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Morre de la Rúa, presidente desprezado por fugir de helicóptero durante crise na Argentina

O presidente argentino Mauricio Macri anunciou nesta terça-feira (9) a morte de Fernando de la Rúa. Aos 81 anos, o ex-chefe de Estado argentino faleceu em função de uma falência cardíaca e renal.

L'ancien président de l'Argentine (1999-2001), Fernando de la Rua.
L'ancien président de l'Argentine (1999-2001), Fernando de la Rua. REUTERS/Centro Informacion Judicial/Handout
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De la Rúa chegou à presidência em 1999, aos 62 anos, mostrando uma imagem austera, antítese do até então presidente Carlos Menem (1989-1999), peronista histriônico que aplicou políticas neoliberais. Do partido União Radical Cívica (URC), o líder não conseguiu completar seu mandato e renunciou em 2001, em meio à pior crise econômica e política da Argentina.

Apesar de Macri elogiar a trajetória democrática do colega, De la Rúa dirigiu o país de forma pouco carismática e terminou seus dias desprezado pelos argentinos, que recordam dele como o chefe de Estado que abandonou a Casa Rosada de helicóptero, em 2001, deixando um país à beira do abismo.

O ex-presidente já havia sido hospitalizado no início do ano para ser submetido a uma cirurgia, devido um quadro cardiovascular delicado. Após uma longa convalescença, foi novamente hospitalizado em maio devido a uma complicação renal.

A última vez que apareceu em público foi como convidado no jantar de gala que o governo ofereceu no Teatro Colón, como parte da cúpula do G-20, em novembro do ano passado.

Crise e fuga de helicóptero

O governo de De la Rúa começou a desmoronar em 2000, quando o vice-presidente Carlos "Chacho" Álvarez pediu demissão, após um escândalo por supostamente ter pago suborno a parlamentares da oposição para aprovar uma lei de precarização trabalhista. Por esta acusação, o ex-presidente chegou a ser julgado, mas foi absolvido em 2013.

Em 2001, De la Rúa convocou como salvador da pátria o ex-ministro Domingo Cavallo, responsável pela economia no período Menem e mentor da conversibilidade com paridade cambial entre o peso e o dólar, lançada em 1991. Mas uma "megatroca" da dívida e o bloqueio de depósitos (chamado "corralito") incomodaram muito os argentinos e acabaram empurrando seu governo para o abismo, ajudado pela oposição peronista.

Nos dias 19 e 20 de dezembro de 2001, eclodiu uma revolta popular, cuja repressão deixou mais de 30 mortos no país, cinco deles na Plaza de Mayo, no centro de Buenos Aires. O presidente declarou estado de emergência no país, e após assinar sua renúncia, em 21 de dezembro, fugiu de helicóptero.

Após sua saída, a Argentina declarou default. Mas De la Rúa se considerou vítima de um "golpe civil", seguido de "intensa perseguição judicial, midiática e política", como escreveu em seu livro "Operação Política: A Causa do Senado".

A queda de De la Rúa foi um duro golpe para a URC, uma das duas principais forças políticas argentinas do século XX, que voltou ao governo em 2015 como parte da coalizão Cambiemos, que levou Mauricio Macri ao poder.

Social-democrata conservador

Nascido em 15 de setembro de 1937, De la Rúa estudou no Liceo Militar de Córdoba, sua província natal. Aos 21 anos, se graduou como advogado e, posteriormente, realizou o doutorado.

Na política, se aliou com a ala mais conservadora da União Cívica Radical (UCR), social-democrata. Mas chegou ao governo através de uma coalizão de centro-esquerda, apresentando-se como "a força moral contra a frivolidade e o engodo".

Aos 35 anos de idade, em 1973, foi senador pela capital, tradicionalmente um distrito antiperonista e onde consolidou sua carreira como deputado (1991-1992) e três vezes senador (1973-1976, 1983-1989 e 1992-1996). Em 1996, foi o primeiro prefeito de Buenos Aires eleito por voto direto, cargo até então designado pelo presidente.

No entanto, pouco afeito a grandes decisões, De la Rúa parecia muitas vezes estar à margem das definições políticas de seu próprio governo. Seu tom monótono e uma suposta falta de reações valeram a ele muitas críticas. 

Os argentinos ainda se lembram de sua aparição atrapalhada no programa de TV mais assistido e conduzido pelo popular apresentador Marcelo Tinelli. Na época De La Rúa foi filmado perdido diante das câmeras e sem conseguir encontrar a saída do estúdio.

"Tinelli teve muito a ver com minha queda", comentou De la Rúa em 2016, em alusão às imitações que um humorista desse programa fazia dele.

Casado com Inés Pertiné - neta, filha e irmã de militares-, teve três filhos: Agustina, Antonio e Fernando. Muito discreto, o ex-presidente absteve-se de comentar tanto a relação de 11 anos entre seu filho Antonio e a cantora colombiana Shakira, assim como a separação conflituosa que tiveram e que foi resolvida nos tribunais.

(Com informações da AFP)

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