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Radar econômico

Chegada de imigrantes pode beneficiar economia da Europa

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O desembarque de milhares de imigrantes na União Europeia assusta os governos de países menos desenvolvidos, como a Hungria, e até de potências mundiais, a exemplo do Reino Unido. Eles alegam que os estrangeiros atrapalhariam a lenta recuperação econômica no bloco. No entanto, especialistas advertem que o efeito pode ser justamente o contrário: os imigrantes podem gerar resultados positivos na economia.

Refugiados sírios fazem fila para poder ser registrados na Grécia, em 11 de agosto de 2015.
Refugiados sírios fazem fila para poder ser registrados na Grécia, em 11 de agosto de 2015. REUTERS/ Yannis Behrakis
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Os países que enfrentam as consequências do envelhecimento da população e têm uma legislação trabalhista mais flexível, como a Alemanha, seriam os maiores beneficiados. O coordenador do departamento de migrações internacionais da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), Jean-Christophe Dumont, afirma que o medo do aumento do desemprego devido à imigração é normal – mas injustificado.

“Inúmeros estudos econômicos sobre essa questão não conseguiram mostrar impactos negativos da imigração nem sobre o desemprego, nem sobre os salários. O único efeito constatado foi sobre os imigrantes que já estão instalados no país em questão, que sofrem essa concorrência”, afirma.

A estratégia de recepção de migrantes deve ser pensada a médio prazo. Os maiores custos envolvidos com a chegada em massa dos imigrantes ocorre na fase inicial, como agora, em que é necessário providenciar apoio emergencial aos estrangeiros.

“Mesmo assim, esse custo é mínimo. A Alemanha acaba de desbloquear € 4 bilhões para a questão dos migrantes. Para se ter uma ideia de grandeza, gasta-se € 43 bilhões por ano em jogos de azar na França”, diz o pesquisador do CNRS Thibault Gajdos.

Mão de obra qualificada

Em um segundo momento, os estrangeiros se integram à força de trabalho dos países – a maioria deles, em setores qualificados da economia, como observa Gaspard Koenig, diretor do think tank GenerationLibre.

“Ao contrário do que podem indicar as fotos, não estamos diante de analfabetos. Um relatório da associação Secours Catholique mostra que mais da metade dos imigrantes em Calais [norte da França] tem um diploma universitário”, sublinha. “São professores, engenheiros, médicos, especialistas em informática: uma série de profissionais que podem ser úteis em qualquer sociedade."

Aumento do consumo e da arrecadação

Dumont ressalta que, uma vez estabelecidos nos novos países, os imigrantes passam a contribuir para melhorar as estatísticas de consumo e arrecadação. “Essas pessoas não viram somente novos trabalhadores: elas consomem, se alimentam, pagam impostos, como qualquer outro cidadão. Ou seja: elas acrescentam oferta, mas também acrescentam demanda”, explica.

Gajdos lembra que, em alguns casos, a imigração em massa pode melhorar os salários da população, ao ocupar postos de trabalho menos qualificados e levar os nacionais a subirem de categoria.

“Eu acho que a questão da oportunidade econômica não deve ser determinante para acolhermos os migrantes. Não deve ser esse o fator a definir se vamos fazê-lo ou não, mas sim como vamos fazer”, destaca. “Com 25% da riqueza mundial e 500 milhões de habitantes, a Europa pode recebê-los. E maneira como isso será feito terá um impacto sobre o quanto eles poderão se integrar e contribuir com a nossa economia.”

Para Koenig, o desafio da imigração força os europeus a se modernizarem e a reformarem legislações “ultrapassadas”. “Só pode dar certo em uma economia flexível. Para que a imigração não gere efeitos negativos na França, por exemplo, são necessárias mais reformas no Código do Trabalho francês”, observa o escritor.
 

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