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Ucrânia lembra 90 anos do Holodomor, tragédia que matou milhões de pessoas de fome durante stalinismo

Mesmo abalada pela guerra, a Ucrânia lembra neste sábado (26) o aniversário de 90 anos do Holodomor - como é chamada a tragédia em que 15% da população morreu de fome entre 1932 e 1933, durante o regime totalitário de Josef Stálin. Em 2008, o Parlamento Europeu reconheceu o massacre como um crime contra a humanidade. 

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e sua esposa, Olena, deixam flores diante do monumento em homenagem às vítimas do Holodomor em Kiev, em 27 de novembro de 2021.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e sua esposa, Olena, deixam flores diante do monumento em homenagem às vítimas do Holodomor em Kiev, em 27 de novembro de 2021. ASSOCIATED PRESS - Uncredited
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Em ucraniano Holodomor significa “extermínio pela fome”. Entre 3 e 6 milhões de pessoas teriam sido vítimas das políticas econômicas do regime stalinista no sul do império soviético, do Cazaquistão à Ucrânia, passando pela Rússia e regiões cossacas. Entre as medidas mais polêmicas, está a o controle da produção de cereais dos países do Império Soviético através da "requisição compulsória", que obrigava agricultores a repassar parte de sua produção ao Estado por valores irrisórios. A imposição foi seguida pela coletivização das propriedades agrícolas que passaram às mãos do regime.

Por vários anos, os governos ucranianos têm feito campanhas para que o Holodomor seja reconhecido como um genocídio. Em 2008, o Parlamento Europeu reconheceu a tragédia como um crime contra a humanidade. Em 2022, o aniversário do incidente ganha ainda uma conotação maior devido à invasão russa.

Noventa anos depois do Holodomor é a falta de energia elétrica que assola o povo ucraniano. Mais de seis milhões de residências estão sem eletricidade no país, devido à destruição de instalações por bombardeios russos, em um momento de temperaturas negativas no país.

Duas realidades diferentes

Para o historiador Éric Aunoble, especialista em Ucrânia e comunismo na Universidade de Genebra, na Suíça, o Império Soviético e a Rússia são duas realidades diferentes. "A fome de 1932-1933, Joseph Stalin e seu regime podem ser culpados por isso, mas a Rússia como estado nacional não existia na época. Aqui que ocorre uma espécie de reinterpretação perpétua da história, as ações da Rússia contemporânea são vistas como uma continuação das ações da URSS, que mesmo assim quase não tem fundamento, ainda mais diante da ideologia de Vladimir Putin, que nunca perde uma oportunidade de explicar como o período soviético foi ruim para a Rússia”, explica.

Moscou, aliás, refuta categoricamente o termo genocídio para se referir ao Holodomor, argumentando que a grande fome que assolou a União Soviética não só fez vítimas ucranianas, mas também russos, cazaques, alemães do Volga e membros de outros povos do sul do Império Soviético. No entanto, na Ucrânia, por medo de revolta da população, Stálin impediu a população de circular para encontrar comida em outros lugares, agravando a tragédia. 

“Temos cartas de Stalin dizendo que pensa que, devido à proximidade da Polônia, o poder polonês aproveitaria para tentar, com a ajuda dos nacionalistas ucranianos, derrubar o poder na Ucrânia soviética. É por esta razão que as autoridades querem absolutamente impedir que os famintos se espalhem para outras regiões, enquanto no norte do Cazaquistão, na bacia do Volga e até no Kuban, os famintos tiveram a possibilidade de se deslocar. Houve milhões de mortos, mas os que conseguiram sair das zonas de fome foram salvos, enquanto na Ucrânia foram mantidos presos por cordões policiais”, reitera Aunoble.

Líderes europeus viajam a Kiev

Vários líderes europeus estão em Kiev neste sábado para os eventos relativos ao aniversário do Holodomor. A Ucrânia confirmou que o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, "visitou a capital ucraniana e honrou a memória das vítimas da tragédia". A premiê da Lituânia, Ingrida Simonyte, também está no local. Os dois líderes devem se reunir com autoridades locais para tratar de uma possível nova onda de imigração ucraniana para a Europa durante este inverno

O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, realiza sua primeira viagem à Ucrânia desde o início da invasão russa. A Bélgica prevê repassar um apoio financeiro de € 37,4 milhões à Ucrânia. "Cheguei a Kyiv. Após o pesado bombardeio dos últimos dias, estamos com o povo ucraniano. Mais do que nunca", disse o premiê belga no Twitter.

Já o chanceler alemão, Olaf Scholz, anunciou em um vídeo uma ajuda adicional de € 10 milhões para apoiar as exportações de grãos da Ucrânia, impactadas pela guerra. O Parlamento alemão também anunciou na sexta-feira (25) que decidiu empregar o termo "genocídio" para definir o Holodomor - uma iniciativa inédita até hoje. 

Em um vídeo publicado no Telegram neste sábado, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, garantiu que o país seguirá firme diante dos ataques russos. "Os ucranianos passaram por coisas terríveis. E apesar de tudo, eles mantiveram a capacidade de não ceder e seu amor pela liberdade. No passado, eles queriam nos destruir com fome, hoje, com escuridão e frio", diz na gravação. "Não seremos destruídos", reitera Zelensky. 

(RFI com agências

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