"A gente trabalha, treina, acorda e dorme pensando em medalhas”, diz coordenadora do judô feminino do Brasil
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A pouco mais de cinco meses do início das Olimpíadas de Tóquio, as seleções de judô entraram na fase decisiva de treinos e competições que irão definir os atletas que representarão o país nos Jogos. Coordenadora da seleção feminina, Rosicleia Campos mostra otimismo com um bom rendimento das atletas, que nos últimos anos têm sido o principal destaque do país no cenário internacional.
Com duas medalhas de bronze no último Grand Slam de Paris, conquistadas por Larissa Pimenta e Beatriz Souza, o judô feminino mais uma vez garantiu o Brasil no pódio de um dos mais importantes torneios do circuito. O resultado poderia ser melhor, já que o Brasil desembarcou com um total de 16 atletas, sendo 9 do masculino e 7 do feminino.
“O torneio de Paris é muito complexo porque para nós é o início de temporada. O calendário do Brasil é diferente do europeu. Temos as férias, festas de final de ano e é difícil encontrar treinamento”, explica a coordenadora da seleção brasileira feminina de judô, Rosicleia Campos.
Para contornar a dificuldade, a CBJ fez um planejamento que incluiu treinos de campo em Mittersil, na Áustria. “É tradicional da Europa, todas as principais atletas do circuito tradicional estavam treinando lá. O treinamento deu resultado porque as atletas chegaram bem (em Paris) e mesmo que não conseguiram medalhas, conseguiram fazer boas lutas”, acrescentou. “Minha queixa é com relação à arbitragem que estava bem ruim, bem tendenciosa”, desabafou.
Para o grupo de atletas que disputam uma vaga nas Olimpíadas, a coordenadora explicou que existe um planejamento específico e individual para acompanhar a evolução de cada judoca.
Mayra Aguiar tem praticamente sua vaga garantida em Tóquio, mas em outras categorais, como peso leve, ligeiro e meio leve, as possibilidades ainda estão abertas.
Cada país define seu próprio calendário, mas a Confederação Brasileira de Judô deve definir a equipe feminina que representará o país nos Jogos depois do Master de Doha, agendado para o final de maio.
“Há um grande número de pontos em cada luta vencida. Em uma única competição você pode mudar todo o ranking”, justifica Rosicleia, em referência ao principal critério para escolha das competidoras. “A partir de agora, é um ritmo muito forte, e as atletas têm consciência disso. Estamos em construção para fazer um bom resultado em Tóquio”, afirma.
Cobrança por medalhas
Acostumada com as cobranças, já que a modalidade olímpica sempre rendeu medalhas (22 no total) ao país, Rosicleia tem consciência que o judô também estará mais uma vez no foco das expectativas por mais pódios. “A gente trabalha, treina, dorme e acorda pensando nisso e lá na hora que a gente vê. Mas não é uma conta exata. A gente trabalha com muitas variáveis. Temos essa tradição (de ganhar medalhas), e que assim seja!” sorri, esperançosa.
E pelos resultados dos últimos anos, a seleção feminina é a que aparece em melhores condições de manter a tradição. Foram quatro medalhas nas últimas Olimpíadas, dois ouros com Rafaela Silva (2016) e Sarah Menezes (2012), e dois bronzes de Mayra Aguiar (2012 e 2016).
No último campeonato mundial, de 2019, o Brasil ganhou duas medalhas de bronze, novamente com Mayra Aguiar e Rafaela Silva, que se encontra suspensa.
Para a coordenadora da seleção feminina, o desempenho vitorioso das meninas é uma conjugação de fatores. “Nossa equipe feminina se tornou madura muito jovem. A Mayra e a Sara entraram para a seleção muito novinhas e conseguiram no decorrer dos anos ganhar uma experiência tão grande, mesmo sendo novas. Essa foi a grande diferença”.
“No feminino, a maturação é mais precoce. Temos atletas muito jovens. E, sem dúvida, para ser medalhista sênior, tem que ter feito uma boa campanha nas fases anteriores, juvenil e júnior. E isso faz diferença, por isso temos que prestar atenção na base”, exemplificou.
“Essa foi a diferença desta geração composta por Sarah, Rafaela Silva e Mayra Aguiar. Essa foi a diferença, a oportunidade e a experiência de ter figurado no circuito mundial tão cedo”, argumenta.
Esperança com Rafaela Silva
Sobre o caso da judoca Rafaela Silva, medalha de ouro nas Olimpíadas do Rio, e que se encontra suspensa por dois anos por doping pela Federação Internacional de Judô, Rosicleia prefere emitir uma opinião pessoal sobre o assunto.
A carioca foi controlada positiva para a substância fenoterol, um broncodilatador usado em medicamentos para problemas respiratórios. Ela perdeu a medalha de ouro nos Jogos Pan Americanos e, em janeiro deste ano, teve a confirmação da punição pela entidade máxima do esporte.
“Falando como torcedora do judô, foram muito radicais na decisão. Tenho certeza que ela foi contaminada. Quem conhece a Rafaela e convive com ela sabe o quanto ela é metódica e não toma nada. Ela é limpa, limpa, limpa”, assegura.
“É uma substância que não traz benefício nenhum para nosso esporte”, diz Rosicleia, acrescentando que se tratava de uma competição que não contava pontos para o ranking internacional. Ela também lamenta a maneira como o processo de investigação foi realizado. “A forma como foi conduzida a defesa ficou muito em cima de estatísticas e não em cima de uma atleta campeã olímpica que estava treinando e que, com certeza, não teve intenção de estar exposta à essa substância, que não traz nenhum benefício. O nível de contaminação era muito baixo. Diante desse quadro, dois anos foi muito radical”.
A judoca vai recorrer da sentença junto à Corte Arbitral do Esporte, na Suíça. A direção da CBJ aguarda o resultado para definir a situação da atleta, mas há expectativa de que o resultado possa ser revertido e Rafaela integre a equipe feminina que vai estar em Tóquio.
“É uma pancada, mas a gente tem que acreditar até o finalzinho que vai dar tempo. Mas trabalhando obviamente com outras possibilidades para que o Brasil não seja prejudicado”, conclui.
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