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Radar econômico

Investimento de emergentes estão na mira de Hollande

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As empresas de países emergentes com ambições internacionais estão na mira do governo francês. Nesta segunda-feira (17), presidente François Hollande anunciou uma série de medidas para atrair mais companhias estrangeiras para o país. Facilitação para vistos, ampliação da agência de investimentos estrangeiros, estabilidade fiscal e desburocratização para o comércio e a abertura de start ups são as principais armas do governo para seduzir o capital internacional.

O presidente francês, François Hollande, quer atrair mais investimentos para a França.
O presidente francês, François Hollande, quer atrair mais investimentos para a França. REUTERS/Philippe Wojazer
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Diante de 34 representantes de empresas estrangeiras de pequeno a grande porte, o presidente, acompanhado de 11 ministros, colocou os países emergentes como prioridade. Segundo ele, 10% dos investimentos em 2014 virão destas economias, um índice considerado “muito baixo” por Hollande. “Estes países são muito dinâmicos, têm um forte crescimento. Eles devem estar mais representados na França”, disse.

O empresário Carlos Liguori era um dos brasileiros presentes no encontro. Ao lado de um francês, ele está instalando a Fusion Ingredients na cidade de Dijon. Aliada à tecnologia, a empresa vai produzir alimentos secos, como temperos.

O paulista conta que a Agência Francesa de Investimentos Estrangeiros ofereceu uma ajuda inesperada para a abertura do negócio, facilitando o processo. Entretanto, o alto custo da mão de obra na França e as tributações excessivas são uma preocupação, manifestada pelos empresários na reunião de ontem, no Palácio do Eliseu. Mas a impressão de Liguori é de que o governo francês está decidido a melhorar o clima de negócios.

“Eu acho que sim. Ao sair de lá, conversei com outros participantes e alguns deles nunca tinham visto nada parecido na França”, relata. “Inclusive o governo já marcou uma nova reunião para daqui a seis meses, talvez não com as mesmas pessoas, para dar um acompanhamento neste assunto.”

Parceria de duplo sentido

Almir do Nascimento, chefe do setor de promoção comercial da embaixada do Brasil em Paris, observa que os empresários brasileiros tendem a se dirigir aos países anglo-saxões, mas a França pode oferecer uma parceria vantajosa.

“O mercado da França é maduro e tem um alto nível de competição, mas ele é muito interessante porque tem muita complementaridade com o que queremos no Brasil: que as nossas empresas tenham mais conteúdo tecnológico, que façam produtos e serviços de melhor qualidade”, explica. “Os brasileiros ainda estão muito habituados a só gastar dinheiro na França. É preciso que eles aprendam a ganhar dinheiro aqui também.”

Nascimento destaca que ainda existem muitos estereótipos sobre o investimento no país. A questão do custo alto do trabalho, por exemplo, é compensada por uma mão de obra de qualidade. “O que, de certa forma, neutraliza essa dificuldade é o fato de se ter gente muitíssimo bem preparada e disponível para tocar logo o negócio. E sobre a parte fiscal e tributária, existem mecanismos como o Crédit Impôt Recherche [Crédito Imposto Pesquisa], que simplificam e barateiam a atividade produtiva aqui”, ressalta.

França perdeu muitos investimentos em 2013

A economista Sarah Guillou, do Observatório Francês de Conjuntura Econômica, lembra que por enquanto as medidas de Hollande são apenas anúncios, mas desde que a ONU divulgou dados sobre a queda de 77% dos investimentos diretos na França em 2013, o país se via na obrigação de reagir. Os franceses foram os que mais perderam investimentos na Europa, resultado de um econômico desfavorável para o lucro, segundo Guillou.

“Hollande está em um processo de estabilização. Ele busca diminuir o custo de trabalho na França para melhorar a margem de lucro das empresas, tenta privilegiar uma política de oferta, depois de ter sido muito restritivo sob o plano fiscal”, recorda. “Eu acho que todos estes compromissos são honestos, mas será que ele vai conseguir cumpri-los? Há tantas lógicas por vezes contraditórias que gerenciam as escolhas fiscais e as diferentes medidas políticas, que não vai ser tão fácil manter essa estabilidade.”

A especialista em política industrial e comercial pondera que, embora o ambiente de negócios seja importante, ainda é o potencial de demanda que mais interfere nas escolhas dos investidores. “A percepção era de que a França havia perdido muita demanda com a crise, mais do que a Alemanha ou a Itália. Agora este cenário pode começar a se reverter.”
 

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