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Brasil/Corrupção

Le Monde analisa importância do julgamento do mensalão para a História do Brasil

O jornal Francês Le Monde analisa o histórico de corrupção nas mais altas instâncias políticas do Brasil e a importância do julgamento do mensalão para mudar a imagem negativa do país perante a opinião pública.

Le Monde afirma que o Brasil não consegue conter corrupção nas mais altas instâncias
Le Monde afirma que o Brasil não consegue conter corrupção nas mais altas instâncias RFI
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Em uma análise do correpondente do jornal no Brasil, Paulo Paranaguá, o desvio de verbas públicas e o financiamento ilegal das campanhas eleitorais não são exclusividade do PT (Partido dos Trabalhadores) e a corrupção é algo recorrente na História do país. O artigo apresenta os personagens envolvidos no principal escândalo do governo Lula, como o ex-ministro José Dirceu, os antigos membros do PT, José Genoíno e Delúbio Soares, além de deputados e empresários. Para explicar a estreita relação dos políticos brasileiros com o mundo da corrupção, o jornalista recorre à História. Paulo Paranaguá lembra o ex-prefeito e governador de São Paulo, Adhemar de Barros, cujos partidários tornaram famosa a expressão "rouba, mas faz". A construção de Brasília também é evocada como símbolo da aliança entre empreiteiras e o poder público.

Le Monde não deixa de fora a campanha presidencial de Jânio Quadros, que, em 1961, já prometia varrer a corrupção do país com a sua vassourinha. A luta de Jânio contra a corrupção não somente deixou de surtir efeito como também não evitou o Golpe de 1964, que deu início ao período de 21 anos, durante o qual o Brasil seria governado por militares e testemunharia as obras faraônicas do "milagre brasileiro", representado pela combinação entre Estado e empresariado.

De acordo com o cotidiano, o Brasil reviveu uma época de esperança de se livrar do fantasma da corrupção endêmica durante a redemocratização, na qual as instituições democráticas foram reforçadas, além da criação da Constituição de 1988 . Toda essa esperança viria por água abaixo por causa das suspeitas de corrupção do governo Fernando Collor de Mello (1990-1992). Le Monde destaca os estudantes caras-pintadas que pressionaram o Congresso nas ruas, obtiveram a suspensão da vida política do ex-presidente por oito anos, mas viram o mesmo Supremo Tribunal que julga hoje o mensalão não condená-lo por falta de provas e ainda voltar à vida política anos mais tarde, como aliado do então presidente Luís Inácio Lula da Silva. Le Monde lembra que os dois foram adversários na campanha presidencial de 1989.

O jornal francês analisa também a relação dos brasileiros com o nepotismo, além das alianças feitas sem tomar em conta as diferenças políticas dos personagens envolvidos. Por exemplo, a aproximação do ex-presidente Lula com José Sarney, presidente do Senado e o aperto de mão com o ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf. O jornalista lembra que a corrupção no Brasil não poupa nenhuma convicção política, como é o caso do mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ( 1995-2002), também manchado pelos supostos favorecimentos para enriquecimentos ilícitos durante a onda de privatisações no país e o famoso caso de compra de votos para aprovar a emenda que autorizava a reeleição do Chefe de Estado.

Apesar de todo histórico negativo no combate à corrupção, Le Monde salienta que o avanço da liberdade de imprensa, o fortalecimento da opinião pública, a independência da justiça e da Polícia Federal além da transparência das contas públicas favoreceram o combate da corrupção. Entretanto, o Brasil ainda é o 73º país no ranking da ONG Transparência Internacional, com uma nota de 3,8. Os países menos corruptos apresentam média de 9,5 pontos. Diante de todo esse histórico, o Brasil pode mostrar ao mundo seu esforço na luta contra a corrupção. Por isso, o resultado do julgamento do mensalão será mais do que um simples veredito. Será importante para a História dos brasileiros.

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