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“Pela saúde nacional, era preciso afastar o PT do governo”, diz Gabeira

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O processo de julgamento do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que termina nesta quarta-feira (31) com a votação no Senado Federal, é acompanhado de perto pelo olhar e lentes do jornalista e escritor Fernando Gabeira. Há vários dias ele circula entre o plenário, os corredores e os gabinetes dos senadores para registrar um momento histórico da vida política do Brasil.

O jornalista e escritor Fernando Gabeira
O jornalista e escritor Fernando Gabeira (Foto: Elcio Ramalho RFI Brasil)
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“Por mais apodrecidas e repugnantes que sejam as ideias que circulem aqui, a população brasileira não tinha outro caminho para realizar o impeachment senão recorrer ao parlamento”, afirmou Gabeira em entrevista à Rádio França Internacional. “Mas o fato de procurar esse meio não absolve o parlamento das críticas que ela faz”, acrescenta. Ex-deputado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e com passagem também pelo Partido Verde (PV), Gabeira vê nesse processo uma ocasião para a esquerda, e, particularmente, para o partido que comandou o país nos últimos 13 anos, a possibilidade de rever suas ideias e prática políticas.

“O primeiro aspecto autocrítico da esquerda, era passar a ver a democracia não como uma tática, mas como uma estratégia”, diz Gabeira. Segundo o escritor, a postura equivocada levou a diversos erros como na questão dos direitos humanos. “Existem alguns princípios que devem nortear nossa prática política. Além da proteção do meio ambiente e da democracia como estratégia, um dos princípios era a questão dos direitos humanos. A esquerda teve uma visão que acabou arruinando esse conceito na população brasileira. Ela partidarizou a questão, quando a única força desse conceito é a sua universalidade”, afirmou.

“Governo precisará fazer negociações e concessões”

Na véspera da votação pelo impeachment, Gabeira já tratava o processo como uma página virada e enxergou algumas dificuldades e desafios imediatos do governo de Michel Temer.  “O governo tem e terá muitas dificuldades para fazer contenção de despesas. Ele precisa trazer a economia para um patamar mais razoável. Isso nem sempre é popular. É preciso fazer uma reforma da Previdência e para isso é necessário muita negociação e concessão, como na França”, observa.

“Esse governo tem que fazer uma série de medidas impopulares em período pré-eleitoral. Minha incógnita é essa: até que ponto a necessidade vai prevalecer sobre os interesses eleitorais ou o contrário? Até que ponto os interesses eleitorais vão prevalecer sobre as necessidades das reformulações econômicas? No caso dos interesses eleitorais prevalecerem, a crise vai ser jogada para frente e em um nível muito mais grave”, prevê.

Depois de conversar com senadores de vários partidos, o documentarista ficou com a sensação de que há margem de manobras para negociações. “É possível que prevaleça uma posição de negociar temas negociáveis e, simultaneamente, fazer uma crítica naquilo que deve e precisa ser criticado”, afirma. “Eu vejo três correntes: uma tentativa de pensar um caminho para a esquerda mais moderno, uma visão de pessoas mais lúcidas do PT e o governo que pretende seguir com a transição, realizando as reformas, fazendo contenção de despesas, mas dentro dos limites da tolerância eleitoral. Acho também que não vai arriscar a uma impopularidade absoluta às vésperas das eleições”, acrescentou.

“O impeachment é um momento importante para o Brasil”

Fernando Gabeira, que por meio de suas colunas se posicionou abertamente a favor do impeachment, também não se sente incomodado com as críticas de que se tornou um golpista. “Essas considerações nunca me impressionaram. Eu sabia o que estava dizendo. Não avaliava o governo apenas por esse processo. Eu avaliava pelo processo de corrupção, que foi muito intenso”, afirmou. “Um processo tão grande de corrupção, iria acabar em uma derrocada”, acrescentou.

“Do ponto de vista da saúde nacional, era preciso afastar o PT do governo”, afirmou. Gabeira também definiu sua postura diante do programa de econômico equivocado do governo da presidente Dilma. “Ela estava sendo muito pressionada a radicalizar. Se ela radicalizasse, eu não gostaria. Primeiro porque ela não tinha condições de lidar com o parlamento. Segundo, porque ela poderia nos levar a uma situação como a da Venezuela, onde a crise é muito mais profunda. Eu acho que o impeachment seria um momento importante para o Brasil, apesar de não tenha grandes simpatias pelo grupo de centro-direita que está assumindo o governo”.
 

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