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Haiti/Crise

Com o país em convulsão social, presidente do Haiti acredita que crise pode ser “oportunidade”

A exemplo dos vizinhos sul-americanos, o Haiti se afunda em uma grande crise política e social. Há quase dois meses, milhares de pessoas se manifestam em todo o país exigindo a renúncia do presidente. Ao marchar na terça-feira (22) em direção à capital, Porto Príncipe, os católicos também se juntaram à longa lista de setores mobilizados durante os protestos no país. Em uma entrevista exclusiva concedida à correspondente da RFI nesta quarta-feira (23), o presidente haitiano Jovenel Moïse afirmou que essa crise deve ser considerada como uma oportunidade para reformar o país.

Jovenel Moïse, presidente haitiano, durante coletiva de imprensa em 15 de outubro de 2019.
Jovenel Moïse, presidente haitiano, durante coletiva de imprensa em 15 de outubro de 2019. REUTERS/Andres Martinez Casares
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Desde o início de outubro, várias cidades do país assistem a protestos populares contra o presidente, Jovenel Moïse, acusado de corrupção. Os manifestantes exigem que o chefe de Estado, no poder há dois anos, renuncie. A população estima que o presidente não cumpriu suas promessas de campanha e que a situação de pobreza no país se agravou desde que ele foi eleito.

Segundo a imprensa haitiana, o sistema acusado como pivô da crise pelo presidente Jovenel Moïse é nada mais que “filho de um governo há mais de dois anos no poder”. O jornal hatitiano Nouvelliste responde às críticas do chefe de Estado nesta quarta-feira, dizendo que a população se encontra na mais absoluta miséria e que a classe média do país se empobrece a um ritmo desenfreado, enquanto o Estado se enriqueceria junto com uma “elite de privilegiados”.

Mas Fréderic Thomas, cientista político e especialista em Haiti do Centro Tricontinental (CETRI), na Bélgica, afirma que boa parte da responsabilidade dessa crise deve recair sobre as lideranças ocidentais. “É sobre o povo haitiano, e não sobre o governo, que a pressão recai. Visto do Haiti, parece uma ingerência, pois a manutenção contínua de um presidente desacreditado ou impopular no poder só pode ser explicada, implícita ou explicitamente, pelo apoio internacional”, diz. Confira a entrevista feita por Amélie Baron, correspondente da RFI no país.

RFI - Diante dos diversos protestos, o Sr. concordaria em renunciar antes do fim de seu mandato presidencial?

Jovenel Moïse - Hoje nos encontramos numa crise, mas podemos aproveitar essa crise, para fazer dela uma oportunidade. Nós precisamos de estabilidade no país. Para encontrar essa estabilidade, é necessário atacar o sistema.

RFI – Quem são os guardiões do sistema, que sistema é esse?

JM – Esta é uma questão excelente. Para não antagonizar o país, não quero citar nomes, porque estamos em um país dividido, fraturado.

RFI – Os hotéis fecham suas portas, as empresas vão demitir muitos de seus funcionários, as constatações são alarmantes do ponto de vista econômico, é um país à deriva?

JM – É verdade, existe um problema, um enorme “saco cheio” da população. As pessoas estão exasperadas, mas como podemos aproveitar essa crise, para fazer dela uma oportunidade? Estamos neste impasse. Isso vai exigir muita superação e sabedoria.

RFI – A inflação ultrapassou os 20%, a moeda perdeu um terço do seu valor em um ano, o Sr. identifica erros políticos?

JM – A economia segue a política. Tínhamos um projeto e trabalhamos com parceiros técnicos e financeiros. Se existe um erro, neste nível, eu o assumo. Adiamos por um ano os trabalhos, que nos tomaram dois anos ao final, e, infelizmente, não tivemos governabilidade. A Câmara de Deputados censurou e bloqueou o governo.

RFI – Os deputados da sua maioria parlamentar? Foram eles?

JM – O Parlamento é autônomo. Essa maioria não significa que o presidente imponha a sua vontade. Eu esperava lançar esse programa a partir do meio de abril de 2020.

RFI – Sobre o petróleo caribenho, uma das suas empresas está na mira do Tribunal Superior de Contas, suspeita de desvio de fundos. O Sr. mesmo dizendo confiar nesse tribunal, solicitou uma auditoria junto à Organização dos Estados Americanos (OEA). O Sr. continua confiando na justiça do Haiti neste caso?

JM – Não existe confusão, muito pelo contrário. É preciso um processo justo. Não haverá caça às bruxas, nem perseguição política. Sou presidente de um país do Terceiro Mundo, mas eu respeito a lei! Respeito as instituições de meu país. A questão é se as instituições são fortes o suficiente para cumprirem sua missão.

RFI – O país não está mais sob o controle de forças policiais. Algumas estradas estão bloqueadas, estamos em situação quase de anarquia.

JM – Temos 20 mil policiais para 2 milhões de pessoas. O país precisa de uma reforma profunda.

RFI – As pessoas estão se perguntando se amanhã poderão ter um trabalho, se poderão deixar suas crianças na escola. Concretamente, em urgência, o que pode ser decidido?

JM -  Neste momento, várias equipes estão nas regiões vulneráveis, assim como o Ministério do Interior. Estamos trabalhando para que a paz volte, para que o povo haitiano recupere sua civilidade. Para que as crianças possam voltar à escola.

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