Sob tensão política, chavistas e opositores vão às ruas na Venezuela
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Devido à suspensão do processo de convocação do referendo revogatório, a oposição venezuelana marcou para esta quarta-feira (26) uma grande manifestação, em meio ao aumento do conflito político no país.
Elianah Jorge, correspondente da RFI em Caracas
Por sua vez, a ala governista também convocou partidários para as ruas. Até mesmo o Vaticano tenta intermediar a situação e defende um diálogo entre ambos os lados.
Após a decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de suspender por tempo indeterminado a coleta das assinaturas para o referendo revogatório, o clima voltou a ficar tenso na Venezuela.
Com o referendo, a oposição pretendia convocar novas eleições para tentar tirar Maduro da presidência. Os opositores estão indignados e nesta quarta-feira vão sair de sete pontos para marchar pela capital venezuelana.
Chavismo também marca protesto
Um dos líderes da oposição, Henrique Capriles Radonsky, afirma, caso seja necessário, o grupo irá até o palácio presidencial de Miraflores. Porém, o chavismo marcou sua própria marcha, em apoio ao governo.
O risco é de que os dois grupos se encontrem e que a situação saia de controle. No domingo (23), partidários do chavismo invadiram a Assembleia Nacional, onde os opositores apresentavam propostas para o reestabelecimento da linha constitucional da Venezuela.
A oposição garante que o governo ganhou ares de ditadura por suspender o referendo e remeter ao Tribunal Supremo de Justiça a aprovação do orçamento anual, em vez de apresentá-lo à Assembleia Nacional, ambas medidas previstas na Constituição Bolivariana.
Vaticano defende diálogo
Até mesmo o Vaticano defende um diálogo entre governo e oposição. O Estado designou o monsenhor Emil Paul, que é o núncio apostólico na Argentina, para mediar o diálogo entre os dois lados políticos.
A reunião está agendada para o próximo domingo (30), na ilha de Margarita, na costa venezuelana. Porém os líderes opositores divergem e afirmam que, sem a data do referendo, não haverá diálogo.
O secretário exectutivo da coligação opositora Mesa da Unidade Democrática, Jesús Chuo Torrealba, afirmou que participará da negociação, mas a MUD lançou um comunicado afirmando que o diálogo deve seguir com "respeito ao direito ao voto, liberdade para os presos políticos e retorno dos exilados e respeito à autonomia dos países".
Para alguns, a conciliação naufragou antes mesmo de começar e evidenciou as fraturas dentro da ala opositora. Por sua vez, a Conferência Episcopal da Venezuela informou que a reunião do próximo domingo não será o início do diálogo, mas que serão manifestados os pontos que cada um dos lados vai abordar durante o diálogo.
Já o presidente Nicolás Maduro, que voltou na terça-feira (25) ao país, após fazer um turnê internacional, na qual, inclusive, encontrou-se com o Papa Francisco, garantiu que participará das conversas com a oposição e o enviado papal.
Maduro promete ativar Conselho de Defesa
Ao voltar para a Venezuela, após visitar países em busca de apoio para aumentar o preço do petróleo, Nicolás Maduro encontra o país ainda mais conturbado.
Ele prometeu ativar o Conselho de Defesa da Nação, que é o máximo órgão de consulta para o planejamento e assessoramento do pode público em torno da defesa da nação, soberania e integridade.
Segundo o presidente, o encontro será realizado na manhã desta quarta-feira para "avaliar o golpe parlamentar da Assembleia Nacional e o plano de diálogo para a paz".
Quem está convocado para a reunião é o presidente da Assembleia Nacional, o opositor Henry Ramos Allup, além dos responsáveis pelo Conselho Nacional Eleitoral, do Tribunal Supremo de Justiça e do Conselho Moral Republicano. Maduro acusa o parlamentar opositor de ignorar a Constituição. De acordo com o líder governista, essa será a oportunidade de Ramos Allup de dialogar.
Oposição aprova julgamento político
Nesta terça-feira, a oposição, através da Assembleia Nacional, aprovou o início do julgamento político contra o presidente no qual será avaliado abandono de cargo sob a justificativa de que Maduro traiu a Constituição, a democracia e a busca do bem-estar comum.
Maduro é acusado de quebrar a ordem constitucional e foi convocado a comparecer na próxima semana no Parlamento. No entanto, a medida da Assembleia Nacional pode ser anulada pelo Supremo Tribunal de Justiça. Maduro rejeitou a iniciativa ao afirmar que a tentativa é de gerar desordem coordenada pelos Estados Unidos. A cúpula militar venezuelana também se manifestou e ratificou sua "incondicional lealdade" ao presidente venezuelano.
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