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Reviravolta no resultado das eleições pode dar vitória a Morales e provoca revolta na Bolívia

Depois de uma contestada interrupção de 24 horas, o Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia retomou a contagem dos votos. Os resultados parciais agora dão a vitória a Evo Morales, provocando distúrbios nas principais cidades do país na noite de segunda-feira (21).

Os apoiadores do candidato presidencial boliviano Carlos Mesa protestam em La Paz, Bolívia, em 21 de outubro de 2019.
Os apoiadores do candidato presidencial boliviano Carlos Mesa protestam em La Paz, Bolívia, em 21 de outubro de 2019. REUTERS/Ueslei Marcelino
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

O Tribunal Superior Eleitoral da Bolívia - que responde aos interesses do presidente Evo Morales - realizou uma contagem rápida dos votos, após interrompê-la no domingo, quando a apuração estava em 83,7%. Naquele momento, Evo Morales aparecia com 45,7% dos votos e Carlos Mesa, com 37,8%. A diferença de 7,9%, irreversível para os analistas, que apontavam para um inédito segundo turno.Porém, repentinamente, a divulgação dos votos foi suspensa, despertando suspeitas de fraude.

Na noite de segunda-feira, a divulgação foi retomada, mas o cenário já era outro: com 95,2% dos votos apurados, Evo Morales obtinha 46,8% contra 36,7% de Carlos Mesa, a diferença agora passava a 10,1%, suficientes para Evo Morales chegar a um controverso quarto mandato presidencial.

Pela regra boliviana, para ganhar no primeiro turno, o candidato deve superar os 50% dos votos ou ter mais de 40%, mas com uma diferença de, pelo menos, dez pontos de vantagem sobre o seu adversário imediato.

"Evo Morales não podia considerar a possibilidade de um segundo turno porque sabia que, se não ganhasse no primeiro, não teria chances no segundo, quando toda a oposição tenderia a se unir em apoio a Carlos Mesa", explicou à RFI o analista político boliviano, Raúl Peñaranda. "Ou Evo Morales ganharia no primeiro turno ou não ganharia mais", afirmou.

Revolta popular

Imediatamente, em frente ao hotel em La Paz, onde o TSE realiza o trabalho de contagem dos votos, militantes do partido Comunidade Cidadã de Carlos Mesa gritavam "fraude" enquanto militantes do Movimento Ao Socialismo, legenda de Evo Morales, festejavam o resultado. A polícia precisou de intervir nos enfrentamentos entre os dois grupos com bombas de gás lacrimogêneo.

A reviravolta no resultado eleitoral provocou cenas de revolta popular nas principais cidades do país. Manifestantes indignados queimaram urnas encontradas em casas e carros. Dois tribunais eleitorais regionais, nas cidades de Sucre e Cobija, foram incendiados. Os protestos continuaram ao longo da noite.

Organizações civis e partidos políticos convocaram marchas de "resistência civil" nas principais cidades do país para esta terça-feira (22).

Contagem manual

A decisão do TSE surpreendeu ainda mais porque o próprio órgão havia anunciado que abandonaria a apuração dos votos através das atas confeccionadas e passaria apenas à contagem manual, voto por voto. Por essa metodologia que poderia durar até oito dias, com 60,9% dos votos apurados, Evo Morales tinha 42,3% contra 42,5% de Carlos Mesa numa disputa acirrada na qual, inclusive, Mesa liderava.

Carlos Mesa anunciou que desconsideraria os resultados, denunciou fraude e pediu que a missão de observadores internacionais tivesse a mesma atitude.

"Não vamos permitir outro 21 de fevereiro", avisou Mesa, em referência ao referendo de fevereiro de 2016 no qual 51,3% da população disse "Não" a uma reforma constitucional para habilitar a reeleição indefinida de Evo Morales.

Apesar da derrota, o governo recorreu ao mesmo Tribunal Superior Eleitoral que, em 2017, permitiu uma quarta candidatura do presidente baseado no artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos no qual toda pessoa "tem o direito de participar num governo do seu país, diretamente ou por meio de representantes livremente eleitos".

O chefe dos observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), Manuel González, classificou o resultado como "uma mudança drástica e inexplicável" o giro do TSE.

Para ele, a reviravolta "modifica drasticamente o destino da eleição e que gera perda de confiança no processo eleitoral e uma profunda preocupação e surpresa", disse González. Ele lamentou que essa mudança tenho gerado conflitos em várias cidades e que o candidato Evo Morales tenha feito "um notório uso dos recursos públicos".

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