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ONGs criticam TotalEnergies por reservar "migalhas" para energias renováveis, após anúncio de lucro histórico

Como anteciparam os concorrentes, o grupo petrolífero francês TotalEnergies registrou em 2022 o maior lucro da história da companhia, uma soma equivalente ao dobro do período contábil anterior. Para o economista francês Maxime Combes, os investimentos expressivos do grupo na produção de petróleo e gás, energias fósseis implicadas no aquecimento global, aniquilam toda a luta para combater a mudança climática. 

A TotalEnergies anunciou o maior lucro líquido da história da empresa.
A TotalEnergies anunciou o maior lucro líquido da história da empresa. REUTERS - SARAH MEYSSONNIER
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Em 2022, os lucros da TotalEnergies dobraram para US$ 36,2 bilhões. O lucro líquido, o mais alto da história da empresa, atingiu US$ 20,5 bilhões (+28%). Em seu balanço contábil, a companhia depreciou alguns ativos e fez provisões de US$ 15,7 bilhões – a maior fatia, US$ 14,8 bilhões, relacionada à redução de suas atividades na Rússia.

"É um resultado híper lucrativo e um híper estrago para o planeta", criticou Maxime Combes, economista e ex-porta-voz da ONG Attac, coautor do livro "É uma grana preta, mas para quem? O dinheiro mágico da pandemia", publicado pela editora Seuil. 

Combes lembrou, em entrevista à RFI, que a TotalEnergies decidiu pagar € 200 milhões em tributos à França no ano passado, depois de ficar "sem pagar praticamente nada em impostos" em 2019 e 2020. Os anúncios feitos nesta quarta-feira (8) indicam que "os dividendos pagos aos acionistas vão aumentar em vários bilhões de euros, enquanto os investimentos em energias renováveis terão uma alta de apenas € 1 bilhão", acrescentou o economista. 

Em suas previsões para 2023, a TotalEnergies espera que sua produção de combustíveis cresça 2%, para atingir 2,5 milhões de barris por dia, e os investimentos líquidos alcancem US$ 16 a 18 bilhões na faixa alta. Desse total, US$ 5 bilhões serão aplicados em energias com baixo teor de carbono e US$ 4,5 bilhões em novos projetos de petróleo e gás, inclusive no Brasil. "Quanto mais lucra, a companhia distribui mais dividendos aos acionistas, enquanto reserva migalhas para as energias renováveis", condena o ex-porta-voz da Attac.

Além de provocar revolta em consumidores que pagam cada vez mais caro o litro dos combustíveis para enriquecer acionistas, a TotalEnergies também está no centro das críticas em relação à sua política ambiental. 

"A exploração de combustíveis fósseis continua sendo o negócio principal da TotalEnergies, longe de suas tentativas de greenwashing", reagiu a ONG Greenpeace, que recentemente questionou o cálculo das emissões de carbono da companhia.

Três associações encaminharam ações à Justiça francesa acusando a petrolífera de adotar um discurso e promover ações, documentos e campanhas publicitárias se posicionando como uma empresa sustentável. Uma investigação foi aberta em dezembro de 2021 pela divisão econômica e financeira do Ministério Público de Nanterre, na região parisiense.

Tendência se manterá em 2023

A publicação dos dados da gigante francesa encerrou a temporada anual de resultados do setor petrolífero. O ano de 2022 ficará na história pelos lucros recordes das gigantes do petróleo, graças à demanda insaciável de petróleo e gás, combinada com a guerra na Ucrânia, e tudo indica que esta tendência se manterá em 2023. A ExxonMobil gerou US$ 56 bilhões em lucros no ano passado, a Chevron US$ 36,5 bilhões, a BP US$ 27,6 bilhões e a Shell quase US$ 40 bilhões.

Quatro das cinco maiores empresas de petróleo do mundo – Shell, Chevron, ExxonMobil e TotalEnergies – bateram seu recorde de lucro líquido em 2022, enquanto a BP quebrou um recorde, deixando de fora elementos excepcionais. No total, registraram em conjunto um lucro de US$ 151 bilhões no ano passado.

Os lucros ajustados, que permitem uma visão melhor da rentabilidade, ao excluir as perdas contábeis causadas pelas retiradas da Rússia, beiram os US$ 200 bilhões. 

Essas somas extravagantes mostram que as empresas aproveitaram ao máximo a escalada de preços, com o barril de Brent – referência da commodity – perto dos US$ 140, em março de 2022, e com o gás a 350 euros por megawatt/hora no verão passado na Europa, 15 vezes mais do que o preço habitual. Desde então, os preços caíram, mas especialistas no setor não descartam outros picos, já que a guerra na Ucrânia está longe de terminar.

Com informações da RFI e AFP

 

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