Acessar o conteúdo principal

Indústria automobilística e da moda retornam ao trabalho na Itália, mas Igreja está furiosa com proibição de missas

Empresas estratégicas italianas, principalmente do setor da indústria, retomaram suas atividades nesta segunda-feira (27), com medidas drásticas de segurança para evitar uma segunda onda da epidemia de coronavírus no país. A terceira maior economia da União Europeia continua em marcha lenta, mas tenta resolver uma difícil equação: conter a pandemia e evitar danos "irreversíveis" à economia, como admitiu o chefe de governo, Giuseppe Conte.

Fábrica de automóveis do grupo PSA em Atessa, na Itália, retornou ao trabalho nesta segunda-feira (27).
Fábrica de automóveis do grupo PSA em Atessa, na Itália, retornou ao trabalho nesta segunda-feira (27). AFP - VINCENZO PINTO
Publicidade

Conte estabeleceu no domingo (26) um cronograma para a "fase 2" de retomada das atividades na Itália, o país europeu mais atingido pela pandemia de Covid-19, com mais de 26.000 mortos. Os setores automobilístico e da moda, voltados às exportações, retomaram suas atividades nesta segunda, para evitar que sejam ainda mais penalizados em relação aos concorrentes estrangeiros.

Em Mirafiori, Turim (norte), uma centena de funcionários atravessou o portão da fábrica da montadora Fiat Chrysler (FCA). Os engenheiros e líderes de equipe foram os primeiros a passar por um scanner térmico, antes de receber o equipamento de proteção: máscara, luvas e óculos. Os trabalhadores da linha de produção entraram logo depois. Eles trabalham em protótipos do novo Fiat 500 elétrico, assim como outros 60 trabalhadores de outra unidade de Turim.

"Um novo começo que leva a muitos outros", escreveu o jornal La Stampa, de propriedade da família Agnelli-Elkann, principais acionistas da montadora, referindo-se aos muitos fornecedores da indústria automotiva.

Na Sevel, joint-venture da Fiat e da fabricante francesa PSA (Peugeot-Citroën) especializada na produção de veículos utilitários e minivans, 6.000 do total de 6.700 funcionários também estão retornando às oficinas para reiniciar a produção do modelo Ducatos, em Atessa (centro), perto da costa do Adriático. A planta de 300 mil m2 foi desinfetada, 130 distribuidores de álcool gel foram colocados à disposição dos colaboradores, bem como 600 pontos equipados com desinfetantes para que os funcionários possam limpar seus equipamentos.

"O que demonstramos hoje é o exemplo concreto do nosso compromisso prioritário com a proteção dos nossos funcionários (...) fruto de um extenso trabalho com especialistas e virologistas, e concluído por um acordo com todas as organizações sindicais", afirmou em comunicado à imprensa Pietro Gorlier, um dirigente da FCA.

A indústria automotiva, que contribui com 5,6% do PIB italiano, não é a única a retornar ao trabalho.

   

Tudo reabrirá em 4 de maio menos igrejas

Perto de Bolonha (centro), é a fábrica das famosas motocicletas Ducati que retorna gradualmente à normalidade nesta segunda-feira, privilegiando o trabalho remoto para atividades relacionadas a vendas, marketing e finanças.

Os estaleiros Fincantieri reabriram há uma semana, com 10% dos funcionários em uma primeira etapa. O retorno ao normal com todos os funcionários é esperado para entre o final de maio e o início de junho.

No sul da Itália, as grandes empresas também estão voltando a funcionar, como a gigante de eletrodomésticos Whirlpool, que reabriu sua fábrica em Nápoles para 420 trabalhadores. Ainda mais ao sul, em Reggio di Calabria, é a fábrica da Hitachi Rail, que produz equipamentos para o setor ferroviário no mundo inteiro, que gradualmente retoma sua produção.

O gigante da aeronáutica e defesa Leonardo S.p.A quase não cessou suas atividades, mas reforçou suas equipes nesta segunda-feira em Grottaglie, perto de Taranto (sul), onde produz duas seções da fuselagem de fibra de carbono do Boeing 787.

A partir de 4 de maio, a Itália reabrirá "todo o setor de fabricação e construção, bem como o comércio atacadista desses setores", disse o primeiro-ministro Giuseppe Conte, quando anunciou seu cronograma no domingo (26).

A pandemia e as medidas de confinamento paralisaram a economia italiana. Segundo previsões do governo, o país deve entrar em recessão este ano, com uma queda de 8% em seu Produto Interno Bruto (PIB). Em 2020, o déficit público subirá para 10,4% do PIB, contra 2,2% projetados antes do início da pandemia, enquanto a dívida pública deve saltar para 155,7% do PIB, ou 20 pontos mais do que o esperado antes desta crise global de saúde.

Proibição de celebrar missas provoca ira de bispos

A decisão do governo italiano de manter a proibição de celebrar as missas depois de 4 de maio despertou a ira da Igreja Católica, que acusa o governo de violar a liberdade de culto. "Os bispos italianos não podem aceitar que o exercício da liberdade de culto seja comprometido", protestou a Conferência Episcopal Italiana (CEI), em um comunicado à imprensa. O governo autorizou a realização de funerais, com no máximo 15 participantes e, sempre que possível, ao ar livre, mas manteve as igrejas fechadas depois do fim da quarentena.

Após "semanas de negociações" com uma equipe de especialistas, o decreto da presidência do Conselho de Ministros para a "fase 2" decidiu "excluir arbitrariamente a possibilidade de celebrar a missa com o povo", lamenta o episcopado italiano. Os bispos italianos lembram ao governo, em um tom indignado, que "a Igreja aceitou, com sofrimento e senso de responsabilidade, as limitações governamentais assumidas para enfrentar a emergência de saúde", enfatizam no comunicado. "Deve ficar claro para todos que o compromisso de servir aos pobres, tão significativo nesta emergência, vem de uma fé que deve ser nutrida em sua fonte, principalmente a vida sacramental", insiste a instituição.

Em meados de abril, a CEI apresentou ao governo um "pacote de propostas" para a retomada da vida eclesiástica após 3 de maio, incluindo a celebração de missas, resguardando a distância de segurança entre os fiéis, o uso de máscaras e sem contato entre as pessoas.

Após o duro protesto do episcopado, o governo anunciou que trabalhará nos próximos dias para elaborar "um protocolo, o mais rápido possível, que permita a participação dos fiéis nas celebrações litúrgicas em condições de segurança máxima".

Com informações da AFP

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.