Um ano depois, mineiros chilenos procuram emprego
“Estamos bem no refúgio, os 33”. A mensagem do mineiro José Ojeda foi a única de várias coladas na sonda perfuradora que chegava à superfície. Era lida em forma de milagre ao mundo pelo presidente chileno Sebastián Piñera, 17 dias depois que uma rocha de 700 toneladas desmoronava e isolava, a 622 metros de profundidade, 33 mineiros na Mina São José, no deserto do Atacama, Norte do Chile.
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Um ano depois do acidente que tinha tudo para ser uma tragédia, mas que se tornou o maior resgate da História e comoveu o mundo durante 70 dias de sobrevivência, os 33 mineiros chilenos continuam famosos, mas não conseguem trabalho estável.
Visitaram 14 países e estiveram com autoridades e celebridades, mas longe estão de ter ganho todo o dinheiro que pensavam. Também perderam boa parte do apoio popular que tinham. Tanto que a comemoração hoje será modesta: apenas uma missa na cidade de Copiapó, onde a maioria mora, a 50 Km da mina.
Sete mineiros continuam em licença médica devido a transtornos do sono e depressão. Cinco chegaram a ter quadro de alcoolismo. Quatorze pediram aposentadoria antecipada porque se sentem incapazes de voltar a trabalhar. Todos apresentam sintomas de pós-trauma.
Somente um estuda tecnologia em eletricidade. A maioria vive de bicos como taxista e pedreiro. Cinco vendem frutas e verduras em feiras.Quatro retornaram às atividades de mineiração e cinco se juntaram para dar palestras de segurança no trabalho e de motivação. Omar Reygardas é um dos palestrantes, mas diz que gostaria mesmo é de voltar a trabalhar numa mina. "Eu sou mineiro e tenho que voltar a trabalhar numa mina", declarou.
Os prometidos empregos na produtora estatal de cobre não aconteceram. Somente nesta semana, terminaram de receber a indenização pelo trabalho que realizavam. Todos esperam arrecadar os benefícios de livros, filmes e minisséries inspiradas na epopéia de um ano atrás. Hollywood já assinou o contrato para rodar um filme no ano que vem.
De heróis a vilões
No mês passado, 31 mineiros processaram o Estado chileno por negligência e exigem uma indenização de 540 mil dólares para cada um. Mais de 16 milhões de dólares. Essa atitude dividiu a população. Passaram de heróis a vilões porque processam um Estado que gastou 22 milhões de dólares para uma operação de resgate.
Também aguardam a conclusão da Promotoria para processar os donos da mina para obter outra indenização milionária. Há um ano, o Chile se unia pela vida. O resgate dos mineiros era também o resgate espiritual do orgulho chileno, abalado meses antes pelo quinto pior terremoto da História com maremoto e tsunami, mas longe ficou aquele único grito de orgulho nacional exaltava os mineiros do Chile.
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