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Onda de calor coloca em risco agricultura na Espanha e poderia se alastrar à França

A Espanha atravessa uma onda de calor e seca que coloca em risco a agricultura do país. França teme que as altas temperaturas atravessem a fronteira, cheguem ao sul do país e piorem a falta de chuvas que atinge a região. Vários países passam nos últimos meses por ondas de calor recorde e cientistas alertam que humanidade terá dificuldades de se adaptar.

Um pedalinho encalhado na terra seca do reservatório de Sau, à aproximadamente 100 km ao norte de Barcelona, na Espanha, em 18 de abril de 2023.
Um pedalinho encalhado na terra seca do reservatório de Sau, à aproximadamente 100 km ao norte de Barcelona, na Espanha, em 18 de abril de 2023. AP - Emilio Morenatti
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A Espanha registrou na quinta-feira (27) um recorde de temperatura absoluto para um mês de abril, com 38,8°C em Córdoba (sul), de acordo com dados provisórios publicados nesta sexta-feira (28) pela agência meteorológica espanhola (Aemet).

Esta temperatura, registrada na estação meteorológica do aeroporto da cidade andaluza, “pode ser (…) a temperatura recorde na Espanha continental para um mês de abril”, de acordo com publicação da Aemet no Twitter.

As temperaturas são em média 10° a 15° superiores ao normal desta época do ano. O recorde anterior foi registrado no país em 2011, em Elche (leste), com 38,6°C.

As altas temperaturas levam a Espanha a tomar medidas excepcionais. Em Madri, as autoridades preveem mudar os horários escolares, em Barcelona, o número de abrigos climáticos para pessoas vulneráveis será aumentado e as cidades de Cádiz e Almeria limitam os horários de trabalho à manhã no setor da construção.  

Os profissionais de saúde também alertam para os riscos de doenças, principalmente cardiovasculares.

 

Turista descansa embaixo de sombra de árvore em um parque durante onda de calor, em Ronda, na Espanha, em 25 de abril de 2023.
Turista descansa embaixo de sombra de árvore em um parque durante onda de calor, em Ronda, na Espanha, em 25 de abril de 2023. REUTERS - JON NAZCA

 

Perdas irreversíveis

Além das temperaturas, a Espanha, que exporta uma grande parte de sua produção agrícola para o resto da Europa, enfrenta uma seca catastrófica que preocupa agricultores e autoridades.

Segundo o Coag, principal sindicato de agricultores, 60% das terras agrícolas espanholas estão atualmente “asfixiadas” pela falta de precipitações.

A falta de chuva já causou “perdas irreversíveis” para mais de 3,5 milhões de hectares de cereais e a grande maioria das colheitas já está completamente perdida. O governo desbloqueou mais de € 1 milhão de  para ajudar 820.000 agricultores espanhóis.

A situação também favorece incêndios e levou o governo a lançar, na sexta-feira, de maneira antecipada, sua campanha de vigilância em possíveis focos.

Onda de calor na França

Os temores agora, são de que a onda de calor atravesse os Perineus e se alastre pelo sul da França no próximo fim de semana. Os departamentos às margens do Mar Mediterrâneo, no sul do país, também atravessam uma forte seca, a situação já é crítica nos Perineus Orientais. De acordo com especialistas, se não chover nos próximos meses, esta região ficará na mesma situação da Espanha.

Segundo a ONU, 75% do território espanhol está em via de desertificação.

 

Esta fotografia mostra uma placa em que se lê "Represa de Montbel, Perigo" perto do lago parcialmente seco de Montbel, sudoeste da França, em 21 de fevereiro de 2023.
Esta fotografia mostra uma placa em que se lê "Represa de Montbel, Perigo" perto do lago parcialmente seco de Montbel, sudoeste da França, em 21 de fevereiro de 2023. AFP - VALENTINE CHAPUIS

 

Adaptação impossível

Mas não apenas os países europeus sofrem com as ondas de calor. No Marrocos, recordes de temperatura também foram batidos em abril e dezenas de pessoas morreram na Índia devido à onda de calor. A revista científica PLOS Climate contabilizou milhares de mortes nos últimos 30 anos no país devido ao aumento do calor. Os pesquisadores alertam que a Índia poderia ultrapassar, até 2050, o limite em que é possível para um ser humano viver.

O calor extremo é associado a índices elevados de umidade, o que é chamado de “termômetro molhado”. “O calor não é algo novo nesta parte do mundo”, explica Fahed Saeed, cientista da think tank Climate Analytics.

“Durante milhares de anos, as pessoas conviveram com ele e se adaptaram a este tipo de calor. Mas devido à mudança climática, as temperaturas ultrapassam atualmente as capacidades de adaptação do corpo humano”, diz. “O problema é a combinação de altas temperaturas e umidade. Os cientistas nos mostraram que devido à mudança climática, a capacidade da atmosfera de absorver a umidade aumenta. Normalmente, o corpo humano libera calor transpirando. Quando o suor se evapora, isso refresca o corpo. Mas devido às fortes taxas de umidade, o suor não pode se evaporar e o corpo não libera o calor. Isso é mortal”, explica.  

Como o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima, o IPCC, alertou em seu último relatório, alguns dos limites à adaptação a essas mudanças poderiam ser ultrapassados. Nestas condições, cada grau e cada grama de CO2 emitido conta.

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