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Mudanças climáticas atingem Mediterrâneo e ameaçam futuro turístico de principal balneário europeu

As altas temperaturas afetam vários países da bacia do Mediterrâneo, gerando incêndios intensos que se acentuam ano após ano durante o verão. As operadoras de turismo temem, com razão, que as pessoas busquem lugares mais amenos no futuro. A tendência já se confirma em 2023.

Crianças brincam com água em uma fonte durante uma onda de calor no centro de Atenas em 21 de julho de 2023.
Crianças brincam com água em uma fonte durante uma onda de calor no centro de Atenas em 21 de julho de 2023. AP - Petros Giannakouris
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Várias regiões da bacia do Mediterrâneo estão sendo afetadas por incêndios intensos e altas temperaturas que aumentam durante o verão. Bombeiros de diferentes partes da Argélia, Grécia, Itália, Portugal e França estão atualmente lutando contra as chamas, em um fenômeno que tem prejudicado o turismo, uma parte muito importante da economia da região, especialmente na Grécia e na Espanha, onde representa cerca de 1/4 do Produto Interno Bruto (PIB).

Combatendo o fogo

Na Argélia, o incêndio já matou pelo menos 34 pessoas desde domingo. Os bombeiros continuaram seus esforços para extinguir 11 focos ativos no norte e no leste, tendo controlado a maioria dos incêndios. Em Tudja, no nordeste, onde 16 pessoas morreram, o incêndio foi quase totalmente controlado, apesar de alguns focos remanescentes. Aviões de combate a incêndios jogaram água durante dois dias nessa área arborizada, localizada às margens do Mediterrâneo, em Bejaia.

Na Grécia, dois pilotos morreram na queda de um jato Canadair e o corpo de um homem foi encontrado carbonizado na terça-feira, em meio às intensas chamas que assolam o país. O avião bombardeiro de água caiu em um barranco enquanto combatia um incêndio florestal no sul da ilha de Evia.

Quase 50 graus Celsius

As imagens de florestas e vegetação carbonizadas são chocantes em toda a Grécia e o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, alertou que o combate aos incêndios continuaria "difícil".

O sul da Itália foi atingido por uma forte onda de calor, com temperaturas de até 47,6° C, como foi o caso de Catânia, na Sicília, na segunda-feira.

Os corpos de dois septuagenários foram encontrados carbonizados em uma casa tomada pelo fogo e uma mulher de 88 anos morreu perto de Palermo, informou a mídia na noite de terça-feira.

A Sicília arde

Enquanto isso, os bombeiros sicilianos lutaram contra vários focos de incêndio durante a noite de segunda-feira, um dos quais muito próximo ao aeroporto de Palermo, que ficou fechado por várias horas pela manhã.

O presidente da região da Sicília, Renato Schifani, disse que queria pedir ao governo - que se reuniu nesta quarta-feira em um conselho de ministros - para declarar estado de emergência na ilha mediterrânea. 

Na França, os bombeiros lutavam contra um incêndio alimentado por rajadas de vento que ameaçavam vilarejos em Haute-Corse, um departamento francês na ilha de Córsega. De acordo com a última avaliação, cerca de 130 hectares de vegetação foram destruídos pelo fogo.

O aeroporto de Palermo está fechado devido a incêndios, vários voos foram cancelados. Terça-feira, 25 de julho de 2023.
O aeroporto de Palermo está fechado devido a incêndios, vários voos foram cancelados. Terça-feira, 25 de julho de 2023. AP - Palermo Airport Press Office

Altas temperaturas afetam negativamente o turismo

As regiões que atraem mais turistas também são as mais afetadas pelas mudanças climáticas. Na Grécia, milhares de turistas foram evacuados nos últimos dias das ilhas de Rodes e Corfu, devastadas por incêndios causados pela onda de calor.

Na Espanha, as temperaturas às vezes excederam a média sazonal em 15 °C, enquanto a Tunísia registrou 49 °C na segunda-feira. Enquanto isso, a Croácia declarou um incêndio na quarta-feira perto do resort turístico de Dubrovnik.

Incêndios também eclodiram em Portugal, na costa atlântica, onde oito bombeiros ficaram feridos e centenas ainda estavam trabalhando na quarta-feira em torno da cidade de Sintra, um importante destino de férias a noroeste de Lisboa.

Turismo em países mais quentes está comprometido?

As altas temperaturas do verão podem desencorajar os visitantes, alertam os profissionais de turismo.

Para Jean-François Rial, diretor da Voyageurs du monde (Viajantes do Mundo), "o aquecimento global tornará os destinos cada vez menos populares. Todo o Mediterrâneo está comprometido, pois é o principal destino dos viajantes europeus".

Na Espanha, "já estamos vendo turistas questionando" se devem ir até "a costa do Mediterrâneo", diz Joantxo Llantada, professor do MBA de Turismo da IE Business School. "Os efeitos do aquecimento global, que pensávamos que chegariam até 2050, estamos vendo agora mesmo", acrescentou.

De acordo com um relatório recente da Moody's, as ondas de calor podem reduzir a atratividade do sul da Europa, ou "pelo menos reduzir a demanda de verão, com consequências econômicas negativas".

Quais países poderiam se beneficiar?

Quando é impossível visitar uma cidade afetada por uma onda de calor, os turistas podem ir para outro lugar.

Nos últimos dez anos, enfatiza Jean-François Rial, os "destinos do norte da Europa" aumentaram e a Inglaterra e a Irlanda podem se beneficiar.

Alguns visitantes espanhóis e italianos estão procurando destinos frios, diz Pierre Coenegrachts, da agência regional de turismo da Valônia, na Bélgica.

Qual é a alternativa?

Os profissionais do setor concordam que o turismo mudará e preveem que o Mediterrâneo poderá atrair mais visitantes em outras estações além do verão, já que muitos dos turistas são aposentados.

Hamit Kuk, presidente da associação de agências de viagem turcas, diz que "embora os problemas climáticos globais continuem a aumentar, teremos que repensar nossas estações (...). Talvez novembro deva ser incluído na temporada de verão e abril na temporada de inverno".

Para Rial, "isso seria bom para reduzir o turismo exagerado" em uma estação, "perdendo clientes no verão, mas aumentando-os nos outros nove meses do ano".

Juan Muñoz, diretor de promoção do turismo na região de Valência, na Espanha, indica que o setor "está começando a tomar uma série de medidas" para "se adaptar" e "pode ser que percam visitantes" no verão, mas terão "uma temporada turística mais longa".

(Com AFP)

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