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Radar econômico

Modelo contra a crise, Alemanha tem baixos salários e pobreza elevada

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Atrás do título de maior economia da Europa e quarta maior potência mundial, a Alemanha esconde uma realidade muitas vezes difícil sob o ponto de vista social: o país tem índices elevados de pobreza e os baixos salários foram um dos principais temas da campanha eleitoral para as eleições legislativas do último domingo. Os social-democratas queriam instaurar um salário-mínimo na Alemanha, algo que não existe no país.

Uma moradora de rua procura comida na praça Alexanderplatz, em Berlim.
Uma moradora de rua procura comida na praça Alexanderplatz, em Berlim. REUTERS/Thomas Peter/files
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De acordo com o Instituto Federal de Estatísticas da Alemanha Destatis, 15,8% dos alemães correm o risco de ficar pobres, contra 14% na França ou na Suécia. A média europeia é de 16,9%. Os aposentados são os mais atingidos pelo problema, muitos deles com rendas mensais que não chegam a 952 euros, considerada a linha de pobreza no país. A queda da demografia alemã só piora situação, por mais que o país tenha se aberto à imigração profissional.

As regras trabalhistas flexíveis e o baixo custo da mão de obra, em comparação com a vizinha França ou outras economias ricas da Europa, são algumas das chaves para explicar a alta competitividade do país e os baixos índices de desemprego, apesar da crise internacional. Isso só é possível porque, na Alemanha, os salários são negociados diretamente entre os sindicatos e os empresários.

Mas esta situação está sendo cada vez mais questionada, como explica Sabine Le Bayon, especialista na economia alemã do Observatório Francês da Conjuntura Econômica, ligado à Sciences Po, em Paris. “Sentimos cada vez mais, nos últimos anos, que a pressão está aumentando. Inicialmente, somente alguns sindicatos apoiavam um salário-mínimo legal como na França, imposto pelo Estado. Mas pouco a pouco, mais sindicatos foram se unindo a esta causa, enquanto uma parte dos empresários está menos reticente”, explica. “Além disso, a opinião pública está vez mais sensível a este assunto porque vários estudos mostram, por exemplo, que há quase 2 milhões de alemães que ganham menos do que 5 euros por hora, 22% dos assalariados ganham pouco na Alemanha, contra 6% na França, e tem muitas pessoas em trabalhos precários que ganham extremamente mal e que não têm os mesmos benefícios.”

Sabine Le Bayon acha que dificilmente a Alemanha vai passar a ter um salário-mínimo, mesmo que a chanceler Angela Merkel, reeleita no domingo, forme uma aliança com os social-democratas. Reformas no sistema de negociações trabalhistas, entretanto, devem ser feitas para evitar salários baixos demais, o que estava comprometendo o consumo interno na Alemanha.

“Nos últimos dois anos, com a lenta retomada do comércio internacional e com as taxas de desemprego muito baixas, os sindicatos estão conseguindo negociar bons aumentos salariais nos setores industriais, que se repercutem parcialmente no restante dos assalariados. Isso faz com que o consumo interno esteja mais dinâmico do que antes”, afirma. Graças à sua indústria forte, a Alemanha é a segunda maior exportadora mundial de bens de consumo, atrás da China.

 

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