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Em Dia dos Namorados, soldados russos viram garotos propaganda da guerra na Ucrânia

Muitos países comemoram neste 14 de fevereiro o dia de São Valentim, ou melhor, o Dia dos Namorados. Os longos meses, quase um ano, de conflito na Ucrânia permearam a vida amorosa na Rússia, como constata a reportagem da RFI.

Russo beija a namorada em frente ao prédio onde ela morava em São Petersburgo, depois de declarar a paixão por ela com um coração desenhado na neve. Imagem de 9 de fevereiro de 2005
Russo beija a namorada em frente ao prédio onde ela morava em São Petersburgo, depois de declarar a paixão por ela com um coração desenhado na neve. Imagem de 9 de fevereiro de 2005 AFP - -
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Anissa El Jabri, correspondente da RFI em Moscou

Em uma sociedade em plena militarização, a imprensa propagandista enfatiza o índice de popularidade dos soldados nos sites de namoro.

"Príncipe Encantado em um tanque" foi como o jornal propagandista Komsomolskaya Pravda intitulou na semana passada um longo artigo dedicado a encontros românticos, durante o que o Kremlin insiste em chamar de "operação especial na Ucrânia". Ilustrada por uma foto de um casal – ele de uniforme e ela de vestido branco com um buquê de flores nas mãos –, o jornal falava sobre as novas tendências de encontros online.

“Conhecendo os soldados” é o nome de um dos grupos de namoro em voga no V Kontakt, o equivalente russo ao Facebook. Segundo a reportagem, a competição entre as mulheres, que são mais numerosas no grupo, seria feroz na conquista do coração de um militar de carreira ou um soldado convocado. Todas estariam à procura de "um homem corajoso que sabe o valor da vida", como explicou uma jovem entrevistada pelo jornal.

Amores falsos ou retumbantes

O artigo alerta sobre possíveis golpes – algumas mulheres poderiam estar não tanto em busca do grande amor, mas da generosa compensação financeira dada pelo Estado às viúvas. Fora isso, o Komsomlskaya Pravda relata histórias melosas, incluindo a do amor à primeira vista e a de um amor louco entre um veterano que perdeu a perna e uma jovem em busca de um pilar em sua vida.

Outra foto mostra um homem de costas musculosas, prestes a entrar em uma piscina. O texto o descreve como um soldado sem o trauma psicológico da volta dos combates, feliz em assumir as tarefas do dia a dia, enquanto a mulher poderia, finalmente, “se preocupar com o conforto do lar”. O artigo acrescenta que ele já foi casado e tem um filho.

O golpe é triplo. Por um lado, motiva-se os soldados, falando-lhes sobre o coração das mulheres que batem por eles na retaguarda. Há também a mobilização da sociedade por trás de seus soldados. Mas o mais importante é a celebração da família tradicional no que é cada vez mais apresentado como uma guerra ideológica contra um Ocidente com moral decadente.

Esse é o ponto central da política propagandista do presidente russo, Vladimir Putin. No ano passado, Putin se entregou a uma política ultraconservadora, em particular aprovando as chamadas leis de “propaganda anti-LGBT”.

De acordo com o EMISS, o instituto oficial de estatísticas, 70% dos casamentos terminaram em divórcio em 2021 na Rússia. Trinta anos atrás, essa taxa era de 42%.

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