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Radar econômico

Na França, Cuba dá novo passo para atrair investimentos estrangeiros

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A França estendeu o tapete vermelho para Cuba nesta semana, na primeira visita oficial de um presidente cubano a Paris. Passados 21 anos da última vez que um líder da ilha colocava os pés em solo francês, a viagem simboliza não apenas a reinserção de Cuba no cenário internacional, como marca um novo passo na aproximação entre o país e investidores estrangeiros.

O presidente cubano, Raúl Castro, foi recebido no Palácio do Eliseu com tapete vermelho pelo presidente francês, François Hollande.
O presidente cubano, Raúl Castro, foi recebido no Palácio do Eliseu com tapete vermelho pelo presidente francês, François Hollande. STEPHANE DE SAKUTIN / AFP
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A exemplo do que havia acontecido com o presidente do Irã, no fim de janeiro, a agenda de Raúl Castro em Paris incluiu um longo encontro com grandes empresários franceses.

Paris é a 10ª parceira comercial de Cuba e está determinada a subir no ranking, na medida em que as sanções americanas à ilha caírem, como promete Washington. Os olhos dos investidores franceses brilham em diversos setores, como o energia, construção civil, turismo, saúde, transportes e meio ambiente.

Um estudo elaborado pela Euler Hermès, líder mundial de seguros de crédito, indica que os Estados Unidos serão os principais beneficiados após o final do embargo, com o aumento das exportações, seguidos pela China, a Espanha, o Brasil e a França. A atual principal parceira comercial de Cuba, a Venezuela, despencaria na lista. 

Histórico de boas relações 

O histórico do vínculo entre Paris e Havana favorece, agora, a aproximação comercial. O governo francês sempre demonstrou mais tolerância em relação ao regime cubano e pede o fim das sanções ao país desde 1991. E Paris é um negociador-chave no futuro acordo de cooperação com entre a União Europeia e Cuba, cujas relações estão congeladas desde 1996.

“A França é vista como um ator essencial dentro do bloco europeu para avançar esse acerto. Em contrapartida, os franceses contam muito com Cuba na sua política externa na América Latina”, observa Stéphane Witkowski, presidente do conselho de gestão do respeitado Instituto de Altos Estudos sobre a América Latina (IHEAL) e membro do comitê de honra da associação Cuba Coopération France, uma entidade que prega o reforço dos laços entre os dois países. “Vemos uma verdadeira corrida desenfreada a Cuba desde o ano passado: 185 delegações estrangeiras foram ao país nos últimos tempos, incluindo 24 chefes de Estado. Todo o mundo tomou consciência do que está em jogo.”

Em 2015, o presidente François Hollande foi o primeiro líder ocidental a viajar a Havana desde o início da reaproximação do país com os Estados Unidos. Foi sob a liderança da França que o Clube de Paris, composto por 14 credores, cancelou os juros da dívida cubana, pendente havia mais de 50 anos, num valor de US$ 8,5 bilhões de dólares. Paris detém um terço dessa dívida.

O restante do valor devido, US$ 2,6 bilhões, será quitado por Havana em 18 anos, em um acordo finalizado durante a visita de Castro à capital francesa. Uma parte será paga em dinheiro e a outra, sob a forma de projetos realizados por empresas francesas em Cuba.

Mão de obra qualificada é bem-vinda

O alto nível de educação dos cubanos é visto como um atrativo importante do país, que tem uma posição estratégica na América Central.

“80% do PIB cubano é constituído de serviços, devido ao altíssimo nível de formação dos cubanos. O país tem vocação a se tornar uma terra de exportação de serviços com alto valor agregado. Por isso, grupos de biotecnologia estão muito interessados em se instalar lá”, explica Witkowski. “A Abivax, por exemplo, assinou acordos muito importantes com um polo cubano de biotecnologia.”

Pensando no futuro, Brasil se implantou antes

Em novembro, Havana atualizou a lista de projetos disponíveis para investidores estrangeiros, num total de US$ 8,1 bilhões, nas áreas de turismo, exploração de petróleo e agroalimentar. Dos 326 projetos, 20 ficam na zona especial de desenvolvimento de Mariel, com vantagens fiscais.

O porto, financiado com recursos do Brasil, coloca Brasília em uma posição privilegiada para os negócios com Cuba. “A presença do Brasil não se limita só ao porto de Mariel: tem muito investimento em infraestrutura de transportes, na exploração de petróleo na região do Caribe, acordos em biotecnologia e medicamentos, além da recuperação da indústria açucareira, com o etanol”, destaca Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Os investimentos brasileiros foram pensados na perspectiva do fim do embargo americano. Foi uma aposta positiva e estrategicamente interessante”, analisa o autor de “A Revolução Cubana”.

Dificuldades são grandes, mas não bloqueiam investidores, diz analista

Quem quiser investir em Cuba ainda precisa de paciência devido a uma série de barreiras. Enquanto o embargo não cair completamente, os Estados Unidos poderão punir as companhias instaladas em solo americano que fizerem negócios com a ilha, inclusive as estrangeiras. Multas milionárias já foram aplicadas a bancos franceses, um risco que afugenta os investidores.

Apesar da entrada progressiva no mercado internacional, a economia cubana permanece sob a mão forte do Estado, marcada pela lentidão e a burocracia. O protecionismo continua elevado – um estrangeiro não pode comprar imóveis no país e a contratação de empregos precisa passar pela agência nacional de empregos, que recolhe mais da metade dos salários dos trabalhadores. Mas para o professor Ayerbe, esses problemas não são mais tão importantes quanto já foram no passado.

“Hoje em dia, os países são muito pragmáticos. O importante não é se o governo cubano tem o controle sobre a economia ou não, e sim se ele é um parceiro confiável e aquilo que ele promete será cumprido”, garante. “O maior exemplo disso foi a China, que passou a ser encarada como economia de mercado, e o regime político da China é equivalente ao de Cuba.”

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