Brasileira recebe prêmio em Berlim por proposta anticorrupção
A advogada Gisela Pires Foz de Barros recebeu nesta quarta-feira (12) o prêmio “O Futuro contra a Corrupção”, em Berlim. Organizado pela ONG Transparência Internacional, o concurso foi disputado por mais de 200 jovens do mundo todo. A proposta de Gisela é levar o tema para as salas de aula no Brasil.
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Por Cristiane Ramalho, correspondente da RFI em Berlim
Gisela Pires Foz de Barros, uma jovem advogada paulista de 24 anos, quer abrir uma nova frente de combate à corrupção nas escolas primárias e secundárias brasileiras. E assim combater o desvio de verbas públicas no país. Na proposta, uma das três vencedoras do prêmio da Transparência Internacional, Gisela sugere que o tema passe a ser discutido de forma sistemática pelos alunos.
“Não precisa ser incluído no currículo. Basta adotar um programa que estimule os jovens a pensarem sobre o tema de forma criativa, com jogos, gincanas e brincadeiras. Assim, o que é chato passa a ser divertido”, disse Gisela à RFI. O modelo poderia, segundo ela, ser semelhante ao Proerd – “que hoje leva para as escolas a discussão sobre as drogas”.
Recém-formada em Direito pela PUC de São Paulo, Gisela quer que os jovens passem a discutir o que é certo e errado, inclusive nas pequenas ações do cotidiano, e percebam as conseqüências da corrupção para a sociedade como um todo.
“A gente pensa sempre na figura do político corrupto, mas esquece que ele foi corrompido por outras figuras que também se beneficiaram”. É preciso lembrar, diz ela, que o dinheiro desviado poderia estar sendo usado na educação, na saúde, na segurança. “São somas exorbitantes que poderiam mudar a realidade brasileira”. Além disso, os jovens devem aprender a monitorar a esfera pública, acredita.
Se livrar da blitz
O fato de ter morado na cidade de Osasco ajudou a moldar a sua sensibilidade. “Querendo ou não, a gente acaba tendo contato com a desigualdade e a miséria. Desde cedo entendi que aquilo era resultado de corrupção. O Brasil tem tantos recursos naturais. Mas acaba sendo prejudicado por uma pequena parcela”.
Gisela já estava na faculdade quando houve o desastre de Mariana, que definiu o rumo de sua carreira. “Fiquei devastada ao perceber como nenhuma fiscalização foi capaz de impedir aquilo. E comecei a pensar em como contribuir para mudar esse panorama”.
O caminho surgiu durante um estágio, quando tomou contato com as novas leis que responsabilizam as empresas pelos atos de corrupção. “A área de compliance é muito recente no Brasil. Mas esses mecanismos para ajudar no controle interno, com ferramentas como canal de denúncias e código de ética, podem realmente estancar uma das maiores fontes de corrupção”.
Para a jovem, de forma geral, o brasileiro mudou de postura em relação à corrupção. “Muitas pessoas hoje têm vergonha de dizer que pagaram para se livrar de uma blitz. Antes, isso era contar vantagem”, diz ela.
Quando compara com a geração dos pais, sobretudo, percebe que o país já caminhou muito - embora ainda tenha uma longa estrada pela frente. "O Brasil é muito imaturo, mas já avançou bastante. Ainda está fácil para os políticos, mas nós somos muitos. A gente consegue chegar lá”, aposta.
A diretora-executiva da ONG, Patricia Moreira, disse à RFI que um dos grandes desafios para organizações de combate à corrupção é engajar os mais jovens em projetos voltados para produzir mudanças. Mas ajudá-los a fazer a ponte entre a corrupção e os temas que têm impacto no seu cotidiano é fundamental - daí a ideia do prêmio. “Quem mais poderia levar essa causa adiante, se não eles?”, pergunta Patricia.
Entregue na sede do Ministério alemão para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, parceiro da iniciativa, o prêmio marca o Dia Internacional da Luta contra a Corrupção, comemorado no último domingo, 9, e os 25 anos da Transparência Internacional, ONG que tem sede em Berlim. Além de Gisela, jovens do Quênia e da Indonésia também receberam o prêmio.
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