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Com Brexit, história se vinga do império colonial britânico, diz professor

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Goste-se ou não, este 31 de janeiro marca um dia histórico para a Europa: após 47 anos de parceria junto à União Europeia, o Reino Unido se separa do bloco. Foram três anos e meio de tumultuadas negociações, que culminaram numa saída que reserva um futuro incerto para os britânicos.  

Professor Alfredo Saad Filho mora há 30 anos no Reino Unido e é autor, entre outras obras, de "A Crise do Neoliberalismo: Economia, Democracia e Autoritarismo no Mundo Contemporâneo”. Arq
Professor Alfredo Saad Filho mora há 30 anos no Reino Unido e é autor, entre outras obras, de "A Crise do Neoliberalismo: Economia, Democracia e Autoritarismo no Mundo Contemporâneo”. Arq Foto: Arquivo pessoal
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“Eu chamo isso de a vingança da história. Durante o processo de expansão colonial e imperial do Reino Unido, criaram-se divisões em várias partes do mundo: entre Índia e Paquistão, no Sri Lanka, na Irlanda, em Chipre e em Israel e Palestina. Essa divisão agora volta para dentro do Reino Unido”, analisa Alfredo Saad Filho, professor de política econômica e desenvolvimento internacional do King’s College de Londres.

Para ele, o Brexit vai resultar, mais cedo ou mais tarde, na independência da Escócia e da Irlanda do Norte. “É inevitável. E a Escócia saindo, não haverá como a Irlanda do Norte continuar, por razões práticas. O país se perde na tentativa de assegurar uma independência que não vai conseguir”, complementa Saad Filho, que vive há 30 anos na Inglaterra. “É parte de um processo secular de decadência econômica e política – um processo penoso de se observar.”

Promessas não cumpridas

O economista entende que a consolidação do Brexit reflete “o triunfo de uma plataforma nacionalista profundamente ilusória”: concretamente, o Reino Unido não conseguiu se preparar para a se separação do bloco europeu, e a curto e médio prazo deve sofrer uma deterioração das condições de vida no país. Além disso, o processo deve favorecer ainda mais a concentração de renda e das riquezas, avalia Saad Filho, para quem, na prática, apenas parcelas do setor financeiro, da indústria e de determinadas categorias profissionais serão beneficiadas.

“O Reino Unido preserva para si uma imagem de grande economia, grande potência, que não corresponde mais à realidade. As negociações com a União Europeia durante todo esse tempo e o início das negociações de livre comércio com os Estados Unidos já demonstraram a fragilidade tanto política quanto econômica dos britânicos”, constata o professor. “Basicamente todo programa defendido pela União Europeia triunfou, ao mesmo tempo em que todas as ambições prometidas pelos políticos pró-Brexit falharam.”

Era do neoliberalismo autoritário

O referendo que determinou a realização do Brexit marcou também o início de uma nova era no mundo, a do neoliberalismo autoritário, pontua o economista. Ele nota que, por enquanto, não há uma resposta democrática capaz de reverter a dinâmica em curso em diversas partes do planeta: dos Estados Unidos às Filipinas, passando pelo Brasil e a Turquia, entre outros.

Mas apesar do trauma profundo gerado pelo divórcio com a União Europeia – que, segundo Saad Filho, vai levar gerações para ser superado –, o país e o bloco europeu ainda poderão voltar a ter um relacionamento “sensato”, considera o professor do King’s College. “Mas será um processo de anos, que vai demandar muita maturidade política dos dois lados”, ressalta.

Para ouvir a entrevista completa, clique na foto acima

 

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