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Brasil obtém apoio dos países do Grupo de Lima contra Foro de São Paulo

A seis meses da autoproclamação de Juan Guaidó como presidente "interino" da Venezuela, o Grupo de Lima inclui o Foro de São Paulo como parte da sustentação ao regime de Nicolás Maduro, apoia a candidatura do Brasil ao Conselho de Direitos Humanos da ONU e escolhe o Brasil, pela primeira vez, como sede do próximo encontro.

A 15ª reunião do Grupo de Lima, em Buenos Aires, nesta terça-feira (23).
A 15ª reunião do Grupo de Lima, em Buenos Aires, nesta terça-feira (23). Reuters
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A 15ª reunião do Grupo de Lima, em Buenos Aires, coincidiu com os seis meses da designação de Juan Guaidó como presidente "interino" da Venezuela, sem que, no entanto, o presidente Nicolás Maduro tenha deixado o poder.

Apesar da aparente contradição, o ministro brasileiro da Relações Exteriores, Ernesto Araújo, vê avanços. "Nicolás Maduro sobrevive hoje a partir de determinados apoios externos. A cada novo encontro do Grupo de Lima, torna-se mais difícil esse apoio a Maduro. Nesses seis meses, houve avanços. Política internacional é uma construção. Aos poucos, monta o quebra-cabeça da democracia", avaliou o chanceler Araújo.

O governo brasileiro conseguiu o apoio dos demais países do bloco a "rejeitarem os foros e os movimentos, como o Foro de São Paulo, que pretendam agir em defesa do regime ditatorial ilegítimo de Nicolás Maduro".

"Os países instam os grupos políticos comprometidos com a democracia, com os direitos humanos e com o Estado de direito a não participarem de tal ação", diz a declaração em referência ao Foro que reúne partidos políticos e organizações de esquerda que, a partir de 1990, promoveu alternativas na região à política neoliberal no poder e alternativas de integração latino-americanas.

"O tema da Venezuela é um tema regional e parte desse aspecto da regional é o Foro de São Paulo. O Brasil tem chamado a atenção de que a crise da Venezuela é parte de um esforço de uma determinada corrente encabeçado pelo Foro de São Paulo em atingir o poder na região. E agora os países do Grupo de Lima confirmam esse sentimento nessa declaração", celebrou Araújo pelo apoio recebido dos demais países.

"O Foro de São Paulo está trabalhando contra a democracia. Está trabalhando pela ditadura, pelo totalitarismo. O grupo de Lima faz um apelo a que os partidos membros do Foro de São Paulo, mas que estejam comprometidos com a democracia, que não façam mais parte desse foro", pediu Araújo.

Terrorismo

Outra preocupação do Grupo de Lima é quanto a grupos com atividades ilícitas e terroristas que atual em território venezuelano. Foi identificado o grupo guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional (ELN) que atua na Colômbia, mas que já passou ao território da Venezuela com atividades ilícitas, amparadas pelo chavismo.

Os países do Grupo de Lima decidiram "apoiar as investigações de ações sobre a participação de membros e testas-de-ferro do regime de Nicolás Maduro em atividades ilícitas de corrupção, tráfico de drogas e delinquência organizada transnacional" como assim também "o amparo à presença de organizações terroristas e de grupos armadas ilegais dentro do território venezuelano, como o ELN".

Sobre o eventual impacto dessa presença na fronteira Norte do Brasil, o chanceler Ernesto Araújo disse que a "Agência de Inteligência brasileira acompanha o movimento desses grupos", mas que "os relatórios são sigilosos".

"Há uma clara noção da presença desses grupos na região. Esse é um problema regional e há uma conscientização da região quanto ao problema", observou.

Os países repudiaram a candidatura da Venezuela de Maduro a um assento no Conselho de Direitos Humanos da ONU e, em contrapartida, expressaram apoio à candidatura do Brasil, país escolhido também para sediar a próxima reunião de chanceleres do Grupo de Lima, ainda sem data.

Participaram da reunião do Grupo de Lima em Buenos Aires, além do Brasil, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Paraguai, Peru e Venezuela com El Salvador e Equador como observadores.

Durante o encontro com os chanceleres, o autodenominado presidente encarregado, Juan Guaidó teve brevíssima participação via teleconferência a partir de Caracas que foi interrompida por falta de energia elétrica.

No processo de convergência entre o Grupo de Lima e o Grupo de Contato Internacional, participará da reunião em Buenos Aires, o assessor especial para a Venezuela da União Europeia, o uruguaio Enrique Iglesias.

O Grupo de Lima surgiu em agosto de 2017 para abordar a crise venezuelana como resposta à impossibilidade de aprovar resoluções contra a Venezuela na OEA, devido ao bloqueio dos países do Caribe, beneficiados pelo petróleo venezuelano.

Na América do Sul, apenas a Bolívia continua como aliado incondicional da Venezuela. O governo uruguaio de Tabaré Vázquez vê-se impedido de condenar o governo venezuelano devido à ala de esquerda liderada pelo ex-presidente José Mujica, majoritária dentro da aliança Frente Ampla de governo.

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