Referendo na Catalunha é o maior desafio separatista da história da União Europeia
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O referendo para a independência da Catalunha, considerado ilegal pela Espanha, é um fato inédito na União Europeia. Desafiando as autoridades espanholas e a proibição da consulta pelo Tribunal Constitucional do país, os catalães estão prontos para votar no próximo domingo (1).
Letícia Fonseca, correspondente da RFI em Bruxelas
Uma das razões da criação da União Europeia foi tentar aumentar a coesão do continente. De todos os movimentos separatistas enfrentados durante a história do bloco, nada se compara ao desafio do referendo na Catalunha, região do nordeste da Espanha, a ser realizado no domingo.
As inúmeras tentativas de Madri para impedir a consulta popular parecem não intimidar os catalães a desenhar o futuro da região. No entanto, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, já adiantou que “se houver um voto a favor da independência, a Catalunha não fará automaticamente parte da União Europeia”. Juncker afirmou que só aprovaria uma possível candidatura da Catalunha, se o resultado do referendo for aprovado pelo Tribunal Constitucional espanhol.
O governo catalão reagiu dizendo que 7,5 milhões de pessoas – a atual população da Catalunha – “que tem usufruído de benefícios e direitos do bloco não podem simplesmente ser postos de lado do dia para a noite”. Na semana passada, o presidente regional catalão, Carles Puigdemont pediu a intervenção de Bruxelas caso o governo de Madri tente impedir a realização da consulta. A União Europeia negou e voltou a classificar a questão como um assunto interno da Espanha.
Força do resultado será analisada pelo bloco
Dificilmente, a União Europeia compraria uma disputa com a Espanha para reconhecer a Catalunha como nação independente. De acordo com Bruxelas, o bloco europeu irá respeitar a Constituição e a ordem jurídica do país. Se o voto a favor da independência ganhar nas urnas, a legalidade e provavelmente também a credibilidade do resultado vão ser discutidas.
Uma Catalunha independente teria que costurar acordos políticos e econômicos com países europeus para poder sobreviver. Apesar de ser responsável por um quinto do PIB espanhol e um quarto das exportações do país, a região autônoma da Catalunha é também uma das mais endividadas. Mas para o catalão, a questão da identidade é tão fundamental quanto o bom desempenho da economia.
Separatismo tem adeptos de norte a sul no continente
A vitória do “sim” nas urnas da Catalunha deverá incentivar outros movimentos separatistas na Europa. É o caso do País Basco, no norte da Espanha, que não é propriamente um país, mas que também busca separação há quase 60 anos.
Outro exemplo vem da Escócia. Com a aprovação do Brexit – a decisão de retirar o Reino Unido da União Europeia – os defensores da independência da Escócia voltaram a sonhar com um novo referendo. A intenção da premiê escocesa, Nicola Sturgeon, é realizar outra consulta popular no ano que vem. Em 2014, no primeiro referendo, 55% contra 45% rejeitaram a saída da Escócia do Reino Unido.
Dois outros territórios britânicos buscam autonomia há anos: País de Gales e Irlanda do Norte. Em 1998, um acordo de paz pôs fim a três décadas de violência entre protestantes unionistas e católicos republicanos na Irlanda do Norte. Tanto Bruxelas quanto Londres querem evitar que o Brexit sirva de pretexto para minar os acordos de paz de Belfast.
Separatismo fortaleceu partidos xenófobos
Alguns movimentos separatistas europeus se transformaram ao longo do tempo em partidos xenófobos e antieuropeus. É o caso dos nacionalistas da Nova Aliança Flamenga (Vlaams Belang), na Bélgica, sob o comando de Bart de Wever, que quer a independência de Flandres, região norte do país. Na Itália, o partido de extrema-direita Liga Norte, do líder nacionalista Matteo Salvini, segue a mesma tendência e pode ampliar forças nas próximas eleições italianas.
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