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Radar econômico

Plano de austeridade francês deve bloquear o retorno do crescimento

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Esta terça é um dia decisivo para o novo governo francês. Na Assembleia Nacional, os deputados vão votar o chamado programa de estabilidade 2014-2017, anunciado pelo primeiro-ministro Manuel Valls na semana passada. O plano provocou uma onda de contestação dentro do próprio Partido Socialista, com parlamentares prometendo boicotar o texto por julgar que o projeto afeta os menos favorecidos.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, apresentou o programa de estabilidade Asembleia Nacional na semana passada.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, apresentou o programa de estabilidade Asembleia Nacional na semana passada. REUTERS/Charles Platiau
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O programa prevê uma redução de 50 bilhões de euros nos gastos públicos nos próximos três anos, e não poupa nem as aposentadorias. As pensões superiores a 1.200 euros ficarão congeladas até o final do ano que vem, uma medida que chocou a ala mais à esquerda do PS.

Na opinião do economista Eric Heyer, do Observatório Francês de Conjuntura Econômica, ligado à Sciences Po, o plano vai comprometer o retorno do crescimento econômico no país, ao contrair os investimentos e o poder aquisitivo dos franceses. “As consequências dessas economias sobre o crescimento são reais, ainda mais porque elas serão feitas de uma maneira muito rápida. Estão pedindo o equivalente a 3% do PIB em três anos. É algo jamais visto na França, e o governo decidiu fazê-lo não com reformas estruturais, mas com reformas paramétricas, atingindo os salários ou diminuindo os orçamentos das regiões”, explica. “Portanto é preciso esperar um novo freio ao crescimento econômico por causa dessas reduções dos gastos públicos.”

O programa de Valls visa a atender às exigências da Comissão Europeia de redução do déficit para 3% do PIB, uma meta estabelecida nos acordos do bloco europeu e que a maioria dos países-membros extrapolou no auge da crise das dívidas, entre 2009 e 2011. Para Eric Heyer, esse objetivo é a principal causa para atrasar a retomada da atividade econômica na zona do euro, ao sacrificar os investimentos que, controlados, fariam os países voltarem a crescer.

“É preciso lembrar que a zona do euro é a única do mundo a ter sofrido recessão em 2012 e 2013. O crescimento estava de volta em todo o mundo, mas nós fomos os únicos a ter adotado essa estratégia, que foi muito destruidora da atividade econômica”, avalia.

Tensão social

Além do plano de austeridade, o governo francês também prometeu reduzir os encargos trabalhistas para as empresas, para estimular a abertura de empregos. Mas essa redução das taxas para os empresários não é bem vista pelos sindicatos, que têm demonstrado cada vez mais insatisfação com o governo de François Hollande.

O economista Michel Aglietta, membro do Alto Conselho de Finanças Públicas, uma entidade independente que avalia a credibilidade das promessas e expectativas econômicas do governo, acha que se os resultados positivos enfim começarem a aparecer, a população tende a aceitar melhor as medidas difíceis para ajustar as contas públicas do país. “É preciso obter resultados tangíveis que a população possa verificar. Ao longo de um ano, ou seja, se no final de 2014 não houver nenhum resultado para a diminuição do desemprego, seria realmente muito difícil para o governo”, afirma. “Não adianta um mês ser positivo e no mês seguinte voltar atrás. É preciso ser capaz de ter um processo regular de redução do desemprego por pelo menos três ou quatro meses, que permitiria dizer que nós entramos em uma outra dinâmica.”

Aglietta adverte que o prazo médio para um país desenvolvido equilibrar de vez o caixa é de uma década. No ano passado, o déficit francês foi de 4,7% do PIB.
 

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