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Venezuela/Tráfico de drogas

Sobrinhos de primeira-dama da Venezuela são presos por tráfico nos EUA

Dois sobrinhos da primeira-dama da Venezuela, Cilia Flores, se apresentam nesta quinta-feira (12) diante de um tribunal norte-americano para responder a acusações de tráfico de drogas, informaram funcionários do governo dos EUA. Efrain Antonio Campo Flores e Francisco Flores de Freitas foram detidos na terça-feira (9) no Haiti pela polícia local, entregues a agentes americanos e levados de avião no mesmo dia para Nova York. De acordo com o Wall Street Journal, que cita anonimamente fontes ligadas à investigação, eles planejavam entrar nos Estados Unidos com 800 kg de cocaína.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao lado da mulher, Cilia Flores, em Riad, no dia 11 de novembro
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ao lado da mulher, Cilia Flores, em Riad, no dia 11 de novembro REUTERS/Miraflores Palace
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Campo Flores, de 29 anos, identificou-se no avião como filho adotivo do presidente Nicolás Maduro, e que tinha sido criado pela tia, a primeira-dama Cilia Flores, continuou o jornal. Ainda segundo o WSJ, o outro homem também se disse sobrinho de Cilia Flores, ex-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e advogada do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.

Campo Flores e Freitas teriam contatado em outubro um informante disfarçado da agência americana de combate às drogas (DEA) em Honduras para pedir ajuda no transporte de 800 kg de cocaína através de uma ilha hondurenha no Caribe. Na Venezuela, os dois apresentaram um quilo da cocaína - que seria vendida em Nova York - a outro informante do DEA para que atestasse a qualidade da droga. De acordo com o WSJ, todas as reuniões foram gravadas.

Em maio, o Wall Street Journal noticiou que promotores americanos estavam investigando altas autoridades venezuelanas por suposto envolvimento com o tráfico de cocaína em larga escala.

Relações tensas

Segundo o jornal, uma unidade de elite do DEA e promotores de Nova York e Miami reuniram provas de narcotráfico e lavagem de dinheiro contra funcionários do alto escalão das Forças Armadas e do governo venezuelano. A investigação tinha como um dos alvos o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Diosdado Cabello. A Venezuela denunciou a investigação como uma tentativa de Washington de minar o governo de Maduro.

Mas os Estados Unidos consideram a Venezuela a principal rota de saída das drogas produzidas na Colômbia, maior produtor mundial de coca, principal insumo da cocaína. A difícil relação entre os dois países - sem embaixadores desde 2010 - se agravou em março passado, quando a Casa Branca impôs sanções a sete funcionários do governo de Maduro por abusos dos direitos humanos.

Apesar das tímidas tentativas de aproximação, as tensões bilaterais não desapareceram e a Venezuela denunciou no domingo o sobrevoo de uma aeronave da inteligência americana sobre o seu território. O governo está sob pressão internacional para permitir que observadores internacionais acompanhem as eleições legislativas de 6 de dezembro e libertar líderes da oposição e estudantes detidos. Mais de 150 legisladores dos Estados Unidos, Brasil, Colômbia, Chile, Costa Rica e Peru reiteraram na terça-feira o apelo para que a Venezuela permita o acesso de observadores da Organização dos Estados Americanos e da União Europeia.

Maduro na ONU

Nesta quinta-feira, Maduro denunciou nas Nações Unidas "um assédio da ONU", depois que o Alto Comissariado para os Direitos Humanos expressou suas preocupações sobre a imparcialidade da Justiça no país. "Hoje, a Venezuela enfrenta um assédio permanente e a má utilização, a manipulação do tema dos direitos humanos (...) para tentar isolar nosso país", declarou o chefe de Estado.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU falou de suas sérias preocupações em relação à "imparcialidade dos juízes e promotores" na Venezuela, e afirmou que os casos do líder opositor Leopoldo López, preso em fevereiro de 2014 por incitação à violência, e o da juíza María Lourdes Afiuni, que obteve em 2013 a liberdade condicional três anos e meio depois de ser detida, acusada de corrupção, são "ilustrações evidentes" dessa falta de imparcialidade.

"Um bom número de órgãos de direitos humanos da ONU (...) expressaram sérias preocupações sobre a independência do poder judiciário na Venezuela, a imparcialidade dos juízes e promotores e as pressões que enfrentam quando se trata de casos politicamente sensíveis", indicou o alto comissário Zeid Ra'ad Al Hussein. Ele também expressou sua preocupação pela "intimidação, ameaças e ataques a jornalistas, defensores dos direitos humanos e advogados" e chamou de muito preocupante a declaração de um estado de exceção em 24 municipalidades, o que suspende várias garantias aos direitos humanos.

Maduro se defendeu e exigiu respeito pelo Judiciário venezuelano. De acordo com o presidente, a Venezuela "se defende com a verdade e o povo vai ratificar seu sistema de paz e soberania". Mas, pela primeira vez desde a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1999, o chavismo enfrentará as eleições do próximo dia 6 de dezembro sem o apoio da maioria do eleitorado. Pelas atuais pesquisas de intenção de voto, a vantagem da oposição pode superar dez pontos percentuais.

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