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Se depender de Meloni, Itália continuará sendo um dos únicos países da UE sem salário mínimo

A Itália vive há meses uma disputa política para a implementação de um salário mínimo no país, um dos raros da União Europeia a não ter esse parâmetro de remuneração imposto por lei. A esquerda italiana apresentou um projeto para a instauração de um valor de base, mas a chefe do governo de extrema direita, Giorgia Meloni, é contra o princípio, embora a medida seja defendida por boa parte da população.

Os garçons fazem parte da categoria com as menores remunerações da Itália (imagem de ilustração).
Os garçons fazem parte da categoria com as menores remunerações da Itália (imagem de ilustração). AFP - VINCENZO PINTO
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Com informações de Blandine Hugonnet, correspondente da RFI em Roma

Funcionária de um museu de Roma, Claudia faz parte dos quase dois terços de italianos que gostariam de ter um parâmetro mínimo para os salários. “No setor da cultura, no qual eu trabalho, as funções de limpeza ou de vigia estão entre os empregos mais mal pagos da Itália. Tem gente que ganha € 6 por hora!”, resume.

O setor da cultura, como frisa Claudia, mas também do turismo, assim como as atividades de limpeza e segurança em geral, ou ainda os funcionários dos restaurantes, registram as menores remunerações do país. Pensando nesses profissionais, a oposição italiana apresentou um projeto de lei para instaurar um piso de € 9 bruto (um pouco menos de R$ 50) por hora, como já acontece na maior parte dos 27 países da União Europeia. Em vizinhos como a França, por exemplo, o salário mínimo por hora é de € 11,53 bruto (pouco mais de R$ 60) e € 9,12 líquido (quase R$ 50).

A Itália é um dos cinco membros de grupo a não ter nenhuma legislação que estabeleça um salário mínimo nacional. Entre os italianos, a remuneração é negociada diretamente pelos sindicatos, em função das categorias.

Cerca de três milhões teriam salários reajustados

A situação acaba gerando desequilíbrio e abusos, com salários considerados extremamente baixos e uma franja da população que não consegue se manter com o que recebe. “Cada cidadão deveria ter o direito de sobreviver, com um salário suficiente, sem ter que depender das ajudas [sociais]”, lança Arturo, garçon em uma trattoria de Roma. “Além disso, essas ajudas acabam caindo nos bolsos errados. Então, um salário mínimo seria uma iniciativa importante”, completa.

Com a criação de um piso salarial, cerca de três milhões de trabalhadores, como Arturo, poderiam ver suas remunerações serem reajustadas. No entanto, a medida não agrada à maioria do governo, de extrema direita. Inflexível, o parlamento bloqueou o debate e empurrou as discussões sobre o assunto para o último trimestre.

Endurecimento do governo

A própria chefe do governo não esconde sua aversão ao assunto. Na quinta-feira (10), véspera de uma sessão prevista com membros da esquerda, Giorgia Meloni avisou ser contra qualquer tipo de instauração de salário mínimo na Itália. Para ela, essa medida provocaria uma baixa de todos os salários e seria “contraproducente”.

A posição de Meloni confirma o endurecimento do governo italiano desde que ela chegou ao poder. Na semana passada, o país confirmou o fim de seu programa reddito di cittadinanza (renda de cidadania), equivalente a uma renda mínima para os mais pobres. No primeiro semestre, além de anunciar cortes na área social, a chefe do governo introduziu leis para reduzir a chegada de imigrantes no país e se comprometeu a defender valores conservadores, inclusive impedindo que as prefeituras registrem filhos de casais do mesmo sexo. 

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