Quem está com uma viagem marcada para o exterior acompanha com apreensão a alta do dólar e do euro em relação ao real. O movimento se acentuou em junho e não dá sinais de regressão. As incertezas na economia brasileira fazem com que a tendência de desvalorização da moeda brasileira permaneça a curto prazo – mas tudo pode mudar, se o governo conseguir reverter os indicadores.
Os especialistas têm dificuldade em prever o que vem pela frente. O professor de macroeconomia da Universidade Mackenzie Pedro Vartanian acha improvável que as moedas americana e europeia recuem nas próximas semanas, já que as crises política e econômica só se aprofundam no Brasil.
“A tendência veio para ficar, pelo menos no curto prazo, principalmente diante do fato de que houve um aumento da desconfiança em relação à economia brasileira. Os investidores buscam mercados mais seguros e, consequentemente, há uma perda do valor do real em relação a outras moedas, como o dólar e o euro”, explica.
O anúncio de que o governo não vai cumprir a meta do superávit primário em 2015 gerou mais pressão sobre o câmbio. A mudança do objetivo sinaliza que o país não está conseguindo fazer o ajuste fiscal, em meio ao conflito crescente com o Congresso. Os parlamentares têm adotado medidas que geram ainda mais gastos para os cofres públicos, em vez de cortar as despesas.
“Isso impacta nas expectativas para o futuro, em relação aos gastos com a previdência, a folha de pagamentos, que só têm crescido com as medidas que o Congresso tem tomado”, lembra o professor de Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) Flávio Fligenspan. “A consequência imediata disso é a possibilidade da perda do grau de investimento pelas agências de classificação de risco, que levaria à saída grande de dólares do país. Esse é o problema.”
Temor sobre o grau de investimento
A eventual perda do grau de investimento faria o dólar disparar facilmente acima de R$ 4. Fligenspan observa que, de qualquer maneira, a moeda americana estava artificialmente valorizada até o ano passado, e a correção monetária para em torno de R$ 3,2 já era esperada para este ano.
“Talvez ainda esteja em um momento de exagero. Quem comprar agora para entrar na onda pode acabar pagando caro. Mas não há certeza disso”, destaca o professor da UFRGS. “Conseguir fazer previsão de movimento de dólar ainda em momentos de instabilidade e turbulências é um exercício de cartomante. É muito difícil.”
Turismo no exterior
Os especialistas aconselham os turistas a permanecerem atentos à subida do dólar e do euro. Na opinião de Vartanian, o ideal seria adiar a viagem para o início de 2016, quando a volatilidade do câmbio deve estar menor.
“Mas quem não pode adiar a viagem, o ideal é já ter os gastos neste momento, em reais e evitar usar o cartão de crédito, que pode resultar em uma conta bem maior depois”, ressalta o professor da Mackenzie. “Se a viagem é nos próximo dois meses, você pode fracionar a compra de câmbio em três partes: uma parte agora, outra daqui a 30 dias e a última mais perto da viagem. Dessa forma, você tem um preço médio da moeda.”
Ação do Banco Central
Os dois especialistas divergem sobre a recente intervenção do Banco Central para conter a alta do dólar. Vartanian avalia que é o mercado que deveria estabilizar o câmbio. Mas Fligenspan considera que a atuação do BC foi correta, já que a valorização ainda maior do dólar geraria mais inflação e recessão.
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