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Radar econômico

Pesquisador francês diz que “todas as grandes petrolíferas têm corrupção”

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A Petrobras, a principal companhia brasileira, passa por uma crise de credibilidade sem precedentes desde a descoberta do pré-sal. As denúncias de corrupção e as suspeitas sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pioram o quadro, mas analistas consideram que são apenas mais um fator que afeta a confiança dos investidores na empresa, em uma situação que já estava degradada.

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O pesquisador francês Thomas Porcher, autor de Un baril de pétrole contre 100 mensonges (Um barril de petróleo contra 100 mentiras, em tradução livre), ressalta que a história das grandes companhias petrolíferas sempre esteve intimamente ligada à corrupção. “A opacidade na indústria petrolífera é tanta que a corrupção sempre foi a regra. Basta olhar o ranking da Iniciativa pela Transparência nas Indústrias Extrativistas e você verá que a francesa Total nem sempre esteve bem classificada. Antes, ela tinha um nível fraco e hoje tem um nível médio, e é a principal companhia da quinta potência mundial”, afirma.

Porcher lembra que, na França, um grande escândalo de corrupção envolvendo a companhia Elf custou o cargo para o ministro das Relações Exteriores da época, Roland Dumas. No caso francês, por essa e outras razões, a empresa acabou privatizada pela Total. Para o professor da ESG Management School e da Paris Dauphine, nada leva a crer que o caso brasileiro seja parecido, mas os danos para a confiança podem ser inevitáveis.

“É claro que as denúncias podem ter um efeito muito ruim para os acionistas, porque pode-se prever uma queda do valor da companhia, ou uma reestruturação, se houver mudança na direção, depois de um caso de corrupção”, diz. “Mas de uma maneira global, acho que é difícil de encontrar uma única companhia, entre as grandes, que não tenha se envolvido em um caso de corrupção.”

Queda nas ações

Desde o ano passado as ações da Petrobras caem até chegarem ao piso de R$ 13, depois de terem atingido um pico de R$ 38 em 2009. A política de controle de preços de derivados do petróleo para conter a inflação, a alta demanda de investimentos para o pré-sal - com aumento do endividamento - e a pressão para a exploração dão óleo são os principais fatores que provocaram a queda.

Marcelo Allain, diretor da Deux Consultoria e professor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP, destaca que os preços se mantiveram estáveis depois da divulgação dos escândalos. “Uma leitura que o mercado possa ter é que, no médio prazo, os escândalos beneficiem a companhia, ao trazer mais luz e mais foco sobre a Petrobras, e se consiga ter uma limpeza ética e uma melhoria das práticas da companhia nos próximos anos”, avalia.

Allain observa que a compra da refinaria de Pasadena, por 10 vezes o valor de mercado, antes de mais nada reflete os problemas de gestão por que passa a Petrobras. “Nós temos visto problema na forma como as decisões foram tomadas, na transparência com que isso foi comunicado ao mercado, na participação do conselho de administração. Além das questões de trafico de influência, fica a seguinte preocupação: qual a preocupação estratégica que levaria a Petrobras a comprar, em parceria, uma refinaria nos Estados Unidos?”, observa. “Essa é uma questão que não foi respondida, e que mostra que várias decisões, ainda não tenha havido corrupção, são questionáveis sob o ponto de vista estratégico, pelos investidores.”

Solidez

Apesar do contexto desfavorável, o analista considera que a companhia dispõe de todos os elementos para dar a volta por cima e se reerguer. “Não é um momento bom, mas a Petrobras é uma companhia muito sólida, tem grau de investimento para as agências de classificação de riscos, tem uma tecnologia de exploração em águas profundas muito bem avaliada internacionalmente. Tem muitos méritos em termos de engenharia de exploração de petróleo e gás.”

 

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