mais de 2.500 migrantes morreram ou desapareceram ao tentar cruzar o Mediterrâneo em direção à Europa desde o início do ano. 

Entre 1º de janeiro e 24 de setembro de 2023, 186 mil migrantes chegaram ao sul da Europa, principalmente à Itália, Grécia, Chipre e Malta.
Entre 1º de janeiro e 24 de setembro de 2023, 186 mil migrantes chegaram ao sul da Europa, principalmente à Itália, Grécia, Chipre e Malta. AP - Vincenzo Circosta
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Reunidos em Valetta, os dirigentes do chamado Med9 - grupo formado por nove países do bloco localizados no sul do continente e banhados pelo Mar Mediterrâneo - se concentram nas causas do aumento da imigração às nações da UE. Entre as várias questões, os líderes devem evocar a instabilidade na região do Sahel, que leva cidadãos do norte da África a deixar seus países de origem. Malta, que se situa entre o litoral italiano e o continente africano, também organiza uma discussão com os vizinhos Tunísia e Líbia, origem de boa parte das travessias ilegais. 

A imigração voltou ao alvo das preocupações da União Europeia desde o início deste mês, devido a chegada massiva de migrantes à ilha italiana de Lampedusa, no sul da Itália. A questão também aproxima o presidente francês, Emmanuel Macron - que se autodeclama progressista e pró-europeu, e a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, integrante de um partido pós-fascista e eleita há um ano com um programa ultranacionalista.

Macron saudou recentemente a premiê, que, segundo ele, "tem responsabilidade" ao acirrar ainda mais seu posicionamento contra o acolhimento de migrantes. Com a conciliação, o presidente francês também tenta apaziguar as tensões entre os dois países, depois que o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, indicou que Paris não receberia os migrantes de Lampedusa.

Para o governo francês, "há uma visão compartilhada entre a França e a Itália sobre a questão da gestão da imigração. Por isso Paris espera que a reunião em Malta passe uma "mensagem clara" sobre a necessidade de "uma resposta europeia" ao problema. 

Reforma do sistema de asilo da UE

Na quinta-feira (28), um encontro em Bruxelas sobre a imigração terminou com um sinal verde da Alemanha sobre a criação de um novo pacto migratório no bloco. Berlim bloqueava até então as negociações sobre a reforma do sistema de asilo na UE por questão humanitárias e seu aval é fundamental para que o debate evolua. O texto propõe melhorar a resposta europeia à chegada em massa de migrantes vindos da África e pretende ampliar o período de detenção dos migrantes nas fronteiras externas do bloco. 

A Itália pediu mais tempo para analisar as propostas, enquanto a Polônia, com uma visão mais dura sobre o assunto, promete manter o veto ao texto. No final da reunião, Bruxelas disse esperar que um acordo seja encontrado "nos próximos dias". 

2.500 mortos em um ano

Em relatório divulgado na quinta-feira, o Acnur indicou que mais de 2.500 migrantes morreram ou desapareceram ao tentar cruzar o Mediterrâneo em direção à Europa desde o início do ano. Segundo Ruven Menikdiwela, diretora do escritório da agência da ONU em Nova York, houve um aumento considerável "em comparação com as 1.680 pessoas [mortas ou desaparecidas] no mesmo período em 2022". "Vidas também foram perdidas em terra, longe dos olhos do público", insistiu.

De acordo com o balanço apresentado por Menikdiwela em uma reunião do Conselho de Segurança dedicada à crise migratória no Mediterrâneo, entre 1º de janeiro e 24 de setembro de 2023, um total de 186 mil migrantes chegaram ao sul da Europa, principalmente à Itália, Grécia, Chipre e Malta. "Houve um aumento de 83% em comparação com o mesmo período de 2022", afirmou.

Levando em conta apenas o período do verão no Hemisfério Norte, o aumento foi de quase 200%. Entre junho e agosto, ao menos 990 pessoas morreram ou desapareceram na travessia, contra 334 nos mesmos meses de 2022, afirmou nesta sexta-feira o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Quanto aos países de origem desses migrantes, entre janeiro e agosto de 2023, mais de 102 mil pessoas tentaram atravessar o Mediterrâneo partindo da Tunísia e outros 45 mil da Líbia. Destas, 31 mil foram resgatadas no mar ou interceptadas e enviadas à Tunísia; outras 10.600 à Líbia, acrescentou.

Segundo Menikdiwela, as travessias realizadas a partir da África até a Líbia e os pontos de partida no litoral continuam entre as mais perigosas do mundo. "Os refugiados e migrantes que viajam por terra a partir da África Subsaariana correm o risco de morrer e sofrer graves violações dos direitos humanos a cada passo", alertou.

(RFI com AFP)

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