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Cúpula UE-Celac marca reaproximação, mas terá dificuldades para obter avanços concretos

Os países da União Europeia (UE) e os da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) celebram na próxima segunda (17) e terça-feiras (18) uma reunião de cúpula de dois dias em Bruxelas, na tentativa de retomar um diálogo interrompido. Para os membros do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), o encontro também será uma ocasião para aliviar as tensões sobre as negociações do acordo entre os blocos sul-americano e europeu.

Países da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) se reuniram em janeiro e agora voltarão a se encontrar com membros da União Europeia, após oito anos de distanciamento.
Países da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) se reuniram em janeiro e agora voltarão a se encontrar com membros da União Europeia, após oito anos de distanciamento. REUTERS - AGUSTIN MARCARIAN
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A última cúpula UE-Celac aconteceu em 2015. Desde então, a UE mergulhou em problemas internos, como a gestão da grave onda migratória de 2015-2016, o Brexit, a pandemia de coronavírus e, por fim, a guerra na Ucrânia, que gerou também um forte crise energética no continente.

Neste cenário, as relações europeias com o outro lado do Atlântico ficaram em compasso de espera, e agora os dois lados tentam recuperar o tempo perdido. "Durante todos estes anos, a região da América Latina e Caribe tentou manter os canais de diálogo, mas os europeus simplesmente estavam ocupados demais", disse à AFP um diplomata latino-americano que pediu anonimato.

Essa reaproximação, no entanto, ainda encontra barreiras. A UE espera dar a essa relação uma estrutura permanente, mas a Celac não possui o nível de institucionalização do bloco europeu, e por isso a ideia ainda exigirá muitas horas negociações.

Críticas antes mesmo do encontro

O texto das conclusões da cúpula tem sido objeto de discórdias desde o início das negociações, no âmbito diplomático. A principal é a sugestão dos europeus de mencionar a guerra da Ucrânia no documento, uma delicada questão na qual europeus e latino-americanos não têm posições totalmente alinhadas.

Uma fonte da Celac disse à AFP que os países entendem a "sensibilidade" do tema, mas apontou que a UE também deveria compreender que os países sul-americanos e caribenhos têm posições diferentes.

A própria organização da cúpula foi objeto de tensões. O chanceler de Cuba, Bruno Rodríguez, denunciou em um vídeo a "falta de transparência e a conduta manipuladora" da UE. "Resta pouco tempo, mas ainda não é tarde demais para evitar um fracasso", advertiu.

A chancelaria da Venezuela apoiou as queixas de Rodríguez e afirmou que "a decisão dos europeus de impor seu próprio formato" à cúpula "ameaça levar ao fracasso os esforços realizados para sua organização".

Os dirigentes presentes deverão discutir temas como a reforma na composição do sistema financeiro internacional, o combate às mudanças climáticas, a segurança dos cidadãos e as transições energética e digital.

Celac 'não é uma organização'

No entanto, o especialista Christopher Sabatini, do think tank Chatham House, disse que ficará "surpreso se houver algo de substancial além, talvez, de algumas declarações sobre meio ambiente (...) ou de aumentar fundos para iniciativas de desenvolvimento".

Em sua visão, o problema central é que "a Celac não é realmente uma organização". "Falta um órgão institucional, não tem padrões e marco normativo para adesão e não tem posições comuns sobre nada substancial”, apontou.

Esta cúpula era um desejo que foi promovido, dentro da UE, principalmente pela Espanha, com o apoio de Portugal. Madri assumiu em 1º de julho a presidência semestral rotativa do Conselho da UE, e há pelo menos um ano aspira que a reunião se torne um dos legados de seu mandato no bloco europeu.

Um diplomata espanhol ressaltou que será "uma cúpula política, não uma cúpula de negociações".

UE-Mercosul

A expectativa inicial era de que a cúpula também serviria de cenário para um anúncio do lento acordo comercial entre a UE e o Mercosul, mas essa esperança foi coberta por uma densa nuvem de incertezas. O pacto entre os dois blocos foi anunciado em 2019, mas seguiu em ponto morto devido à falta de ratificação.

Com o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro no poder no Brasil, os europeus passaram a exigir do Mercosul mais compromissos com a proteção ambiental. Este capítulo segue sendo objeto de duras negociações.

Ainda assim, a UE espera anunciar o início do processo de ratificação dos acordos atualizados da UE com Chile e México. Um alto diplomata da União Europeia na América do Sul disse que um dos objetivos da cúpula é definir uma "diretriz política".

Simultaneamente à reunião de presidentes, será realizada em Bruxelas a Cúpula dos Povos, organizada por quase 100 entidades da sociedade civil, partidos políticos e organizações não governamentais dos dois lados dos Atlântico.

Com informações da AFP

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