Acessar o conteúdo principal
Radar econômico

Avião barato faz Europa abandonar trens em viagens longas

Publicado em:

O tempo em que os mochileiros viajavam a Europa inteira de trem pode estar com os dias contados. Pouco a pouco, os longos trajetos entre os países estão sendo abandonados pelas companhias ferroviárias. A tendência também é por diminuição dos destinos que registram fraca demanda, nas pequenas cidades do interior.

Linha Belfort-Paris  de trem Intercité.
Linha Belfort-Paris de trem Intercité. xooimage.com/Thomas Brecheisen
Publicidade

Nos diferentes países europeus, como França, Itália ou Espanha, o transporte ferroviário acumula contas no vermelho, à exceção dos trajetos feitos por trens-bala, o TGV. A chegada das companhias aéreas low cost mudou os hábitos dos passageiros. Para as longas distâncias, eles agora preferem abandonar os trilhos por uma viagem mais curta e mais barata, de avião.

Na França, o TGV mantém um público fiel, especialmente para os trajetos de até quatro horas. Os trens metropolitanos, que garantem o transporte da periferia para as grandes cidades, também têm um futuro garantido pela frente. O problema é o serviço regional Intercités - seus trens velhos e lentos circulam cada vez mais vazios. O déficit nesse setor vai chegar a € 400 milhões em 2015.

Uma comissão nomeada para avaliar a pertinência de alguns trajetos concluiu que cinco linhas Intercités deveriam fechar. No lugar, os parlamentares e especialistas propõem a abertura de concorrência para ampliar a oferta de ônibus. O deputado socialista Philippe Duron, presidente da comissão, quer adaptar a oferta à demanda.

“Eu acho que precisamos oferecer soluções do nosso tempo, para cada parte do território. O trem exige muita gente: é um meio industrial para atender uma grande população”, destaca. “Se, em vez de ter um trem que faz um trajeto ida e volta uma vez por dia, trocarmos por cinco ônibus por dia, eles vão levar o mesmo número de pessoas, em mais opções de horários.”

Subvenção cara

Duron dá o exemplo do trem que liga Bordeaux a Lyon, uma viagem que dura mais de seis horas e custa 137 euros para o passageiro, além dos 281 euros de subvenção do Estado para o trajeto. Ou seja, a passagem sai por 418 euros, valor quatro vezes superior a uma reserva de avião. Nas viagens internacionais, a situação se repete. Desde o ano passado, não há mais trem entre Paris e Berlim ou Paris e Madrid.

O economista especialista em transportes Yves Crozet constata que a rede ferroviária francesa, de 30 mil quilômetros, se tornou grande demais para a demanda. “Para os usuários, é evidente que o trem é mais confortável. Mas não é a vontade dos usuários que conta, é o custo por passageiro”, explica. “Apesar das subvenções, o número de passageiros continuou a cair, os custos da empresa ferroviária continuaram aumentando e a equação não se resolve mais.”

Futuro

O professor da Sciences Po de Lyon ressalta que, além de precisar de mais funcionários para operar, o trem ainda consome três vezes mais combustível que um ônibus, quando é movido a diesel. “Não se deve achar que a França está fechando a maioria das linhas. Por enquanto, não é nada disso, mas pode estar ocorrendo um fenômeno anunciador”, afirma. “Como vamos abrir as estradas para os ônibus, pode haver mais trajetos fechados no futuro. Pode ser o sinal de um movimento.”

A promessa de encerramento de linhas locais já causa polêmica, uma briga que, se comprada pelo governo, promete ser nada fácil. Os sindicatos dos ferroviários, uma das categorias profissionais mais poderosas da França, afirmam que os trajetos ameaçados foram abandonados de propósito pela companhia nacional. Eles também temem que algumas localidades fiquem à margem do transporte público, por serem menos atraentes até para as empresas de ônibus.

“Eu não sou a favor do déficit constante e de um endividamento colossal, mas há uma margem de déficit que pode ser suportada pela sociedade em nome do interesse de todos”, diz Didier Le Reste, vice presidente do coletivo Convergência Nacional Rail. “Quem vai cuidar da mobilidade nessas regiões, especialmente nas montanhas? A resposta não é ‘ônibus’, uma solução que significará o início do fim do transporte público para essas regiões, porque as empresas de ônibus também vão querer lucros.”
 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.