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O Mundo Agora

Análise: Charles III não traz a confiança de estabilidade de sua mãe

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Após 70 anos de reinado, a rainha Elizabeth II faleceu na última semana e colocou a monarquia britânica sob análise. A coroação de Charles, como rei Charles III, não traz a confiança de estabilidade que Elizabeth trazia. Não quer dizer que de uma hora para a outra a monarquia corre o risco de desmoronar, mas o novo soberano sabe que não conta com a mesma simpatia que a mãe. 

A coroação de Charles, como Rei Charles III, não traz a confiança de estabilidade que Elizabeth trazia.
A coroação de Charles, como Rei Charles III, não traz a confiança de estabilidade que Elizabeth trazia. AFP - VICTORIA JONES
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Thiago de Aragão, analista político

Para quem vê de fora, principalmente de um país que não vive um sistema monarquista, não é sempre fácil perceber o papel moderador político que a rainha tinha e como isso é importante no Reino Unido. Ao longo dos últimos 70 anos, a monarca viveu inúmeros tipos de crise. Entre elas, Elizabeth II passou pela reconstrução do país no pós Segunda Guerra Mundial, onde o Reino Unido, liderado mais uma vez por Winston Churchill (que havia substituído Clement Attlee em 1951), passava por dificuldades econômicas. 

O aprendizado cumulativo de décadas à frente de um dos mais relevantes países no mundo fez da rainha Elizabeth um símbolo doméstico de estabilidade e tranquilidade. A soberana teve um papel importante nas crises do meio dos anos 70, durante o governo de Harold Wilson e James Callaghan, além de solucionar as diferenças com Margaret Thatcher, para realizar uma “dobradinha” que fez com que a popularidade da família real se recuperasse ao longo da década de 80. 

Apesar das polêmicas e escândalos familiares, a rainha mantinha na população o sentimento de unidade no país, independentemente do crescente sentimento separatista escocês dos últimos anos. O referendo escocês pela independência de 2014 trouxe 55% a 45% a favor do “não”. Já em 2021, o resultado das eleições parlamentares escocesas demonstrou o crescimento dos partidos separatistas, tornando-os uma das principais forças da política escocesa. 

A rainha era um símbolo do soft power britânico. Esse soft power sempre foi extremamente útil para a diplomacia britânica.

Quando Elizabeth se tornou um símbolo pop, a Reino Unido do pós-guerra precisava, mais do que nunca, de uma forma de mostrar sua assertividade ao mundo. Muitas pessoas, artistas, jornalistas e líderes políticos endossaram e embarcaram na percepção da rainha como um símbolo pop.

Essa importância não sumiu, muito pelo contrário. A relevância da Comunidade Britânica de Nações - Commonwealth para a influência política britânica no mundo é enorme. Elizabeth sabia transmitir a confiança de que o Reino Unido ainda poderia liderar alguns países diplomaticamente. Será Charles, como rei Charles III, capaz de trazer essa mesma simpatia e soft power para a mesa diplomática? 

O papel de um monarca pode ser político se este é hábil e conhecedor da comunicação popular por meio de gestos e comportamentos. Claro, sempre é mais fácil ser um monarca esquecido politicamente, numa neutralidade pensada em relação aos eventos domésticos e externos. Charles é rei de um país onde a imprensa e a sociedade gostam de sinais bem dados, nos campos da política, diplomacia e avanços sociais. Sua responsabilidade é grande e ocupar o espaço da sua mãe, difícil. 

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