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Radar econômico

Obcecada por rigor fiscal, Alemanha sofre retração da economia

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A boa aluna da Europa está de recuperação. Os últimos números do crescimento, das exportações e da produção industrial da Alemanha indicam que o país está em desaceleração econômica. A crise internacional é apontada como a principal causa para o momento negativo, mas a falta de investimentos nos últimos anos também prejudica o desempenho do país, a locomotiva econômica da zona do euro.

Pressão para chanceler alemã, Angela Merkel, aumentar os investimentos na Alemanha está crescendo.
Pressão para chanceler alemã, Angela Merkel, aumentar os investimentos na Alemanha está crescendo. REUTERS/Stringer
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O governo disse que a previsão de aumento do PIB de 2014 será menor do que o 1,8% esperado. Na semana passada, quatro institutos de análise também revisaram para 1,3% as previsões de crescimento, depois de o país ter dois recuos consecutivos no primeiro e no segundo trimestres do ano. Se a queda continuar no terceiro trimestre, a Alemanha entra oficialmente em recessão técnica.

Apesar da grave crise na Europa, a Alemanha vinha conseguindo superar as turbulências graças a uma indústria forte e uma competitividade acima dos parceiros europeus. O índice de desemprego também permanece baixo, de 6,7%, o segundo menor do bloco. Mas como 40% das exportações alemãs vão para a zona do euro, o país acabou atingido pela conjuntura internacional, como explica o pesquisador Christophe Blot, especialista do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), da Sciences Po.

“A zona do euro continua claramente com baixo crescimento, ou não consegue retomá-lo, a exemplo da França ou da Itália. Como a Alemanha está muito dependente do comércio exterior, é natural que a saúde frágil da zona do euro também pese no crescimento alemão”, observa. “O modelo econômico do país nos últimos anos foi baseado em uma forte competitividade e nas exportações. Hoje, seria necessário estimular a demanda interna, esperando que o consumo interno se acelere, graças a uma dinâmica mais favorável dos salários, ou graças a uma retomada dos investimentos.”

Baixos salários

Para Blot, este seria um bom momento para Berlim tentar melhorar os salários, que estão entre os mais baixos da Europa. Essa é uma das chaves da competitividade alemã, mas também explica o fato de o mercado interno ser pouco dinâmico.

Criticada por impor a austeridade e o equilíbrio fiscal como solução para a crise na Europa, Berlim agora se vê obrigada a repensar os gastos para estimular o crescimento na Alemanha. Economistas alertam que é necessário um plano de investimentos em infraestruturas, pesquisa e educação. A chanceler Angela Merkel é reticente a essa alternativa, mas se mostra aberta ao diálogo com os partidos que fazem parte da coalizão no poder.

“Não se trata necessariamente de colocar em questão o modelo alemão. Mas talvez este modelo tenha chegado ao limite. Depois da reunificação alemã, o país precisava ganhar competitividade, e hoje a Alemanha permanece muito forte, com uma indústria muito competitiva, com produtos de ótima qualidade, que vendem bem. Mas agora é preciso encontrar outras fontes de crescimento”, explica Blot.

Impacto na Europa

A desaceleração alemã traz preocupações para o restante da Europa, a maior parceira comercial do país. Para o economista do OFCE, a principal consequência da situação alemã será política, ao influenciar as negociações sobre os rumos da economia da União Europeia, que vinha sendo dirigida pela rigidez orçamentária imposta por Berlim.

“Essa situação pode pesar no debate, instaurado principalmente pela França, sobre as políticas de austeridade serem mantidas ou até ampliadas na Europa, com o risco de prolongar a desaceleração ou até criar uma nova recessão na zona do euro. Pode também resultar em consequências no debate sobre um plano europeu de investimentos, que visa tentar sair da crise através de mais investimentos”, ressalta o pesquisador, especialista em economia europeia.

Segundo Christophe Blot, a instabilidade gerada pela crise na Ucrânia aumenta o clima de incertezas para os investidores, mas não tem impacto direto na economia alemã. Apenas 3% das trocas comerciais do país são feitas com a Rússia, alvo de sanções internacionais em represália à atuação no conflito ucraniano.

 

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