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Eleições: apesar dos traumas da Covid e do desmatamento, Manaus está dividida quanto a Bolsonaro

Embora a região amazônica tenha sofrido durante o governo de Jair Bolsonaro – tanto no aspecto ambiental, quanto durante a pandemia de coronavírus –, as opiniões permanecem divididas em relação ao presidente. Em 2018, o candidato venceu em seis dos nove estados amazônicos. Em Manaus (AM), a vitória foi esmagadora, com mais de 65% dos votos.

Em Manaus, a médica Eliane se define como uma "bolsonarista de coração" e já avisa que não reconhecerá resultado da eleição se Lula vencer no primeiro turno.
Em Manaus, a médica Eliane se define como uma "bolsonarista de coração" e já avisa que não reconhecerá resultado da eleição se Lula vencer no primeiro turno. © Achim Lippold / RFI
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Do enviado especial da RFI a Manaus, Achim Lippold

Eliane faz compras no centro da cidade e, no vidro traseiro de seu carro, colou um grande adesivo de Jair Bolsonaro. Eliane é uma “bolsonarista de coração”, conta ela, que faz parte de uma associação de médicos que apoiam o presidente. Na sua avaliação, Bolsonaro lançou "uma revolução" no país, melhorou "hospitais, escolas e rodovias".

O que ela acha da gestão do presidente da Covid-19, cuja administração a Comissão Parlamentar de Inquérito na Câmara considerou "criminosa"? “Tudo o que ele podia fazer contra a Covid, ele fez. Há muita mentira circulando sobre esse assunto”, defende a apoiadora do atual presidente. “São lendas, notícias falsas. Posso garantir que tudo o que se fala na Europa, nos Estados Unidos e em outros países sobre o presidente em relação ao Covid, é mentira.”

Candidatura indígena nasce da “raiva” contra Bolsonaro

Discursos como o de Elaine deixam revoltada Wanda Witoto, enfermeira indígena que mora em um bairro ao norte de Manaus, apelidado de "Parque das Tribos". Segundo ela, sua comunidade “viveu uma violência muito grande durante esta pandemia” por parte das autoridades brasileiras.

“A pandemia me marcou para sempre. Vivemos ainda mais cruelmente o abandono do Estado. Minha comunidade não recebeu nenhuma ajuda, nem do Ministério da Saúde, nem das autoridades municipais. Nenhuma ambulância veio buscar os doentes, as pessoas estavam morrendo e os únicos que vieram foram os agentes funerários para recolher os corpos e jogá-los em valas comuns em Manaus”, denuncia.

Quase dois anos depois, a emoção ainda está viva em sua voz ao evocar esse período doloroso. Abalada pela tragédia, Wanda Witoto tomou uma decisão: entrar na política. Ela está concorrendo a uma vaga na Câmara dos Deputados de Brasília para defender melhor os interesses de seu povo contra a pressão do agronegócio.

"Não vejo desmatamento"

A jovem, muito ativa nas redes sociais, recebeu o apoio de Lula, mas ainda luta para convencer alguns de seus vizinhos nativos. No Parque das Tribos, onde vivem cerca de 12 mil indígenas de cerca de 30 etnias diferentes, cartazes de Jair Bolsonaro são bem visíveis.

Chicão, um socorrista do Samu de Manaus, é um dos apoiadores do presidente. Ele vai votar no próximo domingo em Jair Bolsonaro. Enquanto os incêndios devastam a região e a fumaça do sul da Amazônia já chega a Manaus, ele questiona a gravidade do desmatamento.

“Não sei”, explica Chicão, “falam em desmatamento, mas quando subo o Rio Negro em direção a Santa Isabel, não vejo desmatamento. Só floresta e mais floresta. O desmatamento deve ser maior nos estados do Pará e Maranhão, próximos às rodovias", avalia.

"Nosso país deixou penas"

Para a jornalista Katia Brasil, diretora do site de informações AmazoniaReal, o balanço de Jair Bolsonaro na Amazônia é pesado. “Tem gente hoje que está passando fome no Brasil, principalmente pobres, negros e indígenas, que vivem e trabalham nos subúrbios das grandes cidades”, explica à RFI, sem esconder uma certa emoção. "Devemos ajudar esses subúrbios, montar programas de educação, para garantir que o país encontre seu caminho."

Segundo o jornalista, o Brasil perdeu "muito encanto" sob o presidente Jair Bolsonaro, embora ele permaneça popular em Manaus. “Passamos por duas tragédias durante a pandemia, a falta de leitos hospitalares e a falta de oxigênio. Mas tenho a impressão de que os habitantes desta cidade os esqueceram, foram anestesiados”, diz a jornalista.

“Se Bolsonaro não ganhar é porque houve fraude”

Katia Brasil espera ansiosamente pela vitória de Lula, se possível no primeiro turno. Para Eliane, a fervorosa bolsonarista, tal cenário significaria necessariamente que as eleições foram fraudadas: "Se Bolsonaro não vencer no primeiro turno, pode ter certeza que houve fraude, que as urnas foram roubadas e havia irregularidades”, sustenta.

Comentários como este são amplamente compartilhados nas redes sociais e constituem o núcleo duro das “fake news” lançadas pelos ativistas do presidente. Há poucos dias da eleição, seu partido, o PL, também questionou a confiabilidade do sistema eleitoral. A consequência eleitores como Eliane já decidiram não reconhecer uma possível vitória de Lula.

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