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O Mundo Agora

Política africana do Brasil pode sofrer se houver mudança de governo

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A política africana do Brasil pode se tornar uma das vítimas da implosão do governo lulopetista. E com certa razão. A abertura de dezenas de embaixadas na África tinha mais a ver com a campanha para angariar votos para a ambição brasileira de obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, do que promover cooperações sérias.  

Presidenta Dilma Rousseff, durante encontro bilateral com o presidente de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, 27 de março de 2013-  Durban - África do Sul
Presidenta Dilma Rousseff, durante encontro bilateral com o presidente de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, 27 de março de 2013- Durban - África do Sul Roberto Stuckert Filho/PR
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O nível de corrupção que cercava os investimentos das grandes empreiteiras e as amizades políticas com líderes e governos africanos batia recordes. E enquanto alardeava vantagens imaginárias das relações econômicas Sul-Sul, os governos Lula e Dilma desprezavam abertamente os maiores parceiros econômicos do Brasil, a Europa e os Estados Unidos. Preferindo apostar tudo na exportação de ferro e soja para a China. A África acabava sendo só um pretexto para uma diplomacia de prestígio terceiro-mundista e para enriquecer empresas bastante camaradas para financiar o PT e os partidos da base aliada.

É normal que um novo governo em Brasília queira abandonar esse saco de gatos africano. Mas seria um erro desperdiçar o acervo de relações e pequenas cooperações construídas nesses últimos anos. Nunca é uma boa política jogar fora a criança com a água do banho. A África não é – nem será por bastante tempo ainda – uma prioridade da ação externa brasileira. Mas continua sendo uma relação interessante. Brasil e África, apesar das enormes diferenças, estão enfrentando problemas similares.

Como se adaptar à nova organização da economia mundial? Dependentes da exportação de produtos de base, quando o preço cai, tudo cai. E é que está acontecendo hoje nos países africanos e sul-americanos. O problema é que o famoso “super-ciclo” das matérias-primas não vai voltar tão cedo – e não é só conseqüência do esfriamento da economia chinesa devoradora de minérios, petróleo e produtos agrícolas.

A nova economia digital e as novas formas de fabricação ultra-eficientes que estão tomando conta do sistema produtivo das economias americana e européia, não vão mais precisar de tanta matéria-prima. Os preços não voltarão ao patamar dos anos da “globalização feliz”. Africanos e sul-americanos – se quiserem sobreviver – são obrigados a diversificar seus aparelhos produtivos. A questão é como. A dura realidade é que nenhum dos dois possui as bases educacionais, financeiras, administrativas e políticas para competir com os países de capitalismo maduro no campo das produções e serviços conectados e automatizados de alto valor agregado.

Encontrar "nichos" dentro das grandes cadeias globais de produção

A única solução é tentar encontrar “nichos” dentro das grandes cadeias globais de produção de valor. Nichos com o maior valor agregado possível. Parece evidente, mas não é fácil. Cadeias produtivas nacionais não são bastante eficientes para competir com as cadeias globais que estão se organizando em volta de três pólos: China/Japão, Europa e Estados Unidos. A América do Sul não tem condições de encontrar nichos nas cadeias asiáticas. Quanto à África, esse nicho asiático só pode ser de baixíssimo valor agregado. Portanto sobram só as cadeias lideradas pelas potências do Atlântico Norte.

Africanos e brasileiros têm todo interesse em inventar cooperações produtivas, unindo suas vantagens afim de subir mais depressa os degraus da produção de maior valor nas cadeias americanas e européias. E também para construir rapidamente as infra-estruturas e as condições financeiras e administrativas indispensáveis para isto. Claro, a África não é uma só. Os países menos dependentes de minérios e petróleo, como o Marrocos, a Etiópia, o Quênia, a Tanzânia ou o Senegal estão saindo bem melhor do que os outros.

África é o mercado do futuro

E não há dúvida de que a África é realmente o grande mercado do futuro. O crescimento futuro da economia mundial será em grande parte africano. Quem já estiver com um pé nessa água quente vai se beneficiar. Por essas e outras, e apesar das más experiências do governo lulopetista, o Brasil não deveria esquecer a África. Mas desta vez, é preciso ser mais seletivo nas parcerias. E sobretudo mais transparente e eficiente.
 

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