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Comunidade judaica argentina comemora condenação do Irã por atentados na década de 1990

Os dois atentados mais sangrentos que já atingiram a Argentina voltaram a atrair as atenções, 30 anos após os acontecimentos. A Câmara Federal de Cassação Penal decidiu, nesta quinta-feira (12), que o Irã ordenou os ataques que visaram a embaixada israelita e a Associação Mútuo Israelita (Amia) na década de 1990. Os juízes também determinaram que os crimes foram executados por homens do grupo armado xiita libanês Hezbollah.

Bombeiros e policiais procuram por feridos após a explosão de uma bomba na Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em Buenos Aires, em 18 de julho de 1994. A justiça argentina determinou, em 11 de abril de 2024, que os ataques contra a embaixada de Israel em 1992 e contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994 foram ordenados pelo Irã, em uma decisão considerada "histórica" pela comunidade judaica, de acordo com a imprensa local.
Bombeiros e policiais procuram por feridos após a explosão de uma bomba na Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em Buenos Aires, em 18 de julho de 1994. A justiça argentina determinou, em 11 de abril de 2024, que os ataques contra a embaixada de Israel em 1992 e contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em 1994 foram ordenados pelo Irã, em uma decisão considerada "histórica" pela comunidade judaica, de acordo com a imprensa local. AFP - ALI BURAFI
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Para a comunidade judaica da Argentina, esta é uma decisão histórica, relata o correspondente da RFI em Buenos Aires, Théo Conscience. O país abriga o maior número de judeus na América Latina, com mais de 250 mil pessoas.

Em 17 de março de 1992, uma van cheia de explosivos dirigida por um homem-bomba colidiu com a embaixada israelense em Buenos Aires e destruiu a creche ao lado. O ataque deixou 29 mortos e 242 feridos.

Dois anos depois, em 18 de julho de 1994, foi a vez da Amia ser alvo de um atentado com carro-bomba, com um saldo de 85 mortes e e 230 feridos.

A sentença da Câmara Federal de Cassação Penal aponta o movimento xiita Hezbollah como autor do atentado, declara o Irã um “Estado terrorista” e qualifica o ataque contra a Amia como um “crime contra a humanidade”, segundo o texto, citado na imprensa.

A decisão “abre a possibilidade de uma queixa ao Tribunal Penal Internacional porque foi claramente estabelecido que o Estado Iraniano é um Estado terrorista”, disse Jorge Knoblovitz, presidente da delegação das associações judaicas argentinas.

Um atentado nunca reivindicado ou solucionado

O ataque contra a Amia nunca foi reivindicado ou solucionado, mas a Justiça argentina e Israel sempre consideraram que o Irã estava por trás da tragédia, pela qual acusavam o grupo armado xiita libanês Hezbollah. Mandados de prisão estão em vigor contra oito iranianos desde 2006.

Em 2023, o judiciário argentino solicitou um mandado de prisão internacional para quatro cidadãos libaneses, suspeitos de terem participado "de forma secundária" no ataque à Amia.

Em janeiro de 2013, a Argentina assinou um acordo com o governo iraniano para a criação de uma comissão da verdade para esclarecer os atentados, mas o Irã, que nega qualquer responsabilidade pelos atos, sempre se recusou a extraditar os suspeitos. De acordo com os investigadores argentinos, um dos mentores dos ataques foi Ahmad Vahid, um político de alto escalão que ocupou o cargo de ministro por diversas vezes.

Em sua decisão nesta quinta-feira, os juízes estabeleceram que os atentados foram motivados pela política externa do então presidente Carlos Menem (1989-1999). "Eles se originaram principalmente na decisão unilateral do governo, motivada por uma mudança na política externa de nosso país entre o final de 1991 e meados de 1992, de cancelar três contratos para o fornecimento de equipamentos e tecnologia nuclear firmados com o Irã", afirma a sentença paralela, consultada pela Agência France Presse (AFP).

Diversos procedimentos e reviravoltas

Em 2015, o ex-presidente Carlos Menem foi absolvido no julgamento sobre irregularidades na primeira investigação sobre o ataque à Amia, mas o juiz responsável pelo caso e o então chefe dos serviços de inteligência foram condenados. Eles recorreram, e a decisão de quinta-feira confirma suas sentenças reduzidas.

O julgamento ratifica que a investigação conduzida na época estava cheia de pistas falsas e armadilhas, de acordo com o jornal Pagina 12, que também aponta que as acusações novamente levantadas contra o Irã não são apoiadas por nenhuma evidência material.

O caso dos atentados já foi objeto de inúmeras investigações, julgamentos, reviravoltas e implicações políticas, como o assassinato do primeiro promotor encarregado da investigação, Carlos Nisman, em janeiro de 2015.

Milei ao lado de Israel

Este marca um novo episódio na proximidade do presidente ultraliberal Javier Milei com o judaísmo e o Estado de Israel, evidenciado por seu desejo de transferir a embaixada da Argentina para Jerusalém, que reacendeu os temores de que o país sul-americano poderia ser alvo de atentados terroristas antissemitas.

"E de onde você acha que vieram os ataques [em 1992 e 1994]? Já estamos no radar", disse Javier Milei esta semana quando perguntado sobre esse risco. "A questão é se somos covardes ou se estamos do lado do bem", insistiu ele, referindo-se à estreita aliança com Israel.

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