Acessar o conteúdo principal
Fim da visita

Na Argentina, Obama diz "nunca mais" à ditadura e viaja para evitar protestos

Barack Obama disse querer revelar arquivos secretos, fez autocrítica e homenageou vítimas da ditadura argentina, mas organismos de Diretos Humanos repudiaram sua visita ao país. Presidente norte-americano distanciou-se dos protestos com viagem a Bariloche.

Protestos contra Barack Obama ocorreram em Buenos Aires e em Bariloche (na foto).
Protestos contra Barack Obama ocorreram em Buenos Aires e em Bariloche (na foto). REUTERS/Chiwi Giambirtone
Publicidade

Do correspondente da RFI Brasil em Buenos Aires

A 40 anos do golpe militar que instalou a ditadura mais sangrenta da América do Sul, os presidentes Barack Obama e Mauricio Macri visitaram nesta quinta-feira (24) o Parque da Memória, onde um monumento recorda a necessidade de "Memória, Verdade e Justiça" em relação às 30 mil vítimas durante os sete anos do último regime militar.

Obama e Macri homenagearam as vítimas e os seus parentes, incansáveis na luta por Justiça. Num momento emotivo, os dois presidentes lançaram rosas brancas ao Rio da Prata, onde, no passado, pessoas torturadas e dopadas eram lançadas durante os chamados "voos da morte".

O presidente norte-americano voltou a fazer uma autocrítica sobre o papel do seu país durante os anos 60 e 70, quando apoiou, incentivou e até financiou golpes militares por toda a América Latina. Obama já havia feito uma autocrítica às relações exteriores e à diplomacia dos Estados Unidos à época, que priorizou o combate ao comunismo sem considerar os Direitos Humanos como uma bandeira da política externa.

Obama reconheceu que o seu país "foi lento em defender os Direitos Humanos" violados durante a última ditadura argentina. "Sei que existem polêmicas sobre as políticas dos Estados Unidos durante aqueles dias obscuros. As Democracias devem ter o valor de reconhecer quando não se está à altura dos ideais que defendemos, quando demoramos em defender os Direitos Humanos. Esse foi o caso da Argentina", admitiu Obama.

No entanto, exaltou nomes de diplomatas e jornalistas norte-americanos que divulgaram as violações, além de destacar o papel do ex-presidente Jimmy Carter, "um presidente que entendeu os Direitos Humanos como um elemento fundamental da política exterior".

Arquivos secretos

Como um gesto de "reconstrução da confiança", como definira no dia anterior na Casa Rosada, Barack Obama reforçou a sua intenção de tornar públicos os arquivos secretos da ditadura argentina, mantidos pelo Pentágono e pela CIA. A revelação desses documentos pode iluminar novas linhas de investigações, sobretudo em relação ao destino de vítimas e de crianças roubadas dos seus pais ou nascidas no cativeiro de tortura.

Aos parentes, Obama disse que "vocês são os que farão que o passado seja recordado e que seja cumprida a promessa de Nunca Mais".

"Hoje é uma oportunidade para todos os argentinos gritarmos juntos 'Nunca Mais' à violência política e institucional", completou o presidente Mauricio Macri.

Protestos conta a ditadura e contra Obama

Organismos de Direitos Humanos como Avós da Praça de Maio, Mães da Praça de Maio e FILHOS decidiram não participar da cerimônia oficial. "Foi uma autocrítica totalmente 'light'", definiu a líder das Mães da Praça de Maio, Taty Almeida, quem criticou a insistência de Obama por "olhar para o futuro".

"Eles não aceitam esse genocídio, esse terrorismo apoiado pelos Estados Unidos", concluiu. E preferiu 'ver para crer' sobre as intenções de Barack Obama de desclassificar os arquivos da ditadura.

Organizações de Direitos Humanos, militantes de esquerda e cidadãos abraçados à causa marcharam em várias cidades do país para repudiar o golpe militar. Milhares de pessoas lotaram a histórica Praça de Maio, em torno da qual as Mães sempre pediram pelos seus filhos desaparecidos e exigiram justiça.

Embora a presença de Obama tenha dado projeção internacional aos 40 anos do golpe, o próprio foi motivo de protestos. As manifestações incluíram o repúdio à presença de um presidente norte-americano numa data que não teria existido sem a conivência ou a vontade dos Estados Unidos.

Obama na Patagônia

Antes dos protestos, Barack Obama viajou com a família a São Carlos de Bariloche, na Patagônia argentina, destino visitado por anteriores presidentes norte-americanos. Foi uma forma de evitar ser o centro e o combustível das manifestações. À noite, Barack Obama retornaria a Buenos Aires para, em seguida, regressar a Washington.

Mauricio Macri, novo aliado dos Estados Unidos na região, decidiu passar a Semana Santa na localidade de Villa La Angostura, a 80 Km de Bariloche, para poder despedir-se do seu colega no aeroporto. Um gesto de cortesia do anfitrião, elevado à categoria de "um exemplo de liderança para os demais países da região".

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.